Longa vida ao rei...

Era um rei ruim demais. Ruim de roer. Negacionista além do mais, e do mal. E no entanto, toda vez que ele passava na rua, montado num alazão todo ajaezado e por um infindável séquito de segurança acompanhado para tomar seu caldo de cana e comer seu pastel, uma velhinha, bem velhinha, que nem ajuda emergencial ou rachadinha tinha, o saudava com irrefreável e sonora reverência...:

- Vida longa ao rei, vida longa ao rei...

E era assim na ida e na volta, até com chances às vezes para uma selfie com o ídolo. Mas o que ela fazia com gosto mesmo era a saudação efusiva e sincera. Deveras, de vera.

Até que um dia, um jornalista, estrangeiro por acaso, mas casado com um brasileiro, percebeu a intensidade da devoção daquela velhinha e, resolveu interceptá-la, ou no caso, espelhífico intercept her...

E veja só o que ele descobriu:

A velhinha em suas zapeações com os filhos os advertia: eu sempre falo com toda verve e sinceridade vida longa a esse moço...porque o avô dele que também foi rei era mau demais, e o pai então mais ainda, e ele

indo na mesma linha ainda supera o pai na malvadeza, aí vocês então imaginem, se ele vier a ser sucedido por um de seus filhos que já parecem mal-inclinados, quem é que vai aguentar... Mas mudando de assuntos filhos, será que essa vacina chega mesmo...? Eu nem me importaria de usar seringa reciclada...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 31/12/2020
Reeditado em 31/12/2020
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