OI! Olá! Tudo bem?

A sala era pequena, do tamanho de um quarto comum, nele havia duas portas, uma de frente para a outra, em cima da primeira estava escrito entrada e da segunda saída. No outro lado da salinha uma mesa como as que ficam em escritórios, em cima dela um pequeno bloco de papel, um lápis e um telefone que parecia ser de brinquedo, pois nunca havia tocado em todos os anos que ali estava. Atrás da mesa uma cadeira confortável, acolchoada e, na parede atrás de tudo isso uma janela sem cortinas, ideal para apreciar a paisagem, se houvesse alguma, pois dali só se via um muro de tijolos, à apenas alguns centímetros da janela. Sentado na confortável cadeira ficava um homem, pronto para cumprir seu trabalho, que era simples, cumprimentar a todos que passassem por aquelas portas.

O expediente começa, as portas abrem e fecham, abrem e fecham, abrem e fecham, “oi”, “olá”, “oi tudo bem?”, e assim por diante o dia todo, todos os dias. Todos os dias a mesma coisa. Cada pessoa que entrava era uma nova pessoa, elas nunca se repetiam, homem, mulheres, gordos, magros, pretos, brancos, algumas vezes pretos e brancos, ali ele via de tudo.

Certo dia algo fora do comum aconteceu, não era algo raro, só fora do comum. Uma das várias pessoas que por ali passam pela sala resolveu parar e conversar.

- Oi! – Falou o visitante.

- Ola, tudo bem? – Respondeu nosso amigo automaticamente.

- Na sua mesa não tem seu nome, qual é ele?

- Ele o que?

- Seu nome? – Disse um pouco impaciente.

- Não sei... – Ele nunca havia tido tempo para pensar nisso.

- Estranho... – Ele não pensava muito, isso era verdade, mas agora era uma boa hora para matar um pouco de sua curiosidade.

- Talvez... E você, tem nome?

- Tenho sim, me chamo Nathanael. – Falou com um grande sorriso nos lábios.

- E o que te levou a passar por aqui?

- Bem eu tenho que chegar do outro lado. – Parecia tão obvio. – Você nunca saiu daqui?

- Acho que já. – Respondeu com serias duvidas.

- Bem... – Olhou para baixo, mas quando foi completar sua frase ouviu um som agudo como o de uma sirene. – Não posso ficar mais...

- Tudo bem.

- Certo... – Começou a andar até a porta. – Tchau então.

- Tchau. – Acenou para a visita.

Mais uma vez sozinho na sala, logo entraria outra pessoa, e tudo começaria de novo. Seus olhos caíram sobre a porta da esquerda, a palavra “saída” piscava, não lembrava que ela piscava. Lentamente se levantou de sua cadeira e caminhou até a porta antes que outra pessoa entrasse.

A maçaneta girou, e a porta foi aberta com uma ansiedade tremenda, a luz vinda de fora ofuscou sua vista, mas não parou de caminhar. Um pé após o outro já estava do outro lado, ali devia ser mágico, tão cheio de luz. Mas assim que seus olhos começaram a se acostumar nosso amigo ouviu um barulho, era o telefone que estava tocando lá dentro da sala.

Isso nunca havia acontecido, em todo o tempo que podia se lembrar, então correu como nunca, a distancia era pouca, mas não havia se dado conta desse detalhe. A freada foi brusca, esbarrou com toda velocidade na mesa fazendo o telefone cair no chão produzindo um alto barulho, desesperado se jogou até onde o aparelho estava para atender a ligação sem notar que a porta era fechada a suas costas por alguma coisa.

- Alô? – Sem resposta. – Alôoo? – Ele olha para o telefone e o coloca novamente no gancho encima da mesa, neste instante a porta se abre.

- Algo errado? – Pergunta o homem engravatado que acabou de entrar.

- Acho que não...

- Mas você não acabou de tentar sair?

- Sim, mas eu achei que... – Interrompido.

- Algo está errado? Você não tem tudo que precisa? Nós não te damos tudo que você precisa?

- Sim... Eu acho, não sei.

- Não sabe? Venha comigo. – O engravatado colocou sua mão no ombro de nosso amigo e o levou em frente à janela. – Veja!

- Sim...

- Olhe essa vista! Você ainda tem do que reclamar?

- Eu reclamei?

- Esse é o espírito! Sempre em frente! – Novamente a sirene preenche a sala. – Sei que está tudo bem agora, mas vou dar algo para você.

O homem pega debaixo da mesa uma grande caixa e a coloca logo em frente à cadeira, em seguida sai pela porta escrito “entrada”.

Novamente sentado, novamente sorrindo, e mais uma vez o expediente começa, “oi”, “olá”, “tudo bem?”.

Nota: Esse é um conto ilustrado, e eu acho que sem as ilustrações ele fica incompleto, mas espero que gostem mesmo assim.