Era uma vez…

Quando eu era criança todas as histórias começavam com o indefectível “era uma vez”, se passavam num “reino distante”, quase sempre tinham por personagem principal uma “linda princesa” e terminavam com o famoso “e viveram felizes pra sempre” ou com o simplório “fim”. Todas, menos as histórias que meu pai contava, as quais, apesar de também iniciarem pelo “era uma vez”, se passavam em ambientes conhecidos dos ouvintes, o personagem principal era alguém da plateia, facilmente identificável, o qual era enaltecido ou gozado, e, no seu ápice, tinha sempre um final inusitado, com uma vaca soltando um “pum”. Tentarei imitá-lo:

Era uma vez, em uma terra bem longe do mar, uma linda menininha, loirinha, esperta e muito sapeca. Essa menininha tinha um irmão, igualmente bonito, mas um tanto bonachão. Eles moravam com seus pais numa casa que parecia um castelo de tão bonita, tinha um quintal bem grande, com várias galinhas, perus, pavões e gansos, além de muitos pássaros e inúmeras árvores frutíferas, inclusive uma amoreira, e a menininha todo dia ia lá comer amoras.

Um dia a menininha estava embaixo da amoreira quando seu irmão chegou e notou que ela estava chorando e então começou a conversar com ela:

- Por que você está chorando, minha amada irmã?

- Porque já comi todas as amoras que estavam nos galhos baixos e não alcanço os mais altos, para comer mais.

- Então eu irei sacudir os galhos de cima e você colhe as amoras que caírem e nós dividiremos.

A menininha assentiu prontamente e seu irmão começou a balançar os galhos altos e as amoras maduras começaram a cair. Mas a menininha em vez de colher as amoras e guardá-las para reparti-las com ele, as comia à medida que as apanhava do chão.

O irmão, percebendo o que se passava, tentou alertá-la de que era necessário lavar as amoras antes de comê-las, pois as aves também gostavam de comer as amoras caídas e costumavam ficar por ali, de modo que deveria ter muita sujeira das aves pelo chão. Mas a menina não lhe deu ouvidos e continuou comendo as amoras do chão, até que, sem perceber, pegou um cocô de ganso e o estava levando à boca, quando, de repente, escutou-se um poderoso MUUUUUUÚ. Era a vaca Vitória, que chegou bem perto, soltou um PUM e acabou a história.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 17/02/2023
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