MEU PORQUINHO QUE NÃO SAÍA DA LAMA

Julinha estava toda feliz. tinha acabado de chegar na fazenda para as férias tão aguardadas. iria brincar com o Barão, que é o cachorrinho mais sapeca do mundo. E também iria tomar banho no córrego e comer aqueles bolos que só a vovó Marieta sabe fazer. Nada de caderno de escola e de tarefa, Julinha agora teria todo o tempo para brincar como se o mundo fosse só dela.

Ela nem teve tempo direito de tirar a mochila das costas e os primos já foram contar a novidade: havia um novo amiguinho na fazenda. A prima Vitória colocou uma venda nos olhos de Julinha e pediu para ela confiar, que iria gostar muito da surpresa.

- Tudo bem, vamos lá! – disse Julinha, imaginando que o Barão tinha arrumado um amigo e que agora seria diversão em dobro para ela.

Desceram a escada da casa grande, que leva até o pomar. esse caminho Julinha conhece de olhos fechados, então nem foi surpresa. Andaram pelo pomar, o primo Enzo recolheu uma mexirica e colocou no bolso para a sobremesa. A cada passo Jlinha ia ficando mais curiosa. já estava quase impaciente.

- Cadê, cadê, já chegou?

- Calma, Julinha! Está quase lá! – disse a prima Vitória, com seu sotaque de menina do interior. Saíram do pomar, que aliás é o xodó do vovô Mariano. Passaram pelo paiol, pela plantação de abóbora e Julinha quase caiu, tropeçou em uma pedra grande. foi segura pelo primo Enzo.

- Que longe é esse lugar! – gritou Julinha, já sem muita calma.

Os três primos pararam de caminhar. Julinha suspirou de alívio. Já não estava mais tão empolgada. Com a ajuda da prima vitória, Julinha tirou a venda dos olhos e olhou com muita atenção. Estava no chiqueiro. Em um cantinho quase do lado de fora tinha um porquinho meio rosa, bem pequeno. Julinha foi colocada na frente dele.

- É o nosso novo mascote! O porquinho!

Julinha ficou um pouco confusa.

- Mas não é coisa de comer? – perguntou.

- Esse não, esse é para brincar – respondeu, sábia, prima Vitória.

- Ah, e pode? – perguntou Julinha, sem entender toda a situação.

- Pode, vovô Mariano disse que ele nasceu especial e que é um presente para nós, que é para cuidarmos dele como um amiguinho.

Julinha voltou a ficar empolgada. nunca tinha sido amiga de um porco. E reparou que aquele era bem fofinho. Parecia uma almofada. Ficou por um tempão olhando o porquinho, que estava dormindo na maior preguiça.

- Qual o nome dele?

- Não tem nome não! – respondeu o primo Enzo, já saboreando a mexirica, que seria para a sobremesa.

- Precisamos dar um nome a ele, porque agora é nosso amiguinho – decidiu Julinha.

Os três ficaram pensando qual nome combinaria com o animalzinho. Só sabiam nomes de cachorros: Totó, Lulu, Bob, Zeca. Porco tinha que ter nome de porco, decidiram. Era a primeira missão: batizar o novo amigo.

- Babu! Ele tem cara de Babu! – gritou Julinha, como se tivesse acabado de descobrir o mundo.

- Babu! Pronto! Ele é o nosso Babu! – concordou o primo Enzo.

A prima Vitória ficou sorrindo e balançou a cabeça, concordando. Os três ficaram se olhando e se admirando. Estavam muito confiantes. Eram amigos de um porco e ainda tinha dado a ele um nome.

Como o porquinho estava concentrado no sono e já era a hora do almoço, os primos decidiram que voltariam para a casa grande e no início da tarde retornariam para brincar com o Babu. Iriam perguntar para a vovó Marieta o que é brincadeira de porco. Só sabiam brincadeiras de cachorro e de criança. Teriam que fazer mais essa descoberta.

Na mesa, diante de tantos pratos deliciosos preparados pela vovó Marieta, os três primos estavam um pouco estranhos. Não quiseram nem tocar na bisteca de porco. Seria estranho ter um porquinho como amigo e comer os coleguinhas dele.

- Vó, por que a gente come os porquinhos? Eles são tão legais!

- Perguntou Julinha.

Vovó Marieta ficou um pouco sem graça e sem uma resposta fácil para dar à neta.

- Uai, minha querida, a gente precisa comer carne para não ficar doente e os porcos estão aí para isso.

- Mas não podemos comer o Babu, ele é nosso amigo! – respondeu a menina.

- Quem é Babu?

- O nosso porquinho – respondeu a prima Vitória.

- Ah, então já batizaram ele?

Os três primos saíram do almoço com algo na cabeça. deram um nome ao porquinho, mas para valer de verdade seria preciso batizar o bichinho, como a vovó Marieta tinha sugerido. Vovó é uma mulher muito vivida e sábia.

- Como iremos batizar o Babu? – perguntou Julinha.

- Acho que se batiza com banho de lama! – respondeu a prima Vitória.

- Então é fácil, tem um lamaçal ali do lado – concordou o primo Enzo.

Os três primos chegaram ao chiqueiro e o porquinho já tinha levantado, estava todo animado, querendo brincar.

- Podemos levar o Babu para brincar, vovô? – perguntou a prima Vitória.

- Claro, mas tomem cuidado. Ee é novinho ainda. Não deixem que ele se machuque, combinado?

- Combinado, vovô! – responderam as duas primas.

- Vovô, por que os porquinhos gostam da lama? É porque gostam de sujeira? – quis saber Julinha.

Vovô Mariano coçou o queixo e explicou:

- Não, minha filha, eles gostam de água. E gostam de lama porque isso ajuda a refrescar do calor e para proteger a pele deles.

- Ah, então é isso? – se espantou Julinha.

- Sabe o protetor solar que a gente usa quando sai no sol?

- Sei, vovô, eu passo muito! – respondeu Julinha.

- A lama é o protetor solar dos porquinhos – respondeu vovô Mariano. Agora vão brincar!

Prima Vitória e Julinha abriram a portinha do chiqueiro e resgataram Babu, que ficou todo animado com a possibilidade de dar um passeio.

Antes, porém, ele precisava ser batizado, para ter o nome de verdade. Primo Enzo levou o porquinho no colo e soltou ele, devagar, na lama. Babu parece ter entendido, pois estava gostando muito do banho de lama, que para ele era o batismo, a transformação de porco sem nome para Babu.

Já batizado e já com uma cor totalmente diferente, todo marrom, Babu parecia mais feliz. Estava bem à vontade com os novos amigos. Parecia até estar chamando para um passeio pela fazenda. Os primos entenderam e começaram a caminhar.

Babu foi atrás, todo feliz, parecendo um cachorro. Mesmo sem saber para onde iam, ele passava à frente e ia abrindo caminho no meio do mato. Às vezes ia muito à frente, de repente, parava e ficava olhando para trás, esperando os amigos.

- Vitória, parece que o Babu está nos chamando para passear!

- Disse, sorrindo Julinha.

- Então vamos lá, acho que ele quer conhecer a fazenda toda.

Os meninos tinham um lugar especial: um barranco, de onde podiam ver lá longe. mas do lado dele, tinha se formado uma grande poça de lama. tinha chovido na noite anterior. Para Babu foi como se tivesse chegado ao paraíso. Babu era só alegria e acabou contagiando o grupo.

Julinha sentou-se no barranco e ficou olhando o pomar e o córrego. Primo Enzo e Babu ficaram brincando na lama. O porquinho estava com uma energia de cachorro labrador.

Parece que queria mostrar a eles que estava muito satisfeito em ter novos amigos e um nome. Se sentia importante agora, era um bicho de estimação. E estava louco para viver uma vida bem divertida, iria aprontar todas.

- Parece que o Babu está querendo nos agradecer! – observou a prima Vitória.

- É mesmo! Olha só que fofo ele é! – respondeu Julinha.

Babu parecia entender cada palavra e tentava retribuir o carinho com sua alegria. E gostava também de colocar o focinho no calcanhar dos primos. Era um jeito de beijar, de abraçar, um jeito de mostrar seu amor pelos amigos.

Por mais de uma hora ninguém falou nada. Só brincaram, se divertiram na lagoa de lama, ao lado barranco. Ali Julinha aprendeu uma lição muito importante: que a amizade às vezes não precisa de palavras, precisa só de companhia, de saber que se pode contar com o outro. Assim é com os animais, que nem precisam ficar conversando para fazer amizade.

Depois de toda a brincadeira e diversão, Julinha ficou pensativa e parecia triste. a prima vitória percebeu:

- Está triste prima?

- Não, só estou pensando aqui. Não quero que o Babu morra!

- A vovó disse que ele vai viver uns 15 anos, até ficar bem velhinho.

- Sério? Ele não vai morrer logo então? Você jura? – perguntou Julinha.

- Juro, sem cruzar os dedinhos.

Feliz com a descoberta que Babu ia viver muito tempo ainda, Julinha saiu correndo:

- Eu sou mais rápida que vocês!

Os primos passaram a correr, como se estivessem numa corrida de verdade, valendo dinheiro. Mas não contavam com a velocidade de Babu, que ultrapassou Julinha e foi o primeiro a chegar. Ele parecia se sentir um campeão mundial, um tipo especial de porco.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 08/04/2022
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