Memórias de um cão

“Memórias de um cão”

José Carlos Aparecido Magri

-Quanta coisa mudou por aqui! Alegou Bily.

-Há uns sete anos atrás eu era supremo. Era adorado pela minha dona. Nossa, como eu era cativado. Quanto carinho, quanto assédio.Também era apenas um bebezinho.E vocês sabem que tudo quando é novo é especial e depois que cresce... Chegou um determinado dia, trouxeram para cá o Pitbul Bruck, deram toda a atenção para ele. Grandão, forte o cão mais temido do País. Grande coisa, se ele bobear eu lhe mordo. Assim fiz por algumas vezes, sendo que numa delas fui parar no veterinário, mais um pouquinho estaria debaixo da terra. Você achou que seria devorado pelos urubus, dançou neném, pois sou um cachorro chique. Queria Ter outra oportunidade, mas sabe como é , meus donos me deixam presos dentro da casa, eu acho que eles temem pela integridade física, e pelo que pode acontecer com este tal de Pitbul...

-Um pouco mais tarde trouxeram, a Aninha. Olhem só quiseram colocar um nome estranho na pobre da cachorrinha, mas ainda bem que o tal nome não colou. A aninha era uma cachorrinha da minha raça, branquinha, que ao correr parecia uma bolota de algodão , sendo impulsionada pelo vento. Em pouco tempo nos tornamos grandes amigos. Acho que meus donos queriam aumentar a família, mas a Aninha não fazia meu tipo. Bem que ela se esforçou, mas não deu certo. Como odeio a mania que ela tem de chupar a ponta das minhas orelhas. Nunca perdi a paciência , afinal sou um cão cavalheiro. E quando chega o tal do Zé, chamado pela dona Cláudia de Zelão, a cachorrinha puxa tanto o saco dele que quase arranca sua calça, cachorra exagerada. Puxa saco...

-Que pena que não inventaram banheiro para cachorros. Fazer se o que, naquelas horas de aperto escolho um pé de mesa, uma sacolinha de supermercado ou um pano qualquer esquecido no chão. E no sofá, quando ninguém esta olhando subo nele e me descarrego. Às vezes aparece um chinelo, que de tão forte que é jogado não consigo enxergar sua marca. E quando uma vassoura , roça meus pelos sedosos, e o medo me domina, e antes mesmo de saber quem jogou, busco socorro debaixo de uma cama de preferência a cama da Cláudia, que é bem grande e ninguém consegue me pegar. Vocês conhecem aquela frase: “Mas vale um covarde vivo do que um herói morto”.

-Mas nem tudo é violência. Tenho meus garotos protetores. O Bruno e o Lulu, quando eles vão para a escola fico na maior torcida para que voltem logo, afinal de contas também tenho coração, sinto saudades minha gente.

-E a Nona, ainda a mordo , vive querendo me bater. Um dia ainda apresenta uma queixa na sociedade protetora dos animais. E o Tio Zinho, gente boa, mas acho que ele não gosta de cachorro. Mas é o maior prazer acompanhá-lo até a porta de saída da casa aos latidos. Fiquem tranquilos amigos é somente uma brincadeirinha, acharam que iria mordê-lo.

-Olhem só , agora divido meu palácio com mais ou mais ou menos onze gatos, ainda bem que eles são meus amigos, senão botava os para correr. Acho que entenderam que a sua classe é a mais fraca por aqui. E aqueles dois cães, pelo nome Urso e Leão , vocês vão achar que são enormes, pois bem , acertaram. Parecem o urso da propaganda daquele refrigerante famoso. Agora acho que estou em apuros, pois são um Pitibul de nome Kilindo , porque o Bruck faleceu de uma doença grave e Dois Pastores. Se resolver encarar os três ,antes vou contratar um plano funerário dos bons, por que sei que é morte na certa. Sei entender meu limite.

Não bastava tudo o já vivido aqui neste palácio, agora a Bruna arranjou dois ratos, chamam por outro nome, mas eu com meu jeitão de caipira não sei nem pronunciar. Os danadinhos ficam o dia inteiro comendo, brincando de rodar aquele brinquedinho. Acham que a vida é somente aquilo, ao contrário de mim que fico o dia inteiro protegendo a casa de possível invasão. Ah se aqueles ratinhos saírem aqui fora vou meter-lhes os dentes. Não me confundam com sanguinário, assassino , é somente a lei da sobrevivência.

Olhem só o que fizeram comigo. Eu era peludo , bonito, charmoso, agora cortaram meus pelos, quero dizer me tosaram, muito chique. Mas agora me pareço com um cão da alta sociedade. A única coisa que não é boa é escutar as reclamações das pulgas que moravam nos meus pelos, ficaram desalojadas. Falaram que vão reclamar no Procon das pulgas.

Mais o que vale que a vida é bela.

Um abraço a vocês.

escritor caboclo
Enviado por escritor caboclo em 17/07/2008
Código do texto: T1085116
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