MEU AMIGO BELEZA

Beleza é um jumentinho amestrado que se tornou meu amigo. Disse, amestrado, mas na verdade não seria esse o adjetivo.

Beleza consegue desenvolver diversas habilidades, inclusive falar, sem ter sido ensinado. Além de possuir o dom de fazer coisas incríveis, o bichinho passou a colaborar comigo em várias tarefas. Muito amável, não quer ficar longe de mim nem um segundo. Ele me auxilia nas lições do colégio, carrega objetos e vem me trazer algumas ferramentas, é só eu solicitar. E os humanos ainda teimam em chamá-lo de burro.

É mesmo um prodígio, o jumento. Por esse motivo é que lhe dei o nome de Beleza.

Com sua capacidade de fazer muitas coisas que alguns humanos não conseguem, ele sobe escadas de costas, portando cargas pesadas, bate palmas, mesmo não tendo mãos, nada muito bem contra a correnteza do rio, joga futebol, assovia para mim, avisando de eventuais perigos etc.

Beleza é um admirador das artes plásticas e até já fez uma gravação de um quadro de Miró. Seu talento não tem limites. Outro dia, diante de uma pequena plateia de meninos, ele cantou Fly Me To The Moon, com os mesmos passos cadenciados de Sammy Davis Jr.

No entanto, Beleza tem uma característica contraproducente: é muito irascível. Ele se irrita muito fácil com situações que o contrariam. Dia desses provocou a maior confusão. Era uma aula intensiva de matemática. O professor fazia uma exposição sobre os números naturais. Ao final da explicação questionou os alunos. Pediu que eles respondessem qual o maior numeral de 0 a 9.

Beleza se mexeu, eriçou as orelhas e se antecipou, levantando a mão, quer dizer, a pata direita. “Eu sei, professor. É o zero!”

Ouve um reboliço pela classe. O professor teve que interferir pedindo silêncio.

“Este burro não sabe nada”, atreveu-se um dos alunos, seguido por pelo menos meia dúzia de colegas.

Enfurecido, Beleza começa a espernear e a dar coices em todas as direções.

“Eu não sou burro, seus néscios. Eu sou é um jumento. O burro é um animal híbrido, eu sou uma criatura genuína”.

Ainda apaziguando a situação, o professor se aproximou e pediu que Beleza justificasse sua resposta.

“Zero é mais valioso porque acrescentado a outro numeral multiplica seu valor por dez”.

Relativizando a justificativa de Beleza, o docente começou a bater palmas, enquanto a maioria dos alunos abaixou a cabeça desapontada.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 06/10/2019
Código do texto: T6762364
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.