Os Últimos Dias - Ato VIII - O Julgamento de Durio

A Praça do Julgamento é onde eram realizados os atos públicos que condenavam ou absolviam os prisioneiros de guerra e criminosos de Narun. Havia pelo menos dez juizes magistrados de Yius responsáveis pelos julgamentos em toda a cidade, mas a maior autoridade era sem dúvida Octo Rightness, um paladino da justiça. E seria ele quem iria conduzir o julgamento de Durio.

Phaélius já a muito havia desaparecido atrás da Montanha Branca, e uma sombra fria cobria todo o horizonte. O vento soprava com força quando Hector finalmente chegou, exausto, com Uri ainda inconsciente sobre os ombros. De longe podia ver a praça lotada e ouvir os urros do povo pedindo a morte do taverneiro. Com um gesto firme, Octo pediu o silêncio, sendo prontamente atendido. Ele iria dar o veredicto.

- Que o peso da justiça de Yius recaia sobre este criminoso e que seu nome seja esquecido. Que este crime envergonhe sua família para todo o sempre nesta vida e na próxima.Fiat Justi...

- Não! - berrou Hector esbaforido, abrindo caminho por entre os populares.- Ele não é oculpado vossa Excelência.

- O que está dizendo, jovem? - perguntou o paladino empertigando-se. Todos os olhares da multidão se voltaram para Taylor e o seu acompanhante desacordado sobre os ombros. Os rumores tomaram conta de toda a praça conforme Hector se aproximava ainda mais do palanque onde Durio era mantido amarrado pelas mãos e pés. - Quem é você que interrompe um julgamento público? - perguntou Octo.

- Sou Hector Taylor, soldado da nação e este aqui é um dos culpados - disse soltando o corpo de Uri que caiu pesadamente de encontro às pedras da praça - Ele é cúmplice da assassina. Foram eles, e não Durio, que mataram Ivan.

- Pode provar isso? - perguntou o paladino incrédulo, olhando de soslaio para o sujeito desmaiado no chão e voltando sua atenção para Hector.

- Sim eu estava presente no dia do crime Posso lhe contar tudo em detalhes mas por favor, escute-me antes de julgar um inocente.

- Claro que farei isso soldado! Qualquer dúvida quanto à autoria do crime deve ser avaliada. A justiça deve ser aplicada com maestria, e nunca levianamente. Conte-me então exatamente tudo o que se passou desde o momento em que o crime ocorreu na Taverna do Grifo.

Hector passou então a relatar todo o ocorrido desde que presenciou a estranha cena na Taverna, até o combate com o irmão da criminosa na casa de Samara. Octo ouviu tudo com atenção, não interrompendo o lento raciocínio do soldado em nenhum momento. Após quase uma hora de falatório ininterrupto, onde Hector não esqueceu de mencionar sequer os cafés que havia tomado, finalmente ele chegara na parte conclusiva, instantes antes do julgamento de Durio.

- Por isso não o matei senhor. Mas confesso que estive muito tentado a isso...

- Fez bem em poupá-lo soldado, apenas o júri tem o poder sobre a vida e a morte.

- Se possivel - era Hector - queria ter notícias de Samara pois ela é igualmente importante neste caso.

- Pedi que os soldados verificassem o endereço que você indicou durante a sua narrativa. Encontramos o corpo da jovem. Infelizmente ela não resistiu.

- Entendo. É mesmo uma pena.

Sob as ordens do paladino, dois outros guerreiros de Yius colocaram Uri à ferros, arrastando-o através da praça em direção a prisão. Desperto de sua inconsciência, o assassino voltou seus olhos em direção ao soldado que arruinara seus planos, e gravou em sua mente cada detalhe da feição de seu novo inimigo jurado. Haveria de conquistar a vingança um dia. Seria esse sentimento que o manteria vivo no Fosso dos Criminosos até o dia de espiar seus crimes.

- Daqui em diante deixo em suas mãos - disse Hector auxiliando Octo que libertava Durio no mesmo instante.

- Gostaria de agradecer seu auxílio, Hector - falou o magistrado visivelmente feliz com o fim do engano.

- Se não fosse por sua intervenção, provavelmente eu teria cometido um grande engano.

- Eu também só tenho que demonstrar minha gratidão - falou Durio com as lágrimas vertendo dos olhos mareados pela emoção.

- Fico feliz em poder ajudar.

- E eu ficarei feliz em recompensá-lo, em seu tempo. - falou o paladino apertanto enérgicamente a mão do soldado. Com um aceno, Hector fez menção em retornar ao seu posto de guarda, mas foi impedido por Octo que lhe deu instruções de descançar por aquela noite. Pela manhã receberia uma nova incumbência. E um novo caminho para servir ao reino. Deixaria de ser apenas um guarda, passando a lutar em nome de Deanor, como um legítimo Guerreiro.

O próprio Octo permaneceu por mais algum tempo na praça de execução. Redigiu o perdão a Durio de próprio punho, e antes de retirar-se, ficou até tarde orando ao Grande Juiz como forma de penitência. Por muito pouco, não havia condenado a morte um homem inocente. A noite avançou alheia a tudo o que ocorria sobre o mundo, e a barca celeste de Lantaris cruzou lentamente os céus. Aquele dia havia sido um marco na história tanto de Hector quanto de toda a nação de Deanor, e mudaria o destino de Meliny para sempre.

Era uma prova de que o Destino nem sempre era sábio.

Armageddon
Enviado por Armageddon em 14/07/2008
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