Lá no Caixa-Prego

A expressão é antiga, até pra quem foi menino nos anos cinquenta. Ouvimo-la mais da boca de papai, do que de qualquer outro próximo, ou distante. Tio Antônio, talvez a tenha dito, e lá ido, mas, desmiolado, não era de dar muita explicação à gurizada. Andava quase sempre atarefado, descrente do dolce far-niente.

Nas referências mais frequentes de papai, que se podiam contar até nas mãos do Santiago, homem dos doze dedos, o velho nunca provia a exata localização, deixando tudo no ar, como se quisesse que a gente começasse a entender os rumos da vagueza. E invariavelmente Caixa-Prego se associava a lugar inexistente, algo inalcançável ou indefinido.

Tivéssemos nós sido criados nos Estados Unidos, como no Kansas de Dorothy, por exemplo, poderíamos ao menos sonhar com trilhar um dia, ou a qualquer hora, a Yellow brick road... Aliciante como era...

Mas nas nossas ainda densas matas doutrora, de seis décadas atrás, de que se pode inferir passagem de uma canção do Chico em seu Calabar, ..."onde se perdeu e se encontrou...", quem sabe, o moço do Rio e do desvario, para a compor, no Caixa Prego pensou?

Hoje papai cá não está, após cumprir bem longa caminhada mas quem sabe, nessa incansável busca, nos dá uma iluminada, assim como o martelo fere a bigorna, para nos esclarecer ao menos se o Caixa Prego fica pra cá, ou pra lá do Torna...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 16/10/2017
Reeditado em 22/03/2024
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