"ERA UMA VEZ TRÊS BRUXAS" Autor: Flávio Cavalcante

Era uma vez...

3 bruxas...

Peça teatral infanto-juvenil

De

Flávio Cavalcante.

ROLL DOS PERSONAGENS

MELINDA

ZOLNA

EFRIN

NARRADOR (Oculto).

SINOPSE NARRADA

Era uma vez... Três bruxas... Melinda... Zolna e Efrin... Mas não são bruxas apavorantes como mostram algumas ilustrações de livros e filmes de terror. O objetivo dessa história é mostrar para os jovens que temem lendas desse tipo, que não passa da imaginação fértil de cada um.

É uma história passada com três bruxas, que moram num castelo antigo e depauperado, por causa das condições financeira que elas estão passando e revoltadas comigo, o autor dessa história, por causa da situação em que elas se encontram. Será que eu devo modificar a história, atendendo assim, as lamúrias dos meus personagens? O interessante é que uma delas está se apaixonando por mim... (Transição). Quem já se viu?! Um personagem apaixonado pelo autor?! É, mas vamos ver o que vai acontecer do decorrer da história. Na realidade, histórias de bruxas eu sempre achei interessante! Isto não quer dizer que eu acredite nelas... Às vezes eu chego até me perguntar... Será que realmente, existem bruxas?

(Em cena está a Melinda, vendo através de uma bola de cristal. O Cenário é o interior de um castelo antigo, com muita teia de aranha um enorme caldeirão, uma mesa com uma bola de cristal em cima e alguns quadros velhos na parede, mostrando os familiares das bruxas).

MELINDA

(Com raiva). É claro que existe, seu idiota!

ZOLNA

(Entra em cena). Está falando sozinha, minha mãe?

MELINDA

(Se surpreende). Quem... Eu? (Dá uma gargalhada).

ZOLNA

Claro! Existe alguém aqui, que não seja eu e a senhora?

MELINDA

(Séria). Claro, que não!

ZOLNA

E com quem a senhora estava falando?

MELINDA

(Querendo se sair). Com ninguém!

ZOLNA

Não queira me enganar! Afinal, eu também sou uma bruxa, esqueceu?

MELINDA

Zolna, deixe de ser travessa! Não é correto se meter nos assuntos particulares dos outros! E além do mais, eu sou sua mãe! Quem já se viu? Uma bruxa de minha idade, está dando trela para uma bruxinha, que nem tirou a catinga do mijo!

ZOLNA

Também não é assim, dona Melinda! Eu sou uma bruxa muito esperta e a senhora sabe muito bem disso...

MELINDA

Você é muito chata, isso é o que você é!

ZOLNA

Minha mãe, de uns tempos pra cá, eu não sei o porquê, mas eu estou lhe achando muito diferente!

MELINDA

(Dá uma gargalhada). É claro que eu sou diferente! Veja o tamanho do meu nariz! As minhas mãos, não tem nada à ver com as mãozinhas delicadas das pessoas comuns...

ZOLNA

Eu não estou falando diferente desse jeito! Do jeito que a senhora falou, eu também sou...

MELINDA

Então deixe de tá conversando o que não deve, que eu tenho muito mais o que fazer! (Transição). Cadê Efrin que não chega...

ZOLNA

Não mude de assunto! É falta de educação!

MELINDA

(Encarando). Você quer parar com isso, Zolna?

ZOLNA

(Decidida). Não...

MELINDA

(Espantada). O que? Diga de novo!

ZOLNA

Eu já disse que eu não vou parar...

MELINDA

(Puxa pelos cabelos). Menina chata... Você já passou das contas...

ZOLNA

(Aos berros).Me solte! Ai, tá doendo... (Se sai). Mas a senhora não me falou, com quem estava falando!

MELINDA

(Irritada). Ai, que raiva... Ai, que raiva...

ZOLNA

Não sei porque tanta raiva! Só basta me dizer com quem a senhora estava falando e pronto!

MELINDA

(Irritada). Desapareça daqui, Zolna! Antes que eu tome uma atitude mais drástica!

ZOLNA

Eu não vou sair daqui!

MELINDA

Você vai sair sim...

ZOLNA

(Reagindo). Eu não vou!

MELINDA

Pra lhe castigar, eu vou lhe transformar num sapo!

ZOLNA

Não tenho medo nenhum! Seu poderes não funcionam mesmo!

MELINDA

(Decepcionada). Minha própria filha...

ZOLNA

E queria que funcionasse, era? A senhora não pagou a anuidade na associação dos poderes bruxais...

MELINDA

(Surpresa). Com você sabe disso?

ZOLNA

Pra senhora ver que eu não sou tão burra como se pensa!

MELINDA

Se você não disser agora mesmo quem falou, você vai ficar de castigo!

ZOLNA

Eu não tenho mais idade para ficar de castigo! Isso fica para Efrim, que é uma pirralha, que além de não fazer nada, fica atormentando o juízo de todo morador daqui, e a senhora sabe disso...

MELINDA

Não fale assim de sua irmã!

ZOLNA

Tá bom! Eu vou dizer quem me falou! (Transição). Agora, só com uma condição!

MELINDA

Pois diga logo! Qual a condição?

ZOLNA

Se a senhora me disser com quem estava falando!

MELINDA

Tá bom, eu falo!

ZOLNA

Quem me falou, foi o lobisomem...

MELINDA

Aquele peludo horroroso, está se metendo muito na minha vida particular! Já não bastam minhas filhas?! (Transição). Deixe só eu recuperar os meus poderes, que ele vai ver só...

ZOLNA

Não adianta! Quem contou pra ele, foi a sua filhinha do coração...

MELINDA

(Escandalizada). Quem?! Efrin?!

ZOLNA

A própria!

MELINDA

Onde ela está? Vou dar umas chineladas, pra ela nunca mais se meter nos assuntos das pessoas mais velhas!

ZOLNA

E vai adiantar alguma coisa? Minha mãe, morcego que dorme de noite e de cabeça pra cima, não dar pra o serviço...

MELINDA

Mas comigo ela vai ter que melhorar! (Anda pensativa. Transição). Já sei!

ZOLNA

O que foi?

MELINDA

Nunca mais eu vou fazer bife de rato de porão, com aranha à milanesa!

ZOLNA

Eu não tinha pensado nisso! É o prato que ela mais gosta!

MELINDA

(Revoltada). Quem já se viu, está falando da própria mae!?

ZOLNA

(Transição). Ah, sim! O conde Drácula me perguntou se a senhora aceitava casar com ele! Ele falou que esta a sua disposição!

MELINDA

Nem pensar!

ZOLNA

Eu não acredito, que a senhora não vai aceitar! Mamãe, a gente só não tá pedindo esmolas porque não tem um saco! E a senhora ainda fica com pose de rica, recatada e orgulhosa... Não dá pra acreditar!

MELINDA

O problema é que ele está querendo outra coisa...

ZOLNA

Eu seu que ele sempre foi apaixonado pela senhora! (Transição). Dona Melinda, é a hora e a vez da senhora mudar a sua vida! Já pensou? Dona Melinda uma condessa?

MELINDA

(De salto). Chega, Zolna! O fato é que eu não gosto dele! Aquelas presas que ele tem, me dá cócegas...

ZOLDA

Não vai me dizer que não gosta das mordidinhas dele!?

MELINDA

(Repreende). Olhe o respeito!

ZOLNA

Eu sei que a senhora está apaixonada por alguém! Está na sua cara! Eu já venho notando isso! Tem alguma coisa à ver com a pessoa que a senhora estava conversando, através da bola de cristal?

MELINDA

(Se saindo). Mas que pergunta idiota!

ZOLNA

Pela maneira de falar, não precisa me dizer mais nada! Tá na cara que tem!

MELINDA

Mas que bruxinha infernizante!

ZOLNA

Dona Melinda, a senhora está apaixonada!

MELINDA

(Repreende). Que apaixonada, menina? Deixe de dizer asneiras! Eu lá tenho idade para estar apaixonada?

ZOLNA

E quem foi que disse que pra amar tem que ter idade? Um bom exemplo é a sua mãe que é a minha avó, quando casou com o seu pai, que é o meu avô, era quatrocentos anos mais velha que ele...

MELINDA

Sabe que você tem razão?

ZOLNA

Agora! Eu espero que esta pessoa que a senhora está apaixona, tenha muito dinheiro pra tirar a gente dessa miséria em que vivemos!

MELINDA

Mas ele não precisa ter dinheiro pra tirar a gente dessa miséria...

ZOLNA

Ah, ele é magico?

MELINDA

Não...

ZOLNA

É bruxo?

MELINDA

Também não...

ZOLNA

E por que tanto segredo?

MELINDA

Porque ele não faz parte da nossa família!

ZOLNA

Ah, então deixe eu advinhar esta pessoa tão maravilhosa! (Pensativa). Se ele é capaz de tirar a gente da miséria, não precisa ter dinheiro, não é bruxo e nem é mágico, só pode ser... (Transição). Realmente eu não sei!

MELINDA

Zolna, minha filha! Só ele pode ser a solução dos nossos problemas!

ZOLNA

Ai, minha mãe! A senhora está me deixando nervosa! Quem é está pessoa que a senhora fala com tanto entusiasmo?

MELINDA

Minha filha, eu vou lhe contar uma coisa, que parece maluquice! Eu descobri que nós não somos pessoas comuns... Somos personagens, eu já falei isso pra vocês naquele dia, lembra?

ZOLNA

Lembro sim... (Transição). Espere aí... Quer dizer que a pessoa que a senhora estava falando aí, é o autor?!...

MELINDA

Ele mesmo...

ZOLNA

O autor de nossa história? (Transição entusiasmada). Que coisa emocionante! Como é o rosto dele? Fala... Ele é bonito?

MELINDA

(Suspirando forte e pensativa). Ah, minha filha! A minha maior tristeza, é não ter visto o rosto dele! (Transição). Mas que a voz dele é um encanto, isso é!

ZOLNA

(Séria). Como é que uma pessoa pode se apaixonar por alguém que não conhece? (Transição). Minha mãe, vê se acorda, não é? A senhora está apaixonada por alguém que não está nem aí pra gente!

MELINDA

Por que, minha filha?

ZOLNA

Ora, dona Melinda! Se somos frutos da imaginação dele, por que estamos nessa miséria?

MELINDA

Não fale assim, Zolna!

ZOLNA

(Com raiva). Falo sim! Se ele nos criou, bem que ele poderia mudar o nosso quadro!

MELINDA

Mas minha filha... Entenda! Ele é responsável pelo nosso destino!

ZOLNA

Por isso mesmo... (A campainha toca como um grito de terror).

MELINDA

Deve ser a Efrin!

ZOLNA

Pode deixar, que mesmo vou lá ver quem é! (Faz menção que vai sair).

MELINDA

(De salto). Espere!

ZOLNA

O que?

MELINDA

Pode ser cobrança! Efrin, não precisa tocar a campainha!

ZOLNA

Eu não tinha pensado nisso!

MELINDA

Temos que estar preparadas para estas surpresas!

ZOLNA

Mas a gente não pode estar se escondendo o tempo todo! Temos que encarar a realidade!

MELINDA

Encarar?! (Transição). E se for polícia? Já pensou? A língua desses monstros vizinhos nossos o que não ia dizer? E também, não é elegante, uma bruxa da alta sociedade como eu, por trás das grades, por causa de débito, não é?

ZOLNA

É, nisso a senhora tem razão!

MELINHA

Olhe... A campainha parou de tocar! Isto quer dizer que não era cobrança! Quem costuma fazer isso é o correio, quando vem trazer alguma correspondência!

ZOLNA

Isso não pode ficar assim...

MELINDA

Não pode não, já está assim...

ZOLNA

Culpa do seu queridinho apaixonado!

MELINDA

Ah, como eu queria que meus poderes funcionassem agora! Só assim, ele ia ver quem é Melinda!

ZOLNA

Agora é tarde!

MELINDA

Nada é tarde quando uma bruxa resolve ser esperta!

ZOLNA

Dona Melinda! Deixe de ilusão!

MELINDA

Ilusão? Ele vai ver só! Vou tentar mais uma vez, pra ver se essa droga de poderes funciona!

ZOLNA

Sem pagar a associação? Eu acho muito difícil!

MELINDA

Não custa nada tentar...

ZOLNA

Pois tente!

MELINDA

(Pensativa). Deixe eu ver se ainda me lembro! (Transição). Abra cadabra... (Transição). Me esqueci do resto! Zolna, vá buscar o meu livro de bruxaria!

ZOLNA

Não sei pra que!

MELINDA

Deixe de exclamações, menina e vá logo!

ZOLNA

Tá bom, tá bom... (Sai de cena).

MELINDA

Enquanto ela não chegar, eu vou ver consigo! Eu tenho que mostrar pra ele que nós estamos vivas... Que nós existimos, não porque ele quer! (Dá uma gargalhada). Abra cadabra... (Outra gargalhada. Transição decepcionada). Ora, não funcionou!

ZOLNA

(Entra com o livro). E eu falei pra senhora, que não ia funcionar! Olhe aqui o livro... (Entrega o livro). Não vai resolver mesmo!

MELINDA

Deixe de ser pessimista, Zolna! Talvez se eu fizer a coisa como manda o figurino, eu consiga alguma coisa!

ZOLNA

Como?

MELINDA

Lendo o livro, ora! (Abre o livro). Agora eu vou conseguir!

ZOLNA

Finalmente, qual é o objetivo dessa magia, minha mãe?

MELINDA

Provar para o nosso autor, que existimos, não porque ele quer...

ZOLNA

Ora, dona Melinda... Por favor!

MELINDA

Ele não acredita que nós existimos!

ZOLNA

E como a senhora sabe disso?

MELINDA

Eu ouvi através da bola de cristal... Na hora que você chegou!

ZOLNA

Espere aí! Com tanta experiência que a senhora tem, ficar ouvindo bobagem!?

MELINDA

Pode até parecer bobagem... Mas se conseguirmos provar pra ele, que nós existimos, talvez ele mude a história e daí, sairemos dessa miséria!

ZOLNA

Impossível! Como faremos isto?

MELINDA

Já que nossos poderes não funcionam, podemos pensar em outro jeito!

ZOLNA

Tem algum jeito em vista?

MELINDA

Não...

ZOLNA

Então, nada feito!

MELINDA

Você não deixou nem eu pensar...

ZOLNA

Sem poderes? Sei não...

MELINDA

Eu sei que você tem razão! Mas tem que existir outra saída...

ZOLNA

A única saída que estou vendo no momento, é o seu casamento com o vampiro!

MELINDA

(De salto). Nem pensar! Eu já lhe falei que isso, nunca!

ZOLNA

É a única solução! (Transição). A senhora sabe muito bem, que ele é muito rico... Pense bem! Já pensou?! A gente ser como era antes? Os nossos poderes recuperados... (Transição). Isso é maravilhoso!

MELINDA

Não sei o que dizer... (Transição). Mas eu não gosto de trair os meus sentimentos...

ZOLNA

Que sentimentos? Já viu bruxa com sentimentos, minha mãe?

MELINDA

Mas eu tenho!

ZOLNA

Mamãe, acorde, tá? Não está vendo que este romance entre a senhora e o autor de nossa história, nunca vai dar certo? (Transição). E tem mais... A gente nem conhece ele...

MELINDA

Pela voz, já imagino como ele deve ser...

ZOLNA

Sabe o que eu acho?

MELINDA

Diga!

ZOLNA

Eu acho que os seus tempo de bruxa, já estão chegando ao fim! Por mim, a senhora já devia ir preparando a documentação, para dar entrada na receita fedorenta das bruxas... O que acha?

MELINDA

(De salto). O que? (Transição). Só se for pra gente morrer mais depressa ainda! E o que é pior, de fome! Com essa miséria que o governo está pagando as bruxas aposentadas... Prefiro pedir esmolas!

ZOLNA

É verdade! A gente trabalha tanto pra nada!

MELINDA

E também eu não estou tão velha assim, para se aposentar!

ZOLNA

Eu acho que tá sim... Então eu vou lhe botar num abrigo de bruxas velhas!

MELINDA

(Decepcionada). É assim que você vê a sua mãe, é? Tanto trabalho que eu tive pra criar duas pestinhas, que depois de crescidas, querem me jogar num abrigo de bruxas velhas!

ZOLNA

A senhora sabe que eu estou brincando! (Transição). Mas também pare com essa ilusão de tentar se comunicar com o autor de nossa história, que ele é uma pessoa comum, não é fruto de imaginação!

MELINDA

Zolna, cheguei a conclusão que você tem razão, minha filha! Vou aceitar aquele vampiro horroroso...

ZOLNA

(Vibra de alegria). Fico muito feliz por isto! É chegado o momento se sairmos desta pobreza!

MELINDA

Eu quero um casamento bem fúnebre!

ZOLNA

Como assim?

MELINDA

Ora, bruxinha infernizante! Como o da sua avó, é claro! Quero todos os trovões desabando o céu, com nuvens negras e pesadas... (Solta uma gargalhada e a sonoplastia libera sons de trovões).

ZOLNA

Que tal também... Relâmpagos rasgando as trevas, deixando uma apavorante réstia luminosa.... (Gargalhadas. A sonoplastia e a iluminação continuam com os efeitos de relâmpagos e trovões. Entra a Efrin apavorada).

EFRIN

(Gritando). Mamãe... Mamãe...

MELINDA

Efrin! Pare com isso! Você atrapalhou a nossa concentração...

EFRIN

Ele quer me pegar!

ZOLNA

Ele quem?

EFRIN

O lobinho! Aquele moleque irritante! Ai, eu odeio ele...

MELINDA

E o que ele fez com você?

EFRIN

Comigo nada!

MELINDA

E por que essa gritaria, Efrin?

EFRIN

(Rindo). Eu que fiz com ele...

MELINDA

(Repreendendo). Efrin! Você quer arrumar mais confusão pra sua mãe, é?

ZOLNA

A gente já tem problemas demais! Eu sabia que ela ia aprontar alguma coisa! Tava demorando demais...

MELINDA

O que foi que você fez com o filho do lobisomem, Efrin?

EFRIN

Quebrei os dentes dele todinho... Eu dei um murro nele!

MELINDA

(Escandalizada). Você fez o que?!

EFRIN

Foi só uma brincadeirinha de bom gosto...

ZOLNA

Isto é pra senhora ver a pestinha que ela é! Quando eu falo, ninguém acredita!

EFRIN

(Irritada). Tá vendo só? Me chamou de pestinha! Ai, que raiva...

MELINDA

Vocês duas não se unem mesmo!

EFRIN

Ela me chamou de pestinha!

ZOLNA

Mentira!

EFRIN

Me chamou de mentirosa também! Mentirosa é você, sua bruxa feia e sem graça!

MELINDA

(Dando um basta). Parem com esta confusão!

ZOLNA

Ela começou primeiro!

EFRIN

Mentira, foi ela...

ZOLNA

Foi ela...

EFRIN

Não foi...

ZOLNA

Não acredite nessa pestinha, minha mãe!

EFRIN

Tá vendo só? Me chamou de pestinha de novo!

MELINDA

(Grita desesperada). Ahhhh... Vocês querem me deixar louca...

EFRIN

Eu não, ela...

MELINDA

Efrin, você já está passando da conta... (Transição). E quem mandou você espalhar por aí, que eu estou devendo à todo mundo?

EFRIN

Eu não falei nada disso...

ZOLNA

Falou sim...

EFRIN

Ah, então a fofoqueira foi você!

MELINDA

Isto não vem o caso, Efrin! O fato é que você andou espalhando pra estes monstros horrorosos, assuntos que só dizem respeito à mim e a vocês duas!

ZOLNA

Eu também acho!

EFRIN

Foi sem querer!

MELINDA

Peça desculpas agora mesmo a sua mãe e a sua irmã!

EFRIN

A senhora eu peço, mas a Zolna... Nunca!

MELINDA

O que? Então eu não vou mais atender aos seus caprichos! Nunca mais eu vou deixar você passear por aí na vassoura...

EFRIN

(Debochada). Eu!? Nem ligo! Isso só com poderes e os seus nunca funcionaram mesmo!

MELINDA

Mas um dia eles vão funcionar! (Transição). Se é assim, nunca mais eu vou fazer moqueca de rato de porão com aranha à milaneza...

EFRIN

Ah... Então eu peço! Ah, minha mãe... Me desculpe...

MELINDA

Tá desculpado! Agora peça desculpas também a sua irmã!

EFRIN

Tá bom! Tá bom! (Transição). Tá desculpado? (Com expressão de quem vai fazer alguma travessura).

ZOLNA

(Embaraçada). Tá!

EFRIN

(Dando a mão). Amigas?

ZOLNA

(Com desdém). Amigas! (A Efrin pega na mão da Zolna e dá uma mordida no braço dela. A zolna solta um grito aterrorizante). Aiiii... Ela me mordeu! Eu mato essa pestinha! (Parte pra pegar Efrin).

MELINDA

Parem com isso, meninas!

ZOLNA

Deixe só eu pega-la!

MELINDA

Eu já disse que parem com isso, Zolna...

EFRIN

Minha mãe, ela quer bater em mim...

MELINDA

Pega as duas pelos cabelos). Eu já mandei as duas pararem com essa confusão...

ZOLNA

Ai, meus cabelos...

EFRIN

Ai, tá doendo...

MELINDA

Será possível?! (Solta os cabelos das duas).

ZOLNA

Ela começou primeiro!

EFRIN

Mentira, foi ele, minha mãe...

MELINDA

Eu não quero ouvir mais nada das duas... (Transição). Zolna, vá lá no castelo do conde drácula e diga pra ele, que eu quero me casar com ele! Eu aceito!

EFRIN

(De salto). A senhora quer o que?

MELINDA

Isto mesmo que você ouviu!

ZOLNA

Agora mesmo, minha mãe... (Sai de cena).

EFRIN

Está com dor de barriga? Está com febre? Deixe eu ver!

MELINDA

Foi uma decisão minha, Efrin!

EFRIN

A senhora vai ter coragem de casar com aquele dentudo horroroso?

MELINDA

Não tem outro jeito! É a única maneira de sairmos desta miséria!

EFRIN

E vai resolver alguma coisa?

MELINDA

É claro, que vai! Ele tem muito dinheiro!

EFRIN

E a senhora casando com ele, o que ele vai ser meu?

MELINDA

Ora, minha filha! Ele vai ser o seu padrasto!

EFRIN

E o que é isto?

MELINDA

Seu segundo pai!

EFRIN

(Com raiva). Isso nunca! Eu não quero um segundo pai!

MELINDA

Eu também não queria casar com ele! Mas é a necessidade, minha filha...

EFRIN

Se a senhora casar com aquele vampiro antipático, eu vou transformar esse castelo, num verdadeiro inferno! Vou quebrar as presas dele, pra ele nunca mais se meter à besta com a mãe de ninguém!

MELINDA

Efrin, você está com ciúmes! Isto é muito feio! Comporte-se! Afinal, o bicho não é tão feio como se pinta!

EFRIN

Feio não, ele é horroroso!

MELINDA

Mas de hoje por diante, ele vai ser o seu pai!

EFRIN

Eu me mato...

MELINDA

Você não seria capaz de fazer uma coisa dessa!

EFRIN

Não?! Pois experimente!

MELINDA

(Carinhosamente). Minha filhinha... Eu jamais lhe deixaria por homem nenhum deste mundo!

EFRIN

Jura mesmo?

MELINDA

É claro, que juro!

EFRIN

(Se abraça com a Melinda). Ah, minha mãe! Eu queria tanto que a senhora saísse dessa miséria! Pagasse a associação... Seus poderes voltassem à funcionar novamente!

MELINDA

Mas Efrin! Eu casando com o conde Drácula, tudo isso pode acontecer!

EFRIN

Isso não está certo...

MELINDA

O que?!

EFRIN

Casar com o drácula, só por causa do dinheiro que ele tem!

MELINDA

Ora, Efrin! Foi a única maneira que eu arrumei para sairmos dessa miséria!

EFRIN

Mas não está certo!

MELINDA

Eu sei que não está certo!

EFRIN

E por que insiste em fazer?

MELINDA

Por que é a única solução que existe nesse momento!

EFRIN

Já tentou todas mesmo?

MELINDA

Claro, que sim!

EFRIN

Qual foi a sua última tentativa?

MELINDA

Foi a de falar com o autor dessa história...

EFRIN

A senhora está ficando é doida!

MELINDA

(Com raiva). Olhe o respeito, menina!

EFRIN

Mas minha mãe! Falar com a pessoa que nos criou, é impossível!

MELINDA

Impossível não, que eu falei!

EFRIN

(Escandalizada). A senhora fez o que?

MELINDA

O que você acabou de ouvir! Falei com o nosso criador... Quer dizer, eu ouvi a voz dele!

EFRIM

E como sabe que foi ele?

MELINDA

Porque ele falou, ora!

EFRIN

Foi trote!

MELINDA

Não foi...

EFRIN

Foi sim...

MELINDA

Não foi!

EFRIN

Foi!

MELINDA

(Repreendendo). Quer parar, Efrin? Se eu estou dizendo que não foi trote, porque não foi!

EFRIN

E como sabe que não foi trote?

MELINDA

A bola de cristal não mente, Efrin...

EFRIN

Nisso a senhora tem razão! E por que não tenta outra vez?

MELINDA

Já tentei, mas não adianta!

EFRIN

Eu não vou deixar a senhora casar com aquele vampiro!

MELINDA

Agora é tarde! Já mandei a Zolna dizer pra ele, que eu aceito o casamento!

EFRIN

Não é tarde não, minha mãe! Eu tive uma idéia!

MELINDA

Então fale!

EFRIN

(Puxa de dentro do bolso). A senhora sabe o que é isto aqui?

MELINDA

Não, o que é?

EFRIN

São os dentes do Lobinho que eu quebrei!

MELINDA

Tá! E isso tem nada a ver com o nosso problema, Efrin?

EFRIN

Claro, que tem, minha mãe!

MELINDA

O que por exemplo?

EFRIN

Uma vez eu li no livro dos poderes bruxais, que quem fizer uma sopa, com bife de rato porão com aranha a milanesa, segurando com a mão direita uma porção de dentes de lobo, os poderes voltam à funcionar!

MELINDA

Isto está me cheirando a travessuras! Qual foi a página que você viu isso?

EFRIN

Ah, isto eu não me lembro! Já faz tanto tempo que eu vi!

MELINDA

Você jura que isso é verdade, Efrin?

EFRIN

(Faz figa escondida). Eu juro!

MELINDA

Então está certo! Eu vou fazer!

EFRIN

(Entrega os dentes). Tá aqui os dentes!

MELINDA

Me dá pra cá! Vamos fazer agora mesmo! Vou pegar os ingrediente! (Sai de cena).

EFRIN

Ela não tá sabendo que eu tou enganando ela! Vou colocar dentro do caldeirão esta porção mágica... (Puxa do bolso). que eu roubei do lobinho! Só assim ela vai pensar, que os poderes dela voltaram à funcionar! Isto é um segredo! Esta porção mágica é dose única! Quer dizer... Só faz uma mágica e pronto! Eu sou uma diabinha mesmo! (Dá uma gargalhada. Melinda entra em cena).

MELINDA

Por que você está rindo?

EFRIN

Nada não... Não estou rindo com nada não!

MELINDA

Vamos fazer a sopa desta noite!

EFRIN

Ah, minha mãe! Eu não gosto de sopa!

MELINDA

Mas dessa sopa que eu vou preparar, com ingredientes que eu trouxe, tenho certeza que você vai gostar!

EFRIN

Jura? E que ingredientes a senhora trouxe?

MELINDA

Alcachofra...

EFRIN

(Se deliciando). Hum...

MELINDA

Pimenta malagueta !

EFRIN

Hum, que delícia...

MELINDA

E uma boa chinela!

EFRIN

Hum... (Transição). Pra que, Chinela?

MELINDA

Pra você se estiver mentindo! Se os meus poderes não voltarem à funcionar, você vai ver só...

EFRIN

Mas é claro, que vão funcionar!

MELINDA

Espero!

EFRIN

Cadê os dentes, que eu lhe entreguei?

MELINDA

Estão aqui! (Mostra os dentes).

EFRIN

Agora, segura com a mão esquerda...

MELINDA

E não é com a mão direita, Efrin?

EFRIN

Hen?!... É que eu tinha me esquecido! Então segure com a mão direita!

MELINDA

(Transfere para a outra mão). Assim?

EFRIN

Isto mesmo!

MELINDA

Ora, Efrin! Como eu posso preparar a sopa, se estou com a outra mão ocupada?

EFRIN

A mágica só funciona desse jeito!

MELINDA

Então você me dá os ingredientes e eu os coloco no caldeirão!

EFRIN

Tá certo! Como é que eu faço?

MELINDA

Eu acho melhor você coloca-los no caldeirão!

EFRIN

(Joga tudo no caldeirão). Assim, é?

MELINDA

Isto mesmo!

EFRIN

E agora?

MELINDA

(Se mexendo). É só mexer... mexer... mexer... E está pronta a sopa!

EFRIN

Só isso?

MELINDA

E você queria mais o que?

EFRIN

E cadê o bife de rato de porão, com aranha à milanesa?

MELINDA

Se a magia voltar à funcionar, automaticamente surgirá...

EFRIN

(Decepcionada). Ah, e é assim que funcionam os seus poderes, é? Que coisa mais antiga!

MELINDA

Eu não acho!

EFRIN

Pois a senhora está muito atrasada no tempo! O bruxo vizinho nosso, não feitiça mais com palavras, é tudo por computador!

MELINDA

Só que o nosso vizinho, minha filhinha... É funcionário fantasma da receita fedorenta das bruxas! Só vai lá assinar o ponto e tira uma boa nota no final do mês!

EFRIN

Bem que a senhora poderia ser assim também...

MELINDA

Mas se o nosso autor não quis, o que se há de fazer?!

EFRIN

(Com raiva). Deixe só eu pegar ele, que eu vou quebrar os dentes dele todinho e dá um chute no traseiro dele!

MELINDA

Eu já tentei falar com ele através da bola de cristal, mas não consegui! Isto só com poderes! Por isso que eu estou tentando ver se eles funcionam de outra forma! Eu não tenho dinheiro pra pagar a associação!

EFRIN

E por que não tenta seus poderes novamente?

MELINDA

Se você estiver certa, Efrin! Estamos todas eleitas!

EFRIN

Só com teorias nada resolve! Vamos para a prática! Segure os dentes do lobinho e diga a palavra mágica!

MELINDA

Abra cadabra... (A sonoplastia entra com um fundo musical). Abra cadabra... (Dentro do caldeirão ouve-se uma explosão com efeito também de iluminação. Dá uma gargalhada). Eles voltaram à funcionar! Eles voltaram... Meus poderes estão recuperados!

EFRIN

Não fique tão eufórica, minha mãe!

MELINDA

(Feliz). O nosso autor, vai ver quem é Melinda!

EFRIN

E a senhora vai fazer o que?

MELINDA

Vou pegar a minha vassoura e vou emendar os bigodes com ele, cara a cara! (Pega a vassoura).

EFRIN

A senhora não pode fazer isso!

MELINDA

Eu sei... Mas eu vou fazer assim mesmo!

EFRIN

Eu não vou deixar a senhora fazer uma coisa dessa!

MELINDA

Não se atreva a me impedir...

EFRIN

Me dê pra cá esta vassoura! (Puxa a vassoura).

MELINDA

Não dou... (Reage).

EFRIN

A senhora vai me dar esta vassoura agora mesmo!

MELINDA

Nunca! Solte esta vassoura, Efrin! (Pega a vassoura de volta). Me dê isso aqui! Agora é a hora da minha conquista! Finalmente eu vou conhecer o autor de nossa história e a gente vai mudar de vida!

EFRIN

Como?

MELINDA

Ele vai reescrever a história e daí, ficaremos todas bem de vida novamente!

EFRIN

(Triste). Não sei o que dizer!

MELINDA

Não fique com esta cara de quem comeu e não gostou! Esta maneira de recuperação dos nossos poderes, foi demais! Vou embora...

EFRIN

O que eu tenho medo, é se a senhora não conseguir!

MELINDA

Eu vou conseguir, sim!

EFRIN

E se ficar presa no espaço e não puder mais voltar?

MELINDA

Isto não vai acontecer, Efrin! E se acontecer, seja o que ele quiser! Apesar de tudo, eu confio nele!

EFRIN

Mas não é bom confiar! Tome esta carta, leve com a senhora!

MELINDA

Que carta é esta, Efrin?

EFRIN

Foi que eu fiquei com pena da senhora, e ontem antes de dormir, eu escrevi pra ele, pedindo exatamente isso, que ele modificasse a história! Eu pedi com muita fé! Rezei foi muito!

MELINDA

Não precisa eu levar esta carta, minha filha! Eu vou falar com ele exatamente isto!

EFRIN

Mas leve assim mesmo! Pelo menos se a senhora não voltar, onde quer que esteja, lendo a carta, sempre lembrará de mim...

MELINDA

Está certo, minha filha! Eu levo sim! Mas eu não tenho lugar para coloca-la! Vou terminar perdendo! Na mão eu não posso levar, que eu não consigo me equilibrar nesse troço! (Com a vassoura).

EFRIN

Então amarre-a no cabo da vassoura com uma barbante! (Procura o barbante).

MELINDA

Boa idéia!

EFRIN

Olhe aqui o barbante! Deixe que eu mesma amarro! (Amarra a carta no cabo da vassoura).

MELINDA

Tudo pronto! Abra cadabra... XA... XE... XU... XÔÔÔ... Vassoura, vassourinha... Vá em busca de nosso autor... (Monta em cima da vassoura. A sonoplastia libera som de vendaval e a iluminação, joga fachos de luz. A Melinda sai correndo montada na vassoura pelo salão, como quem não está conseguindo se equilibrar). Eu não estou conseguindo me equilibrar... Eu não estou conseguindo me equilibrar... Eu vou cair... Eu cair... (Sai de cena pela porta de saída do castelo).

EFRIN

(Corre até a porta). Cuidado com o abismo logo na sua frente...

MELINDA

Já viiiii... (A sonoplastia libera um som de alguma coisa caindo do alto, um estouro e um grito apavorante).

EFRIN

Matei a minha mãe! Ela caiu da vassoura! Coitadinha... (Transição aos pulos de alegria). Ela está viva... Ela está viva! (Transição). Ela tá vindo aí...

MELINDA

(Entra em cena toda assanhada sentindo dores). Ôiiii... Eu estou toda quebrada!

EFRIN

(Irônica). O que foi que houve?

MELINDA

Nada! Só fiz cair da vassoura! Isto é comum, não é?

EFRIN

O fato do estouro, é! Agora, uma bruxa de sua idade não saber ainda voar numa vassoura, não!

MELINDA

Efrin, deixe de conversa!

EFRIN

Mas é uma verdade, minha mãe! Qualquer bruxa nova sabe voar numa vassoura!

MELINDA

Chega, Efrin! (Transição). Vamos tentar mais uma vez!

EFRIN

Não!

MELINDA

Ora, por que não?

EFRIN

Porque os poderes desta forma que eu lhe ensinei, é dose única!

MELINDA

Você está vendo, minha filha, que a única maneira de sairmos desta pobreza, é casando com o conde drácula?! E a gente tem que dar graças ao nosso criador, por ele consentir isso!

EFRIN

Se não tem outro jeito...

MELINDA

É bem verdade, que ele já está muito velho! Nem morder ele consegue mais! (Transição). Mas tem dinheiro, muito dinheiro e isto é o que interessa no momento para nós... (Entra a Zolna, triste). Eu vou me casar com o conde drácula!

ZOLNA

A senhora ia se casar!

MELINDA

(Alegre). Ah, você chegou?

ZOLNA

(Triste). Chequei!

MELINDA

Por que essa cara, Zolna?

ZOLNA

O conde drácula não existe mais!

MELINDA

(Escandalizada). O que?

ZOLNA

De tão esclerosado e cego, saiu para voar de dia pensando ele, que era noite e deu de cara com o sol! Foi o remédio que ele precisava para derreter! Não sobrou nem o pó!

EFRIN

Coitadinho...

MELINDA

(Com raiva). Ai, que ódio... Eu odeio ele...

EFRIN

Quem? O conde drácula?

ZOLNA

E queria casar com ele!

MELINDA

Mas não é o vampiro! É ele... (Apontando para cima). Ora, Zolna... Veja a coincidência!

ZOLNA

A senhora está querendo me dizer, que quem matou o vampiro, foi o nosso autor?

MELINDA

Perfeitamente! Isto mesmo!

EFRIN

Que nós somos frutos da imaginação dele, eu não tenho dúvidas... Mas o vampiro não tem nada a ver conosco!

ZOLNA

Também acho...

MELINDA

Aí, é onde vocês estão redondamente enganadas! Qualquer coisa que aconteça conosco e com qualquer pessoa não comum que faça parte de nossa história, ele é o responsável...

EFRIN

Então eu não gosto desse cara!

ZOLNA

Eu também não estou gostando nenhum pouco!

EFRIN

Minha mãe, eu tive uma idéia! Eu tenho como roubar os seu poderes de volta da associação dos poderes bruxais!

ZOLNA

Tenha cuidado! Se a associação descobrir, que a gente anda fazendo gato, a multa vem virada!

EFRIN

Com esta idéia que eu tive, eu duvido que eles descubram!

ZOLNA

Se é assim, o que estamos esperando?

MELINDA

(Com a Zolna). Você concorda mesmo?

ZOLNA

Se a Efrin está segura no que vai fazer, claro, que sim!

EFRIN

Eu posso jurar que eu consigo!

MELINDA

E como é que você vai fazer, Efrin?

EFRIN

O lobisomem pai do lobinho, é técnico de computador bruxal! Ele foi dar assistência, lá na associação dos poderes bruxais! Só que os computadores, tem uma palavra chave que neutraliza todo sistema... E daí dá acesso à qualquer um fazer o que quiser, inclusive roubar poderes...

MELINDA

E como você sabe disso?

EFRIN

Eu ouvi o lobisomem conversando tudo com o lobinho, e eu peguei o nome da palavra... (Rindo).

ZOLNA

Esta palavra não serve para gente, Efrin! Nós não temos acesso aos computadores da associação!

EFRIN

Não precisa! O pai do lobinho, construiu um programa e inseriu no computador da associação! Através da bola de cristal dele, mais a palavra chave, com o número da residência que eles moram... Recuperou todos os poderes de volta!

MELINDA

(Espantada). E ele também estava devendo a associação?

EFRIN

Só estava...

MELINDA

E como ele teve coragem de espalhar pra todo mundo, que eu estou devendo! Esta raça não presta!

ZOLNA

Continue...

EFRIN

Hoje, ele tem os poderes de volta e a associação nunca mais vai descobrir!

MELINDA

E então, o que nós estamos esperando? A bola de cristal nós temos! É só você agora me dizer a palavra chave a gente trás os nossos poderes de volta!

ZOLNA

Efrin, você é muito esperta!

EFRIN

Eu não sou burra como você não, mas dou pra quebrar o galho!

ZOLNA

(Com raiva). Tá vendo, minha mãe?

MELINDA

(Repreende). Efrin, não comece... Diga logo esta palavra chave!

EFRIN

Tachuí... E o número...

MELINDA

O número daqui é 777...

ZOLNA

Então a palavra mágica é Tachuí 777! (A bola de cristal, começa à piscar). Olhe a bola como está!

MELINDA

Está funcionando! Que maravilha!

EFRIN

Eu não disse?! (A bola vai se apagando acompanhada de sonoplastia). Agora ela está apagando! Continue dizendo a palavra!

MELINDA

Tachuí 777... Tachuí 777... (Vai reativando a bola de cristal. A sonoplastia e a iluminação também acompanham com efeitos).

EFRIN

Tachuí 777... Tachuí 777... (A sonoplastia libera um som de tensão, que vai aumentando gradativamente. Repentinamente, um tiro de bomba, dentro do caldeirão e muita fumaça, inundam o palco. Dá-se um black-out).

ZOLNA

O que está acontecendo?

EFRIN

As luzes se apagaram! (Vai clareando).

ZOLNA

Olhe, a luz está voltando! (Ao clarear notasse que a Melinda não está em cena).

EFRIN

Pelo menos a mágica deu certo!

ZOLNA

É verdade... Não é, minha mãe? (Transição). Minha mãe... Onde a senhora está? (Procurando).

EFRIN

(Tensa). Ela não quer responder!

ZOLNA

(Nervosa). Dona Melinda, não vi motivos para brincadeiras!

EFRIN

Ela sumiu, Zolna!

ZOLNA

Será que a mágica teve efeito contrário?

EFRIN

Certamente! (Tensa). A culpa foi minha!

ZOLNA

E agora?

EFRIN

(Chorando). Perdemos a nossa mãe!

ZOLNA

A culpa foi sua mesmo!

EFRIN

Eu não sei o que fazer sem a minha mãe...

ZOLNA

(Também chorosa). Isso foi culpa dele... (Transição). Mas por que ele está fazendo isso com a gente? Como pode uma pessoa ou sei lá o que é, ser tão cruel!?

EFRIN

(Ainda chorando). Qual será o nosso destino, se estamos nas mãos dele?

ZOLNA

(Limpa os olhos). Se eu pudesse falar com ele, eu faria um pedido, sim!

EFRIN

Que pedido você faria, Zolna?

ZOLNA

Que ele passasse uma borracha nessa história e nunca mais lembrasse que nós passamos alguns momentos pelo pensamento dele...

EFRIN

E como você pediria isto?

ZOLNA

Eu pediria assim...

(Cantado).

Você quem nos criou

Fez perder quem tanto amamos

Sentisse esta dor

Que estamos passando

REFRÃO

TODAS

Por que és tão cruel

Ser comum e sem coração

Nas estrelas ou no céu

Nos daria uma solução.

EFRIN

Eu sempre fui sapeca

Por que me criaste assim?

Pirralha levada da breca

Você não gosta de mim...

TODAS

Por que és tão cruel...

ZOLNA

Uma partida brutal

Lugar incerto da vida

Numa magia fatal

Sumiu nossa mãe querida...

TODAS

Por que és tão cruel... (Bis).

EFRIN

(Falado).

Acaba de vez com esta história!

Passando uma borracha na tinta!

Que nada fique na memória

Das bruxas órfãs e uma extinta...

ZOLNA

(Falado. Querendo chorar). Onde estarás agora? Em qual constelação estás? Como você é? Devias mudar a nossa vida, eu sei que podes fazer, porque somos frutos de tua imaginação! Por que tanto castigo e sofrimento? És insano e inconseqüente, um ser comum sem sentimento! (Chorando). Ingrato e malvado, isso que você é! Deixaste partir quem mais amamos! (Em prantos se abraça com a Efrin). Por que faz isso com a gente? (A bola de cristal começa à piscar).

NARRADOR

(Com voz celestial). Por que estás chorando, Zolna?

EFRIN

(Admirada). Olhe a bola de cristal!

ZOLNA

De onde saiu esta voz?

EFRIN

Foi da bola mesmo!

ZOLNA

A bola de cristal só funciona com poderes, Efrin! Sem eles, isto não é possível!

NARRADOR

Mas eu estou falando através da bola de cristal! Aproximem-se dela!

EFRIN

(Meio assustada). Quem é você?

NARRADOR

Alguém que vocês estavam esperando!

ZOLNA

Quem poderá ser? (Transição). Desculpa, mas não podemos dar atenção para estranhos!

NARRADOR

Mas eu não sou estranho!

EFRIN

(Surpresa). É ele, Zolna!

ZOLNA

(Sem entender). Ele quem?

NARRADOR

Pode falar, Efrin!

EFRIN

(Gaguejando). É ele...

ZOLNA

(Se toca também surpresa). O nosso criador?

NARRADOR

Exatamente! Tem dúvidas, ainda?

ZOLNA

Claro, que eu tenho! Você não teria se tivesse no meu lugar? Eu não acredito mesmo!

NARRADOR

Pode acreditar que quem está falando, é o autor dessa história!

EFRIN

Zolna, só pode ser ele...

ZOLNA

Mas eu não acredito e pronto!

NARRADOR

E se eu provar?

EFRIN

É ele sim!

ZOLNA

(Repreende). Quer parar, Efrin? (Transição). Tá bom! Se você provar eu acredito!

NARRADOR

Então, vamos a prova! (Neste instante a sonoplastia entra com uma música apropriada e jatos de gelo seco recai de cima para baixo, dando idéia da abertura de um portal para outra dimensão. Um facho de luz recai também de cima para baixo. Logo em seguida, vem descendo a vassoura com a carta amarrada no cabo). Aí, está a prova!

ZOLNA

(Espantada). O que é isso?

EFRIN

(Surpresa). É a vassoura... (Transição). É ele!

ZOLNA

Que é uma vassoura, eu sei Efrin...

EFRIN

(Aos pulos de alegria). Ele recebeu...

ZOLNA

Eu não estou entendendo nada! Seja mais clara!

EFRIN

Zolna, eu coloquei uma porção mágica no caldeirão, pra ver se a nossa mãe conseguia recuperar os nossos poderes, pra ela ir falar com o autor de nossa história e ela conseguiu reativar a vassoura, mandando ela ir em busca do autor e ela foi! Só que a nossa mãe, quando estava lá no alto, se desequilibrou e caiu da vassoura... Mas que legal! A vassoura foi... (Transição). Isto mesmo! Quando ela entrou aqui em casa, ela não veio com vassoura!

NARRADOR

Perfeitamente, Efrin! Fico muito orgulhoso de ter criado você! Você é muito inteligente!

EFRIN

(Com timidez). Obrigada!

ZOLNA

(Embaraçada). Tudo bem, é muito bonita a sua história, mas eu não acredito em uma só palavra!

EFRIN

É verdade! Olhe a prova aí!

NARRADOR

E você escreve muito bem, Efrin! Eu li a sua carta!

ZOLNA

(Sem entender). Que carta?

EFRIN

Eu escrevi uma carta, pedindo pra ele modificar a história e tirar a gente da miséria! (Transição). Olhe aqui a carta! (Desamarra do cabo da vassoura. Transição com a Zolna). Ainda tem dúvidas?

ZOLNA

Não! Agora eu não tenho mais! (Com o autor). Também eu não gosto de você!

NARRADOR

Mas por que, Zolna?

ZOLNA

Se você é meu criador, você sabe muito bem porque eu estou assim!

NARRADOR

É claro, que sei!

ZOLNA

E por que você nos criou desse jeito? Nesta pobreza!

NARRADOR

Porque a vida não é feita só de flores! O espinhos são necessários e importantes para que ela exista!

ZOLNA

Suas palavras são bonitas demais! Mas não me convence!

EFRIN

Não sei porque! Ele já deixou tão claro!

ZOLNA

E a nossa mãe? Você matou a nossa mãe! (Querendo chorar).

EFRIN

(Também triste). Ela tem razão! Por que você fez isso?

NARRADOR

Efrin... Zolna... Vocês têm aprender a se virar sozinhas! A vida é assim mesmo!

ZOLNA

(Revoltada). Nós não temos vida, seu idiota! Somos frutos de sua imaginação!

NARRADOR

Não se zangue, Zolna!

EFRIN

Ela tem razão de ficar zangada! Por que você não vai embora e deixa a gente aqui esquecida... Por que não pára esta história por aqui e esquece que alguma vez na vida nós passamos pela sua mente!

ZOLNA

Que tipo de história nós estamos fazendo parte? Um romance? Uma peça de teatro? Uma novela? E qual vai ser o final de tudo isso, se já começamos derrotadas?

NARRADOR

Eu tenho uma surpresa para vocês!

ZOLNA

Não estamos nenhum um pouco interessadas!

EFRIN

Já bastam as surpresas que tivemos hoje!

NARRADOR

Atendendo o pedido da Efrin, eu reescrevi a história! Os poderes de vocês estão recuperados, o vampiro já está vivo novamente e sua mãe está apaixonada por ele... O resto é com vocês... (A bola de cristal se apaga).

EFRIN

(Nervosa). Não vá embora!

ZOLNA

Onde você está?

EFRIN

Responda! (Transição). Ele não quer responder...

ZOLNA

Sumiu!

EFRIN

O importante é que ele rescreveu a história!

ZOLNA

Mas não trouxe a nossa mãe de volta!

EFRIN

Mas Zolna! Ele mesmo falou que o resto é com a gente! Se nós temos os nossos poderes de volta, o que estamos esperando? (Correndo em volta do caldeirão). Abra cadabra...

ZOLNA

Abra cadabra... (A sonoplastia e a iluminação em efeitos, jogam fachos de luz e sons de trovões. Dá-se um black-out e o gelo seco inunda o cenário, no qual um facho de luz recai no cenário, onde a Melinda reaparece no meio da fumaça). Está dando certo!

EFRIN

Deu certo, sim! Viva... Viva...

MELINDA

O que está acontecendo, aqui? Que fumaça é esta? (Transição). Por que tanta felicidade? (Efrin e Zolna se abraçam e a abraçam a Melinda). O que? Vocês unidas? Não estou acreditando no que estou vendo! (A bola começa à piscar).

ZOLNA

(Vai até a bola). Muito obrigada! Muito obrigada mesmo! De coração!

NARRADOR

Não precisa me agradece! Vocês atingiram um passo mais em evolução! Vocês foram merecedoras! Nada acontece por acaso!

MELINDA

Com quem vocês estão falando?

EFRIN

Com o nosso autor, ora!

MELINDA

Agora eu não preciso mais provar pra você que nós existimos! Eu não gosto mais de você mesmo! Eu estou apaixonada pelo meu conde Drácula!

EFRIN

Nós vamos sair desta pobreza!

ZOLNA

É evidente! Minha mãe está apaixonada pelo vampiro e ele tem muito dinheiro... E os nossos poderes estão recuperados!

EFRIN

Graças ao nosso querido autor! (Beija a bola de cristal).

NARRADOR

Bom! A história de vocês termina por aqui!

EFRIN

Espere! Antes de ir embora, eu posso lhe fazer uma pergunta?

NARRADOR

Pois não, Efrin!

EFRIN

Nós somos frutos de sua imaginação! E você, é fruto de imaginação também?

NARRADOR

É claro, que sim! Eu vivo num mundo diferente do de vocês! Um mundo onde o homem esquece de dar o direito que o seu irmão tem. Um mundo onde a crueldade e a maldade predomina horrendamente, onde homens se matam, por falta justiça e compreensão! A vida de vocês para mim, termina por aqui, mas estará na memória de todos que assistiram este espetáculo! A minha vida sempre haverá uma continuação, ultrapassando as barreiras da vida como vocês ultrapassaram... Desilusões, tristeza, alegria. No caso de vocês não passa de um rabisco com pena de plumagem fina, por isso termina por aqui. Para mim, vai continuar, até eu atingir uma evolução máxima... Mas para isto, terei que viver outras vidas futuras, pagando dívidas de vidas passadas. Ascendendo a minha evolução, é sinal de que estou aprendendo a amar... E este é principal caminho para nós pessoas comuns, chegarmos o mais próximo do qual eu sou fruto de imaginação... Um ser de alta evolução espiritual, pensamento supremo... Que chamamos... De “DEUS”.

(FIM).

PEÇA: ERA UMA VEZ 3 BRUXAS

AUTOR: FLÁVIO CAVALCANTE

MÊS: MAIO

ANO: 1995

Todo trabalho desenvolvido por este autor, é totalmente fruto de imaginação; porém, Qualquer semelhança é mera coincidência.

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 24/03/2009
Código do texto: T1503537
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