O sapo desencantado

Do encanto ao beijo, do sapo ao príncipe,

parou certo sapo seu sonho na poesia

recolhendo em cada carícia esquecida

o doce perfume do coro de hosanas,

e nos transformismos eternos a dúvida

que desafia descobrir o sabor das ânsias.

Mas o sapo curvado ao passado onde

pegadas do sonho são areia ventada,

caminha seu destino sem recobrar esperança,

sem saber o que quer... oxalá soubesse

querer o impossível pelo que enlouquecer.

Aquele beijo que lhe desvelou o segredo,

apressou o porvir e afogou o mistério

no pântano outrora fauno parceiro.

Oh, tanto quis ser de novo aquele sapo,

como a dama una sereia, a verdade uma ilusão,

a lágrima uma canção, o orvalho um afago...

Quis recuperar seu sonho de amar a magia,

de enfeitar sua espera encantada. Mas não!,

jamais metamorfose com direito a sonho.

Irreverente destino concluso à mão fechada,

findou sua parceria com rouxinol amoroso

e naquele pedaço de céu espremido

atrás da colina de surpresas,

inalando aroma de sândalo,

ganhou o sapo o poder plebeu

para não mais sonhar.

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 18/01/2008
Reeditado em 18/01/2008
Código do texto: T822297