O Vira-lata (conto)

O vira-lata parou, ficou em alerta, farejando o ar. Lá vinha aquela chata da carrocinha. Teria de fugir de novo. Ah, como era difícil dar umas voltas pelas ruas, abanando a cauda elegantemente como aqueles outros do cinema.

Parou de lamentar. Era melhor correr ou iria parar, sim, mas no Canil da Prefeitura. Começou a fugir. E as redes atrás dele. Correu como o deus romano Mercúrio, o deus da velocidade. A necessidade põe asas nos pés!

Escondido e seguro, parou para pensar. Na verdade, no que poderia pensar um cachorro? Ah, sim, podia pensar naquele belo osso enterrado no jardim. Será que o dono da casa não vai mandar prendê-lo por enterrar seu osso em propriedade alheia?

Não conseguindo encontrá-lo, a carrocinha foi embora, na certa em busca de cães menos espertos que aquele.

Ele então saiu de seu esconderijo. Olhou em toda volta com seu olhar acostumado e, como qualquer outro vira-lata faria, voltou a vadiar.

E lá se foi pela rua, cauteloso mas determinado, dirigindo-se ao jardim onde tinha escondido, em “propriedade alheia”, o seu jantar. E a esse encontro ele não faltaria jamais. Afinal, era um cachorro vira-lata... mas de responsabilidade!