Carta da cadelinha Ferpe

Querida criança,

Não consigo esquecer o seu modo especial de gostar de mim. Lembro das suas lágrimas, escorrendo pelo seu rostinho lindo, mas também lembro do seu sorriso toda vez que saíamos para um passeio. Você tinha apenas dois aninhos.
Como eu cheguei na sua casa, não me lembro bem. Parece que saí de uma cidade para outra, assim como você. Seus cabelos pretinhos e encaracolados, a pele morena, com cheiro de alfazema. Você, anjinho, vivia sempre bela, muito bem cuidada. O seu jeitinho educado e meigo consolidou a nossa amizade. Eu cuidava de você e doía-me vê-la chorar.
Não sei por qual motivo chorava, mas isso acontecia algumas vezes. O seu vovô tentava consolar e você não se acalmava, até que um dia ele pegou minha coleirinha, colocou em meu pescoço e entregou em sua mão. Isso foi o suficiente para você parar de chorar e declarar ser minha dona, dizendo: "Ferpe minha". Daquele dia em diante, sempre que ouvia o seu choro, eu corria para perto de você.
Um dia, percebi muita escuridão, não ouvi mais o seu choro e nem você dizer "Ferpe minha". Sei que você sentiu a minha falta , talvez, nem lembre de mim. Eu, de você não vou esquecer.

Um latido da sua Ferpe.
Joyce Lima
Enviado por Joyce Lima em 20/06/2017
Reeditado em 20/06/2017
Código do texto: T6032857
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