Carta para a madrinha

Querida madrinha Sônia Ortega,

Há muito queria escrever-lhe, mas os meninos desta casa não liberavam-me o computador. Foi preciso eu chorar e espernear para darem-me uma canja!

Primeiro quero dizer-lhe que sinto muitas saudades de seu abraço, quando na despedida, apertou-me ao colo e desejou-me felicidades! Quero dizer-lhe também que estou feliz onde moro. Minha mãe cuida bem de mim. Dá-me colo, dá-me carinho, leva-me para passear no sítio da vovó Mercês e na casa de suas amigas.

Quando vem gente nova aqui, ela sempre me apresenta: - “Esta é a Popo Chan, presente de minha amiga Sônia que mora no Japão”. As pessoas me pegam e dizem que eu sou linda! Fico toda contente! Sempre me tiram fotos e já ganhei até lindos poemas da grande poetisa, Hull de la Fuente, que mora em Brasília e escreve no Recanto das Letras! Minha prima, Maria Teresa, já leu a poesia para as crianças de sua escola. Elas gostaram e bateram muitas palmas. Agora elas querem me conhecer, mas minha mãe tem medo de que elas me machuquem de tanto apertar!

Aqui em casa eu brinco muito com meus irmãos e irmãzinhas. Tenho ao todo dezoito irmãos. Uns serão doados, porque tem muita menina que ainda não tem filhinha. Minha mãe fica com pena e vai selecionando quem cuidará direitinho de minhas irmãs e irmãos. Só assim ela arrumará os papéis para adoção. Criança que deixa a bonequinha jogada pelo chão, ela não deixa levar, não!

Eu tenho um irmãozinho que é dorminhoco. Ele dorme noite e dia. Tenho também três irmãozinhos que são famosos. Eles são personagens de histórias infantis lindíssimas: A Bonequinha Preta, a Pituchinha e o Bonequinho Doce. Eu tenho uma irmãzinha que é a mais velha da turma e se chama Maria de Lourdes. Ela tem 58 anos. Minha mãe tem muito ciúme dela e a deixa em quarto separado. Disse que ela está doentinha e vai levá-la para um hospital especializado em bonecas para restaurar-lhe a cabecinha.

Tenho uma outra irmã que é portuguesa. Ela está numa felicidade que só vendo! Ficou sabendo que vem passear aqui em nossa casa, um casal de Portugal: a Malu e o Miguel. Ela está preparando uma surpresa para eles: está ensaiando uma canção portuguesa. Se é surpresa, eu não devo contar nem para a senhora., senão perde a graça, né?

Já aprendi muitas palavras em português. Tem uma pequenininha que eles falam muito assim, sem mais nem menos, e eu ainda não entendi o sentido: uai! A senhora sabe para me dizer o que significa? Dizem que é coisa de mineiro! Outra coisa de mineiros que eu já percebi é que são muito desconfiados. Minha mãe sempre vem aqui no quarto para ver se eu estou bem comportada! Pode?

Minha mãe sempre fala em vocês todos. Conta caso do Lucas e do João para o netinho dela, o Thales Maia. Ele presta atenção e acha muito bonito.

Às vezes, minha mãe viaja para longe e não me leva. Eu fico aqui no quarto com vontade de ver alguém, fico com vontade de chegar na janela para ver o cachorrinho que late na rua. A Bonequinha Preta me aconselha a não fazer isso. Uma vez ela pulou para ver o gatinho e caiu na rua bem na cesta de alfaces do verdureiro. O gatinho deu um bote, pegou-a pela boca e levou-a embora. A dona dela chorou muito e foi preciso do verdureiro buscá-la na casa do gatinho que morava muito longe. O Bonequinho Doce também pede-me para ficar quietinha e não fugir. O irmãozinho dele fugiu e caiu na lagoa. Derreteu-se todo.

Tirei foto com minha família para mandar-lhe, mas faltou a Pituchinha que está passeando na casa de umas crianças conhecidas da mamãe. Faltou também a Maria de Lourdes que está acamada. Depois tiro com elas e envio-lhe também.

Que dia a senhora, o Beto e os meninos vêm me ver? Fico aqui, com saudades, esperando.

Um beijo de sua afilhada Popo Chan.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 05/04/2008
Reeditado em 06/04/2008
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