BETINHO E LUÍSA 05 – POR QUE A LUA NÃO CAI NA TERRA?

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É noite de lua cheia e o céu está incrivelmente lindo. A pracinha do bairro está lotada, está tendo festa de barraquinha, com aquele tanto de comida gostosa.

- É a melhor época do ano, sem dúvida! – brinca Betinho, abrindo uma pamonha de doce com queijo, sua preferida.

Ao seu lado está um grupo de amigos: Paulinho, Bianca e Luísa, que é sua companheira de explorações no mundo da Física.

- Você tem o olho maior do que a barriga, Betinho – zomba Luísa.

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Nos últimos dias de festa acontece a quadrilha, que é a dança típica caipira. Betinho não é um bom dançarino, mas arrisca uns passos. Luísa, toda serelepe, é uma das dançarinas mais animadas sempre.

- Desta vez não vou dançar com você, não, Betinho. Você pisa no meu pé – diz ela.

- Azar o seu, vai perder o melhor par da festa – responde Betinho.

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Nesse clima de brincadeira e provocação, os quatro amigos vão olhar as outras barraquinhas. Tem de tudo: pescaria, artesanato e até um touro mecânico, para os mais animados.

- A lua hoje caprichou, hein? Está linda, pena que meu celular não consegue fazer uma foto boa dela – lamenta Luísa.

- Imagina que doido seria se um dia a lua cair na Terra... – brincou Paulinho.

- Mas isso nunca vai acontecer! – grita Betinho.

- Como você sabe? Tem bola de cristal, agora? – responde Paulinho.

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Luísa, que está saboreando um picolé de morango, franze a testa e aproveita para jogar mais lenha na fogueira:

- Responde a ele, Betinho. E se uma nação alienígena bem poderosa derrubar a lua e ela cair em cima de nós – brinca Luísa, claramente para perturbar Betinho.

- Até você?! Sua cientista de araque! – provoca Betinho.

- Com esse tanto de galáxias aí, Betinho, pode ter coisa que você, do alto de seus 10 anos, não saiba... – Luísa foi cruel agora.

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A discussão vai só aumentando. A cada argumento sério e com base em livros de Betinho, há uns quatro de zombaria dos outros três amigos, mais para provoca-lo, para vê-lo ficar vermelho e se exaltar.

- Vocês já ouviram falar na força gravitacional? – quer saber Betinho, para ganhar a discussão.

- Eu já! – responde Luísa, como de costume fazendo graça.

- Resumindo: a Terra atrai a lua e lua atrai a Terra, com uma determinada força, mas nenhum dos dois vai cair. Basicamente é isso.

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- Que decepção, Betinho, só isso? – é a vez de Paulinho provocar o amigo.

- Você não iria entender, é só uma criança que gosta de brincar de carrinho – pega pesado Betinho.

- Falou o adulto de dez anos! Aliás, o cientista que vai ganhar o prêmio Nobel brincando de feira de ciências! – devolve Paulinho.

O clima começou a ficar pesado. Luísa, usando seu charme, trata de quebrar o gelo:

- Quem quer maçã do amor?

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Todos riem da mudança de direção que Luísa propõe. E sim, todos queriam maçã do amor. Esquecem a discussão sobre a queda ou não da lua e vão até a barraca do Tineca comprar aquelas maçãs cobertas em caramelo.

Com os ânimos mais calmos, Luísa vira para Betinho e sugere:

- Acho que já temos o tema do nosso próximo vídeo...

- Sobre o por que a lua não cai? – confirma Betinho.

- Isso, mas também é uma oportunidade para explicarmos sobre a lei da gravidade.

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Betinho adora quando Luísa fala a sério sobre ciência. Mas ela tem seu estilo próprio. Ela leva a sério a Física, mas também leva a sério o humor, o seu jeito de zombar de tudo, de ser sapeca.

- A gente prepara algo amanhã no laboratório, pode ser? – propõem Betinho.

Luísa concorda e dispara na sua bicicleta, de volta para casa. A lua pode não cair, mas o mundo vai cair, com certeza, se ela não estiver às 20h dentro da sua residência.

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Dia seguinte, sábado, pela manhã. Betinho e Luísa se encontram no laboratório. Eles têm uma missão: explicar a gravidade e mostrar os motivos que fazem com que a lua não caia.

- Betinho, você é um pesquisador muito bom, te admiro, mas você precisa ser menos sério às vezes – cobra Luísa.

- E você menos brincalhona quando o assunto é sério...

- Relaxa, dá para fazer as duas coisas: fazer ciência e se divertir. Fica muito melhor, vai por mim – diz Luísa, dessa vez sem zombar dele.

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- Acho que para ilustrar melhor, vou me fantasiar de Isaac Newton, já que o conceito é dele – sugere Betinho, vestindo um jaleco branco e colocando uma peruca comprida e grisalha.

- Vai ficar mais engraçado se você colocar uma maçã na boca – brinca Luísa.

- Engraçadinha!

- Tem que começar com o Paulinho te questionando o por que a lua não cai. Acho que fica maneiro – sugere Luísa.

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Fica combinado que Paulinho terá um papel no vídeo.

- Será um figurante – faz questão de lembrar Betinho.

- Figurante não tem fala. Será um ator coadjuvante. Com uma fala só, uma escada para os astros, que somos nós, brilharmos, haha – se diverte Luísa.

- A dificuldade, Luísa, é explicar com linguagem simples algo tão complicado, que é a lei da gravitação universal, do Newton.

- Que nada, a gente tira de letra!

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- Vai fazer assim: você pega um monte de laranjas e começa a jogá-las para cima, umas mais baixas, outras mais altas, igual aquele povo que fica fazendo malabarismo no semáforo. Enquanto isso eu, a estrela, vou explicando o que é gravidade, por que os objetos caem – propõe Luísa.

- Aí o desafio é explicar o por que a laranja cai e a lua não cai – confirma Betinho.

- Aí é com o gênio, o futuro ganhador do Nobel – brinca Luísa.

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- Como um futuro cientista respeitado no mundo todo vou dizer que a velocidade da lua – sim, ela está em movimento -, é tangencial. Ou seja, roda em círculos ao redor da Terra. Mas ela não se aproxima ou se afasta, ela faz voltas, porque tanto a massa da lua como a da Terra se atraem, como forças gravitacionais. Resumindo: fica cada uma no seu quadrado, no caso delas, no seu círculo. Expliquei bem?

- Até o Paulinho entenderia sua explicação, professor Betinho – brinca Luísa.

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- Aí, como bônus, vamos explicar que a mesma lógica da lua vale para os satélites que são lançados.

- Perfeito! Aí já vai ficando mais claro, Betinho. Meus parabéns! E desta vez é de verdade – diz Luísa.

- Obrigado, vou colocar num quadro esse elogio.

- Bobo! Os satélites lançados por aqueles foguetes super rápidos, ficam num lugar, que podemos chamar de região, fora da atmosfera da Terra, e ficam numa velocidade que permite com que eles façam movimentos eternamente ao redor do planeta. Igual a lua. Louco isso, né? – completou Luísa.

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A explicação sobre a lua e os mistérios que fazem com que ela não caia sobre a Terra é bem-feita por Betinho e Luísa.

- Luísa, acho que seria interessante se a gente colocasse no nosso trabalho algumas curiosidades sobre a lua, para que todos possam se interessar mais, que acha? – quer saber Betinho.

- Tipo o que?

- Tipo o tamanho, a distância da terra, coisas assim – responde Betinho.

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Decidem que a ideia é boa. E começam a sugerir algumas informações para serem incluídas no vídeo.

- Olha essa: se a lua fosse uma bola de tênis, a Terra seria uma bola de basquete. Acho que dá para fazer uma comparação boa sobre o tamanho da Terra e da lua – diz Luísa.

- Gostei! Eu tenho uma bola de tênis, o difícil é encontrar uma bola de basquete – responde Betinho.

- Muito fácil. Euzinha aqui, com meu charme, consigo lá na escola.

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- Outra curiosidade que podemos usar é que a nossa lua é apenas uma entre mais de 150 outras que existem no sistema solar, que os outros planetas também possuem suas luas e alguns têm muitas delas – diz Betinho.

- Mas a nossa é a mais bonita, a mais romântica, ela é especial – diz Luísa, suspirando.

- Para os poetas e apaixonados sim. Para a ciência, não. Ela é a quinta maior lua, isso é bom! – responde Betinho.

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- Se o Paulinho estivesse aqui estaria perguntando: e as outras, será que caem? – brinca Betinho.

- Enquanto uma lua qualquer do universo não cair, o Paulinho não vai ficar feliz – continua Luísa.

- Ele gosta de ver astros celestes caindo. Acho que o Paulinho vive no mundo da lua – zomba Betinho.

- Boa, Betinho, você agora é um comediante, é? Quando ganhar o Nobel, vai fazer piadinhas no seu discurso? – brinca Luísa.

- Por que não? - devolve Betinho.

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- Claro que teremos que falar também sobre a ida do homem à lua, para ficar mais completo. Pelo menos citar – diz Luísa.

- É possível que o Paulinho não acredite que o homem foi à lua...

- Ou que alguém caiu de lá na Terra, ele gosta disso – gargalha Luísa.

- Já é bullying, Luísa! – diz Betinho, mas rindo da situação.

- Acabei de ter uma grande ideia, Betinho, uma grande ideia!

- E qual é? – quer saber Betinho.

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Luísa faz mistério, faz charme, faz pausa dramática, dá umas voltas pelo laboratório, pega uma caneta, morde a ponta, franze a testa e diz:

- Serei a primeira mulher a ir à lua!

- Como assim, menina, já foram lá, acabamos de dizer isso – responde Betinho.

- Não, não. Os homens foram, as mulheres ainda não. E eu serei a que vai dar um pequeno passo de salto alto para uma mulher, mas um grande passo para as mulheres do mundo – disse, citando a fala do primeiro astronauta, Neil Armstrong, a pisar no solo da lua.

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- Tá viajando, Luísa, agora você que está no mundo da lua, mas de forma figurada, claro – brinca Betinho.

- Estarei mesmo no mundo da lua, mas de verdade. Quem sabe seja no mesmo dia que você vai ganhar o seu Nobel. Vou ganhar todas as manchetes e estragar sua festa – ri Luísa.

- Acha mais importante subir num foguete e pisar na lua do que ser reconhecido pela comunidade científica do mundo por seus feitos na Física? – quer saber Betinho.

- Claro, e vou te dizer o motivo – responde Luísa.

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Betinho fica meio decepcionado e espera a resposta da amiga.

Luísa faz de novo seu número artístico, mas desta vez com menos drama.

- Me responde, sr. Inteligente, quantas pessoas até agora ganharam o prêmio Nobel e quantas foram à lua...

- Olhando por esse lado... – começa a responder Betinho.

- Não há outro lado para olhar, Betinho. Admita: serei mais famosa que você, ponto final.

- Veremos, veremos – não desiste Betinho.

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Mais tarde, eles voltam ao laboratório e iniciam a filmagem do vídeo. Luísa chega com uma bola de basquete, como prometeu. Betinho traz a sua bolinha de tênis.

Eles montam as duas bolas numa espécie de prateleira improvisada e começam a explicar as curiosidades da lua.

Aí acontece o inesperado: a bola de tênis, que simboliza a lua, cai no chão.

Os dois caem na gargalhada:

- Acho que o Paulinho iria gostar se estivesse aqui. Enfim, a lua caiu! – brinca Betinho.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 18/05/2022
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