MENINOS DA ROÇA

Cap. XII



_ Vocês dois! Não vão esquecer o meu cantil por aí. E tenham cuidado pra não se aproximar da casa do polonês.

A última advertência provocou um frêmito nas costas de Menina.

 Ao chegarem ao tronco, viram que o fogo, além do túnel, fizera dois buracos na parte de cima do mesmo. Os meninos entraram pelo túnel e ficaram admirados com a largura do jequitibá. Menina e o irmão andaram alguns metros pelo interior do tronco. Zico foi muito além dela. Ele se divertia metendo a cabeça pelos buracos da parte superior. Ela observava a brincadeira do irmão, cujo rosto cor de romã, foi ficando cada vez mais escurecido pelo carvão. Olhando pra própria roupa, percebeu que estava toda suja. Se sua mãe a visse iria brigar por isto também, preocupada, chamou o irmão pra sair dali. Quando saíram à luz do sol, pareciam dois carvoeiros, estavam irreconhecíveis. Zico gargalhava por causa da aparência da irmã.

_ “Moço”, você parece um cachorro branco e preto. Tá muito engraçado.

Menina olhou pra ele e falou:

- Você também! Você parece o saci. Tá todo preto.

Ao ouvir isso, ele parou de rir. Olhou pra todos os lados e ficou sério. Menina não continuou. Sabia que o irmão tinha medo do saci. A avó dissera aos dois que quando uma pessoa anda pelos matos, deve levar consigo pedaços de fumo. Porque se o saci aparecer ele vai pedir fumo para o cachimbo. Se a pessoa não tiver, ele se vinga transformando-a em bicho ou em árvore. Na dúvida, até Menina preferia não falar no saci. Ela tinha certeza de que quando se pensa ou se fala em seres fantásticos, eles aparecem. Seria melhor pensar em outra coisa.

_ Sabe o que a gente podia fazer agora? - Perguntou ela.

_ O quê?

_ O tio Antônio tá olhando a gente lá de longe. Vamos aproveitar pra ver a casa do polonês? 

Continua... 

Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 14/05/2008
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