O Natal do menino das formigas

É antevéspera de Natal... O grande pinheiro no quintal de nossa casa está cheio de cores e anjos de prata que balançam ao vento.

O espírito de Natal insinua-se nos olhos de quem observa o jacarandá mimoso que joga suas flores na calçada, formando um tapete e lembrando a divina criação.

Sim se aproxima a festa máxima da cristandade. Sentimo-la na calma da rua com seus enfeites natalinos, no rosto das pessoas que se reúnem e confraternizam felizes, uns com mais,outros com menos mas todos reverenciando o nascimento de um menino com toda a sua grandeza. É a festa e a alegria do nascimento do Salvador que magicamente faz com que queiramos renascer de novo para uma vida nova, sem preconceitos , livres da violência e do desamor. Um menino que milagrosamente faz com que queiramos ser mais humanos, mais cristãos... Que queiramos ser como Jesus de Nazaré.

Há vidas que partem calando fundo, deixando lugares vazios às mesas e machucando, pela certeza de suas ausências. Mas também há gente nova que chega e ocupa novos lugares, reconfortando nossa caminhada.

Da minha janela observo o menino das formigas que passa... É uma vida nova que se achega à minha casa. Não veio hoje brincar com as suas formigas, no canteiro de flores. Leva consigo uma sacola cheia e corre miudinho, sobre o tapete de flores azuladas, que cobrem a calçada de pedra. No outro braço, o menino das formigas leva um embrulho. Chamo-o, na minha curiosidade. Também quero dar-lhe um presente. Volta-se e seus olhinhos têm um brilho intenso. Parecem os anjos de prata do meu pinheiro . Mostra-me as bolas coloridas, os fios de prata e ouro. Vai armar a sua arvorezinha de Natal. Seus olhos mostram a determinação de que precisa fazê-lo.

Disse-me quase num sussurro, que ia fazer a árvore mais linda que seu maninho já vira e que a mamãe quando chegasse ia ajudá-lo. Perguntei onde estava sua mamãe e respondeu-me:

__ Está no trabalho.

Era magricelinha e comprido e ao olhá-lo sentia-se a estranha sensação de que lhe faltava algo, como se fosse parte do seu ser.

Enquanto armava um gracioso pinheirinho na minha sala de trabalho, vi-o voltar carregando duas minúsculas latinhas e acocorar-se próximo ao canteiro. Sem medo, suas mãozinhas raquíticas colocaram uma a uma as formigas vermelhas e brilhantes nos recipientes e depois colocou a pedra no canteiro das flores.

___ Por que você trouxe duas latinhas? – perguntei-lhe.

___ Uma é para o meu irmãozinho. Amanhã é Natal e ele vai chegar e então vamos brincar de soldadinho de formigas.

___ Ah! Que interessante... Quero aprender essa brincadeira.

Ficou em silêncio a recolher o batalhão com os dedinhos longos e ressequidos.

___ Seu irmãozinho brinca sempre com você?

___ Não. Agora não brinca mais. Ele brincava muito. Nós dois chegamos no Natal de presente pra mamãe. Depois o Walace adoeceu e foi pra junto do menino Jesus que ia cuidar dele. Mas agora ele vai voltar, Jesus vai mandar ele pelo Papai Noel. Eu pedi numa cartinha e coloquei na arvorezinha. Mamãe disse que quando a gente é bonzinho, Jesus sempre atende nossos pedidos.

Não consegui mais falar, senti a voz embargada... Pobre menininho que procurava o outro como a completude do seu pequenino ser.

Pensei na magia do Natal que faz brotar esperanças até mesmo no espírito inocente dos pequeninos como Welinton, o menininho das formigas.

E Welinton seguiu feliz com suas latinhas de formigas para esperar Walace que num Natal como aquele havia chegado com ele.

Sim é Natal... Que Deus abençoe e conforte os sofridos coraçõezinhos de todos os pequenos, como o menino das formigas, que brinca na minha calçada...

Dezembro de 2005.

Eliza Fernandes
Enviado por Eliza Fernandes em 25/02/2006
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