"A Batalha de Fogo" cap 25 "Revelações á Princesa Cega"

Os olhos de finiti ardiam demais, ela não conseguia ver nada a sua frente, Madame Ávata Callis já havia derramado sobre eles um óleo especial feito de água e sulco de Ramas.

- isso vai ajudar, mas não passará rápido.- disse a anciã.

- Vou ficar cega?- perguntou finiti, a voz fraca, deitada sob uma cama.

- Não querida, é temporário, vai passar.- respondeu Ávata e parecia estar tentando convencer mais a si mesma do que a finiti.- vai passar!

Finiti ficou deita longas horas com o óleo sobre os olhos, sua cabeça rodava com todos aqueles acontecimentos, mas o que não parava de martelar em sua mente eram as palavras de Drana: “Amintor vai me pagar.”

O que a rainha das trevas queria dizer com aquilo? Que Drana queria ver Eleon cair, que ela queria ficar com o trono do Rei e conquistar a Chama Sagrada, isso Finiti sabia perfeitamente, mas as palavras “Amintor vai me pagar” não pareciam ter haver com esses requisitos.

- senhora?- chamou finiti.

- Sim querida estou aqui.- respondeu Madame Ávata que repousava numa cama ao lado.

- O que ela quis dizer com “Amintor vai me pagar”?- perguntou finiti.- não entendo. O que meu pai teria a pagar á ela? Muitas coisas estão perturbando minha mente. Palavras suas inclusive: “ela foi para guerra enfrentar Terione e encontrou neste um inimigo ainda maior do que imaginava e por amor quase pôs tudo a perder...” O que a senhora quer dizer com isto? Não me diga novamente que foi por Amintor que minha mãe se apaixonou, sinto que não é verdade. Conte-me a história verdadeira. E Quem mais quis tanto assim estar com ela? A senhora me disse: “Eu sempre digo que aqueles que choram por não terem ficado muito tempo com Finiti são ingratos, porque apesar dos pesares, muitos desejaram ter estado com ela e nunca tiveram essa oportunidade.” Quem? Quem? Conte-m eu imploro!

Finiti estava de olhos fechados, não pode ver o longo suspiro de pesar de Madame

Ávata e nem a expressão de tristeza que pousou no rosto da governanta.

Mas ela por fim disse:

- essas histórias deviam ser contadas por pessoas mais próximas, talvez por seu pai, mas acho que não é seguro você se deparar com Drana novamente sem saber da verdade. Você precisa saber até mesmo para montar uma estratégia, pois você vai ter até uma idéia do que ela pretende.

- O que é? É tão grave assim?- interrompeu finiti ansiosa.

- bem, ah muitos anos atrás,- começou Madame Ávata.- quando o mal de Terione assombrava todos os cantos dos cinco reinos e tudo parecia perdido, os cinco reis fizeram uma aliança, um pacto: iriam se juntar sob uma única bandeira e marchar contra os exércitos de Terione e derrubar assim o próprio senhor do Fogo Negro; e se isto não acontecesse que suas terras caíssem para sempre.

- A grande guerra acontecia e não se sabe dizer quem estava ganhando ou perdendo, mas conta-se que quando Gertunio, O Perverso tentou matar a imperatriz Finiti Elga Eleonora, a rainha das fênix, Terione investiu contra seu próprio capitão e o matou. Apesar da grande confusão que havia a volta, muitos notaram o tal ato e enquanto harppias, orcs, centauros e outras criaturas negras tentavam saber o porque de tal feito, Gerrá, o Portador da Luz investiu contra Terione, pegando-o despercebido e atravessando-lhe o peito com a Espada Branca. E assim Terione caiu.

- O que? Não entendo.- disse finiti confusa.- como...?

- Espere, vou chegar lá.- respondeu Ávata.- pois bem, o exército negro havia sido derrotado, Terione estava morto e seu corpo havia sido queimado pelos magos de Madic, de modo que seu espírito não podesse voltar nem vagar. Mas ainda assim ficou a grande dúvida no ar: por que Terione não deixou que Gertunio matasse finiti? Sabia-se que finiti estava grávida na época...

- Grávida? Mas eu nasci anos após a guerra!!- contestou Finiti.

- Calma querida. Bem, finiti estava grávida, o que era perfeitamente normal, todos sabiam de seu romance com o príncipe Amintor. Porém, ao passar-se nove meses, com o nascimento da criança, souberam então o porque do ato de Terione.

- O que aconteceu?

- Poucos haviam visto a garota que havia nascido, apenas as parteiras e poucos íntimos do rei Amintor. A garota branca como a neve, de olhos escuros e densos como a noite, em nada se parecia com a mãe, com o pai ou com qualquer parente ou ancestral. Amintor então soube da traição, mas segundo finiti não havia sido traição, visto que ela e Amintor mal se relacionavam quando a criança foi gerada. Mas bem, Amintor ainda amava finiti acima de tudo e com a promessa de que finiti lhe daria os mais belos filhos, eles continuaram vivendo.

- E a garota? Quem era o pai dela então? - perguntou finiti sem conseguir se controlar. Na excitação mexia os olhos e eles ardiam.

- Espere. A garota, por motivos óbvios, estava sendo criada nos campos distantes da Cidade Imperial, o rei e a rainha diziam que ela estava sendo educada por tias distantes. Mas com o passar do tempo a pequena garota começou a revelar talentos inesperados: a cada dia que se passava sua pele se tornava mais cinza, seus olhos mais profundos, seus dentes mais ferozes e ameaçadores. As outras crianças costumavam rebelar suas primeiras chamas aos oito anos, e o mesmo aconteceu com a garotinha, mas ao contrario de todos, ao invés da chama vermelha viva, aos oito anos a filha de finiti foi coberta por chamas negras.

- O que?!- a boca de finiti escancarou-se e mesmo às cegas seus olhos saltaram-se das órbitas e arderam.- chamas negras?! Pelo Fogo Sagrado!! Isso quer dizer que...?

- A pequena Drana, em seu desespero, ao ver o corpo envolto por aquelas chamas tão escuras que nem lhe permitiam ver a luz, saiu correndo pelos campos em que morava; acabou que caiu em cima de um garoto que morava por ali e brincava nos campos. O garoto pegou fogo e nada, além de ossos mal identificados sobrou do garoto. Toda a plantação em que Drana caiu se incendiou e morreu e quando as chamas finalmente apagaram três pessoas já haviam morrido.

- Céus!! Não pode ser.- exclamou finiti.

- A rainha então confessou ao rei, havia tido um breve caso com Terione e desse caso nasceu à pequena Drana. O rei revoltado e preocupado com seu povo baniu Drana de Eleon, finiti chorou desesperada, tentou argumentar, mas não havia como, a garota era uma arma letal contra os moradores de Eleon. E então Drana foi mandada para a terra do fogo negro, onde magos e bruxos das trevas a criaram. Eles a ensinaram a usar seus poderes, a usar a magia e tudo o que estivesse a seu alcance para ter poder. E assim a pequena filha de Finiti cresceu e se tornou a rainha do Fogo Negro, e agora procura os Seres Sagrados dos cinco reinos para se tornar à criatura mais poderosa do mundo e em particular deseja se vingar de Amintor, por tê-la privado, ainda mais do que já era, do amor de uma mãe e a ter mandado para aquele lugar horrível onde não teve felicidade nem amor. Apenas ódio e sede de poder e vingança.

Um longo silencio se estendeu, tudo ao redor, até mesmo a cidade lá fora que se restaurava, estava quieto.

Finiti olhava para o escuro, todas aquelas palavras rodavam em sua cabeça, agora coisas faziam sentido: o ódio particular que Drana parecia ter por finiti e amintor, a total concentração da rainha das trevas em Eleon, as palavras “Amintor vai me pagar”, agora caiam como uma luva.

- Então...Drana...é minha irmã?- perguntou ela e sua voz estava chorosa como a de uma criança.

- Sim querida, sua irmã.- respondeu Madame Ávata carinhosamente.

Mais um longo instante de silenciou pesou no quarto. Lagrimas caiam ardendo dos olhos de finiti. Uma sensação estranha assolava seu coração, uma mistura de surpresa, com decepção e amargura.

- mas...por que...Terione?- gaguejou ela, não entendia como a mãe podia ter se envolvido com o rei do Fogo Negro.- havia tantos!

- Querida, já viu alguma pintura ou retrato de Terione Ógorió V?- perguntou gentilmente Madame Ávata.

- Não.- respondeu finiti seca.- nunca me interessei por tal ser.

- Bem, Terione era da dinástica dos Ógoriós, magos que dominavam e manipulavam a chama negra, arrogantes eles eram, mas não faziam mal a ninguém. Ficavam dentro de suas terras, desenvolviam encantos e magias, poderes incríveis tinham e criaram. Mas o Ógoriós eram belos, belos como não se pode descrever, cada olhar era tão escuro, intenso e misterioso como a própria noite, cada fio negro de cabelo parecia ser feito de seda, a pele branca podia ser confundida com o mármore e cada voz misteriosa podia ser descrita como a voz do mar cantando á sua amada lua.

- Terione era belíssimo querida, e apesar de sua maldade ainda sim tinha algo de bom e posso lhe garantir, se um dia houve amor naquele coração negro, este amor foi por sua mãe. Foi por isso que Terione não deixou que Gertunio matasse finiti, ele a amava e sabia que ela esperava um filho seu. E diante dos encantos daquele príncipe noturno é totalmente aceitável finiti ter se apaixonado por ele.

Finiti tentou imaginar a figura de Terione em sua cabeça, se Ávata dizia que ele era belo, então ela acreditava, mas ainda não entendia como sua mãe podia ter se apaixonado por um ser que estava causando tanta dor e desespero para o mundo. E ainda não conseguia engolir a idéia de ter vindo o mesmo ventre que Drana. Não era possível.

- mas e meu pai?- perguntou ela por fim.- minha mãe traiu meu pai com Terione?

- Não. Quando Amintor se apaixonou por finiti e começou a corteja-la ela ainda amava Terione em segredo, estava no começo de sua gestação, mal conhecia Amintor . Ai então acordou para a realidade e viu que apesar de Terione ser um príncipe para ela, estava sendo o demônio para o resto do mundo, e então o abandonou e com a convivência com Amintor começou a apegar-se a ele.

- Mas ainda sim Terione a amava e a manteve viva, e como eu disse, se houve algo de bom naquele coração foi por sua mãe, pois o que se esperava era que ele tivesse matado finiti. Mas ele a manteve viva, não protestou quando ela se juntou a Amintor e quando Gertunio tentou assassina-la, ele matou seu próprio capitão.

- Essa é a história da imperatriz Finiti Elga Eleonora, que se apaixonou pelo rei do Fogo Negro, teve uma filha com ele, Drana, sua irmã, que agora tenta mata-la e derrubar o rei que a privou de uma vida feliz.

- Ela não é minha irmã!- exclamou finiti com firmeza.

- Pode negar querida, pode até fingir ou se convencer de que não é verdade, mas isso jamais mudará as coisas. E se quer um conselho de uma velha vivida, aceite. Quanto mais rápido aceitar mais rápido vai encontrar uma solução para esta guerra, pois uma coisa esta ligada à outra.

- E o que a senhora sugere que eu faça?- perguntou finiti, uma pequena luz começando a irromper pela escuridão de seus olhos.- O que minha relação familiar com Drana pode mudar nesta guerra?

- Na verdade, também não sei. Mas Drana procura vingança contra Amintor, você é a filha que teve tudo o que ela queria ter, talvez se você pensar bem encontre algo que possa ser útil dentro disto.

- Tive a vida que ela queria ter?- perguntou finiti incrédula.- eu fiquei tão pouco tempo com minha mãe quanto ela. Não tive nada que ela possa invejar.

- Tem certeza? Você ao menos teve o amor de um pai e de outras tantas mil pessoas. E ela, nada. Mas este ponto é bom, as duas desejaram ter passado suas vidas com Finiti, porém nenhuma teve essa sorte. Pense nisso, talvez aja uma solução para esta guerra, dentro deste pequeno ponto.

Finiti pode ver o borrão de Madame Ávata Callis levantando-se da cama ao lado e saindo do quarto. Uma luz forte inundou seus olhos que arderam. Depois de alguns segundos ela pode ver o sol se pondo pela janela do quarto. Voltou a enxergar. Lágrimas caíram.

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se tiverem alguma sugestão tbm serão bem vindas.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 06/04/2009
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