"A Batalha de Fogo" cap. 13 - "A Ala da Cura"

Darla nao sabia onde ficava os aposentos de mestre gili, na verdade nem sabia exatamente quem era o homem, só sabia que foi ele quem curou Bóreas, quando este foi envenenado por vens, por isso achava que ele devia ser algum curandeiro.

Seguiu outros soldados, que pareciam saber onde o gili ficava, e no caminho subiram por uma grande torre, onde havia várias salas e numa delas darla pode ver, por entre uma fresta da porta, o cartógrafo Ariaus Plemancof, o homem que assistiu a ela e finiti treinando combate uma vez na sala das armas. O homem estava debruçado sobre alguma coisa na mesa, ela não sabia se ele estava lendo ou escrevendo, mas parecia excitado e resmungava de si para si.

- hum, ai esta ele.- murmurou Bóreas ao lado de darla.

- o que foi?- perguntou a moça.

- esse cartógrafo, não me inspira confiança,- respondeu ele.- quando eu estava aqui sempre o via por ai, carregando papéis com ares suspeitos, sempre bisbilhotando, se irritando quando alguém lhe interrompia. Não sei, realmente não me cheira bem.

Darla não comentou, se lembrou de que finiti tambem havia lhe dito que Plemancof era um homem suspeito que estava sempre ouvindo conversas e tentando descobrir segredos.

Um longo corredor se abriu no fim da escada, não havia nada nele, nem quadros, nem estatuas nem armaduras, tinha as paredes brancas e seguia direto para uma grande porta.

- chegamos,- falou Bóreas.- a Ala da Cura.

Devargar eles entraram na sala, que no fim não era exatamente uma sala, era um imenso espaço cheio de camas baixas com lençóis brancos, havia muitos armários cheios de vidros com cremes de cores estranhas, muitas folhas de plantas, toalhas e liquidos esverdeados.

Num canto um senhor que já aparentava quase cem anos, falava com uma mulher, ambos debruçados sobre uma cama:

- não se preocupe querida Margarete, ele ficará bem, só passe a pomada todos os dias e o machucado fechará.

- esta bem mestre gili, - respondeu a mulher que parecia ter chorado muito.- e voce mocinho nunca mais pegue a enchada e vá dar uma de jardineiro, ouviu?

- hum...- gemeu um garotinho que estava na cama, o pé com um corte feio.

- agora vamos.- disse ela e o ajudou a levantar e pulando num pé só o menino foi embora.

Mestre Gili então viu o grupo que esteve parado a porta e sorriu.

Seus sorriso era bondoso e deixava seu rosto muito enrrugado um pouco mais jovem, já estava muito baixinho e curvado, tinha os cabelos brancos muito ralos e olhos negros muito brilhantes.

- ora, os heróis de Eleon,- falou ele e sua voz era baixa mas alegre.- vamos entrem meus jovens, entrem. O que há com voces?

- nada sério Mestre Gili.- falou Bóreas com uma grande reverencia.- só alguns machucadinhos de guerra.

Darla olhou para o homem ao seu lado e achou que a palavra “machucadinhus” não foi muito bem colocada, o homem tinha um ferimento do lado esquerdo que sangrava muito, ela achou que ele estava prestes a desmaiar. E alguns de seus homens tambem tinham ferimentos sérios.

- muito bem, deitem-se todos.- mandou Mestre Gili e foi até um armário e apanhou um grande vidro com uma pasta amarela.- isso vai ajudar a todos.

E saiu passando a pasta em todos, feridos ou não.

O homem com o ferimento do lado estava branco como giz e tinha no rosto uma expressão de agonia, mas no momento em que o Mestre passou a pasta em seu machucado ele soltou um suspiro de alivio seu rosto melhorou levemente. Todos pareciam melhor depois da podamada, mais aliviados e relaxados. E quando Mestre Gili passou a pomada nos arranhões de darla ela soube porque.

A pasta, fosse o que fosse, tinha um aroma suave que fazia a pessoa relaxar, era morna e fazia as dores passarem na hora, era como estar num banho.

- muito bem guerreiros,- disse Mestre Gili, depois de passar a pomada em todos.- agora descansem.

E obedecendo a suas ordens todos cairam em sono profundo e sem sonhos no mesmo instante.

Darla acordou e sentiu-se nova em folha como se nunca tivesse ido pra guerra ou coisa qualquer. A Ala da Cura era maravilhosamente silenciosa, não se ouvia nem o vento que entrava pelas grandes janelas; Darla olhou para o lado e viu que todos ainda dormiam, alguns até roncavam e suspiravam, como crianças cansadas.

Mestre Gili estava sentado numa mesa ao canto, ao lado de uma janela, não estava fazendo nada, apenas observava a todos dormirem. Darla levantou-se e foi até ele, e foi ai então que reparou que dormiu de armadura e tudo.

- já acordou senhorita? Sugiro que durma mais.- disse ele bondosamente.

- talvez mais tarde, não estou com sono agora.- respondeu darla sentando-se numa cama em frente a mesa do Mestre.- aqui é realmente gostoso, sem nenhum barulho.

- sim, é o lugar mais calmo do palacio.- disse Mestre Gili olhando a volta.- mas nem sempre foi assim.

- não?- perguntou darla tentando imaginar o local de outra forma.

- não. Há tempos, ainda me lembro como se fosse ontem, toda essa ala, a começar da escada da torre, era cheia de pessoas feridas.- respondeu o Mestre.- não era silenciosa e tranquila, era cheia de gritos, gemidos e lamurias de agonia, as pessoas morriam por todos os lados e quanto mais tentavamos curar mais feridos apareciam. Houve uma época, no auge da guerra, em que precisamos pegar mais tres alas para dar conta de tudo, e não havia apenas soldados, havia tambem moradores das redondezas, gente inocente, crianças, mulheres, jovens, velhos, todos...não havia idade ou sexo naquela época, o mal era implacavel.

- o senhor esta falando da época de Tereone?- perguntou darla.

- sim minha jovem,- respondeu Gili sacudindo lentamente a cabeça branca.- dias terriveis aqueles e acho que agora os verei de novo.

O queixo de darla caiu.

- o senhor esta dizendo que esteva aqui na época de Terione? Mas não foi a séculos?

- a cinco séculos senhorita.- respondeu o ancião sorrindo com o espanto de darla.- as coisas aqui em Eleon duram bastante. Rsrs.

- é, eu notei.- disse darla ainda olhando de boca aberta para Gili.- mas o senhor acha que as coisas podem voltar a ser como antes?

- talvez minha querida, talvez.- respondeu ele pensativo.- as coisas não andam boas aqui em Eleon, já recebi uns cem feridos na ultima semana, e isso não é nada bom. Não tenho um numero assim de pacientes desde a queda da Imperatriz.

- a queda da Imperatriz?- perguntou darla.

- sim, quando nossa amada imperatriz, Finiti primeira, e sua comitivia, foram atacados por vens, quando faziam uma viagem até as terras de Atlantida, para fechar negócios com o rei Atlas.

- ah, então foi assim que ela morreu!- exclamou darla, até o momento ninguem havia contado como a mãe de finiti havia morrido.- deve ter sido horrivel!

- horrivel? Não, foi pior.- respondeu Mestre Gili e seus olhos pararam de brilhar, ele parecia viajar em sua memória.- homens chegaram gritando e correndo, traziam uns trezentos soldados feridos, o veneno já avançava, as bocas espumavam, os olhos cheios de teia e lacrimejando, a pele já esverdeando... de dar arrepios. Porem, o pior de tudo foi quando a pequena finiti entrou correndo: chorava como louca, toda vermelha, os cabelos pareciam feitos de fios de fogo. Me agarrou pela cintura e falou: “salve ela Mestre, não deixe ela morrer...por favor...ela não!”.

“Então o rei Amintor entrou carregando a esposa nos braços, tambem chorava e soluçava, não disse nada, apenas a deitou numa cama. A imperatriz era identica a filha, porem, os olhos loucamente verdes estavam completamente embaçados, uma pus amarelada escorria por eles, a boca estava escancarada e cheia de espuma, a pele branca já não tinha mais cor definida. Então o rei se virou para mim, caiu de jeolhos e praticamente implorou, entre lagrimas e soluços desenfreados:

“- por tudo, por tudo que é mais sagrado, não a deixe ir Mestre...nao a deixe ir. Minha coroa a voce se salvar minha amada, nada nesse mundo fará sentindo ou importará sem ela. Meu reino por minha amada, Mestre!”

- mas o senhor não conseguiu salva-la nãe é mesmo?- perguntou darla e tambem tinha vontade de chorar.

- não, não consegui.- respondeu Mestre Gili, e uma lágrima escorreu por seu rosto cansado.- meu maior fracasso. Mas o veneno que usaram nela foi um totalmente diferente dos outros, mais forte e cruel, acho que sabiam que o veneno de sempre não iria mata-la.E até hoje ainda não achei uma cura para ele. Mas em todo caso, ela já estava quase morta quando chegou aqui, mas tambem acho que o tempo não a teria salvo.

Mas foi de dilacerar o coração, quando virei-me para o rei, eu tambem chorava, não consegui dizer nada, apenas balancei a cabeça. Então o rei gritou, o grito de dor mais cruel que já se ouviu, todos choraram, até mesmo os feridos choraram e a pequena princesa ficou em estado de choque, não chorou, não gritou, apenas ficou olhando para mãe, como se fosse impossivel acreditar que ela estivesse morta.

E foi daí que surgiu toda essa raiva que a princesa trás, toda essa arrogancia, toda essa dureza... foi o golpe mais duro de sua vida, acho que consegue imaginar, não? Uma garotinha de dez anos, que amava a mae mais que tudo, que a admirava e idolatrava como a melhor de todas as mulheres... mas de repente a mãe chega naquelas situações e morre, bem na sua frente. Não me admira que ela tenha ficado meio dura depois disso e que tenha tanta sede de batalha, ela ainda deseja vingança, acabar com toda a raça que a fez sofrer por todos esses anos.”

- sim, faz sentido, acho que qualquer um iria querer isso.- disse darla olhando para o chão, e de repente pode entender finiti e seu jeito durão de ser.- mas acho que dessa vez as coisas não deram muito certo não é mesmo? Infelizmente perdemos Bordas de Fogo.

- sim, perdemos...- suspirou mestre Gili.- mas veja, o amor pode ser o mais belo e mais traiçueiro de todos os sentimentos. A princesa finiti, não muito acostumada ao amor, se entregou completamente a sua paixão pelo cavaleiro Bóreas, porém, se esqueceu do amor que a motivou a ir até a guerra, se esqueceu por um momento do amor de que foi privada, e isso custou a perda da cidade e um numero grande de inimigos bem na porta da Cidade Imperial.

- mas e agora mestre, o que devemos fazer?- perguntou darla.

O ancião a olhou nos olhos, pareceu refletir por um momento e então sorriu de novo.

- acho que devemos fazer a mesma coisa que fizemos da primeira vez senhorita, devemos lutar. A guerra pode trazer perdas inimaginaveis, mas no final, alguem sempre ganha e alguem fica feliz novamente.

Darla pensou.

- sim, é verdade, mas e se nós perdemos?

- ai então seremos todos felizes do outro lado.- respondeu Mestre Gili.

- que lado?

- o outro lado do céu, onde ficam todos aqueles que se foram.- disse Gili.- aqueles que foram bons e se foram.

- ah...

- agora sugiro que vá se deitar novamente mocinha.- disse o Mestre.- sendo voce quem é, acho que ainda terá que trabalhar muito.

- é tem razão.- disse darla e estava a caminho de sua cama quando de repente se lembrou de uma coisa e se voltou para o mestre.- mestre....?

- sim querida?

- o senhor acha que a guerra tambem pode trazer amor?

- é claro que sim.- respondeu o Mestre e sorriu.- Amintor e Finiti se conheceram na guerra e se amaram loucamente, e veja Finiti e Bóreas agora...a guerra separa, mas tambem uni como nenhuma outra coisa.

- hum... e se uma pessoa boa se apaixonar por uma má e vice e versa?

- bem ai somente o destino pode responder a esta pergunta.- respondeu Mestre Gili.- um coração negro pode se iluminar, um coração iluminado pode escurecer ou a magia do amor pode não acontecer.

Darla não respondeu, voltou para sua cama e ficou refletindo antes de dormir: “ aquilo que sentiu quando viu Ferilam pode ter sido amor?”

“- sua luz não pode cegar meus olhos.

- oh não? Mas vejo que o amor pode, e é isso que seu coraçãozinho devaz mais deseja.

- esta enganado.

- então por que seus olhos brilharam ao me ver?”

“Será que foi amor?”

Não chegou a uma conclusão antes de adormecer novamente.

****************CONTINUA***************************

postem seus comentários.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 27/10/2008
Código do texto: T1250705