Retratos da minha infância

Sou da geração que tomou banho na bacia de alumínio. Brincou de roda, Ciranda, cirandinha, caiu no poço.

Estudei à luz da lamparina, mas nem por isso esmoreci.

Fui à quitanda do Seu Satilo comprar pão, uma quarta de café. Naquela época não usávamos saquinhos, nem sacolas plásticas e conseguíamos nos virar.

Ia repetindo o tempo todo para não esquecer o que era para comprar, no entanto chegando lá sempre esquecia de algo. Quando chegava em casa sem o produto tinha que voltar por cima do mesmo rastro.

Não esqueço do famoso "vai e volta" antes desse cuspe secar. Nossa Senhora! Era um desespero.

Quando adoecia tomava injeção benzetacil, pense numa dor!

Anos mais tarde já na cidade me tornei fã de televisão que na época era preto e branco e cheia de chuviscos. Era uma noveleira de primeira.

Para fazermos uma ligação usávamos orelhões com fichas.

Ainda tomei vacina com pistola, nossa! Foi apavorante.

Quando éramos pequenos, no interior do Maranhão, o avião passava e nós gritávamos muito alto e inocentemente: Me leva avião!!!!!!

Roupa passada a ferro de brasa, nossa! Tinha medo de chegar perto daquele objeto fumegante.

Não cheguei a ter foto em binóculos, mas relembro de fotos em binóculos de parentes ao redor de caixão . Era de dar medo.

Quando a gente se ralava o remédio era o merthiolate. Ui! A gente queria o mercúrio, mas parecia que o adulto gostava de usar era o danado do merthiolate para ver se a gente aprendia a lição.

Quando uma criança ficava com a moleira baixa diziam logo que era quebranto, então tinha que levar para a rezadeira tirar o mau-olhado. Ainda tinha a história do quebranto do feio e do bonito, se fosse do feio a criança não escapava.

Relembro com muita saudade dos retratos nas paredes na casa da minha avó materna. Eram retratos desenhados e pintados, principalmente dos casais, os donos da casa.

Os meninos desde cedo aprendiam a fazer os próprios brinquedos como: cavalo de pau, carrinhos de latas de sardinha.

Água gostosa e fria era a dos potes de barro. Não me recordo de ninguém reclamar de garganta inflamada.

O creme dental que mais me marcou foi a pasta de dente Kolynos, hoje a Sorriso. O tubo da Kolynos era de metal amarelo com os nomes verdes.

A minâncora era para quem tinha suor forte e a brilhantina para os cabelos rebeldes.

Gosto de relembrar o passado, mas sempre com o pé no presente e de olho no futuro com a esperança de alcançá-lo com vida e saúde.

E você, quais suas lembranças da sua infância?

Já parou para pensar, relembrar e escrever?

Marinalva Almada
Enviado por Marinalva Almada em 11/05/2020
Reeditado em 17/03/2024
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