A joaninha Nini na Poesiolândia _(Fábula)


Poesiolândia era um país como qualquer outro deste nosso planeta. Apenas não fazia parte da ONU, pois estava localizado na fantasia de cada um. Também poderia ser chamada Terra da Poesia.
Seus habitantes, qualquer ser vivo, animal ou vegetal, nascia com entusiasmo criador para as letras. Havia aqueles que não o desenvolviam.

Nini, desde bem menina, descobriu e ampliou seu dom.
Cresceu numa família normal, como quase todas as do país. Todavia, a pequena sofria com as dificuldades que o álcool trazia a seu papai e consequentemente a sua mamãe.
Indescritíveis tormentos, passava sua progenitora e, em lágrimas, aliviava seu sofrer. Nini e seu irmão João, apenas abraçavam-se a mãezinha, tentando dar a ela o conforto necessário. Muito mais, eles não poderiam realizar, pois eram crianças.

Passara o tempo, Nini adolesceu. Como toda jovem, sempre sonhara com seu príncipe encantado, até que um dia o encontrara.
Nem tudo na vida, acontecia como o pensar sensível e poético de Nini. Seu príncipe, na verdade, era um sapo e a vida dela, um verdadeiro pântano.

Como todo batráquio, envolvo em rugosa e grosseira casaca, seu consorte (no caso em questão, seria sem _ sorte), debochava de seus escritos, dizendo ser inutilidade aquilo que ela chamava de poesia.
Afirmava, que lugar de mulher, era na beira do tanque ou do fogão... Que uma mãe de família deveria cuidar de seus filhos e de seu marido. O resto era apenas entulho, coisa de gente ociosa.
Zombava dela e sua gargalhada ressoava no fundo de sua essência feminina e tão sensível.

Então, seu refúgio aos infortúnios da vida, era a escrita. Poemas compassivos carregados de dor, de amor e de esperança. Algum dia, sua existência seria melhor.

Mestre tempo continuara a passar e Nini, fortalecida pela agonia, conseguira um novo rumo a sua vida. Não deixara de acreditar no amor, mas dera um basta naquela situação opressiva na qual vivia.
Abandonara de vez o pântano e fora concluir seus estudos, interrompidos quando se casara.

A UFPOE (Universidade Federal da Poesiolândia), sempre fora conhecida por como um estabelecimento de ensino, onde imperava a igualdade entre todos os seus membros, fosse o corpo docente ou discente. Não havia dois pesos e duas medidas. Se o reitor ou um professor dizia algo, tinha necessariamente que servir para todos, inclusive eles.
Nini estava feliz, resolvera cursar Letras e assim aperfeiçoaria seu dom natural da escrita.

Gostava das aulas de poesia com assunto livre, onde os alunos podiam fazer exercícios poéticos sobre variados temas, ora fornecidos pelo mestre, ora por eles mesmos(os alunos).
O titular da disciplina era Excelentíssimo Senhor Doutor Bianco Cômodo. Um corpulento iguana, conhecido por ser muito exigente e de discernimentos de justiça, por vezes, ambíguos.
Instalara em sala de aula, um mural, onde os discípulos deveriam afixar seus poemas escritos em suas aulas. Todavia, ele criara normas para a execução desta tarefa.

Nini nunca fora contra preceitos, para o bom andamento das coisas, eram necessários regulamentos, mas que eles fossem os mesmos a todos.
Algumas das normas do Professor Cômodo eram as seguintes: cada aluno só poderia colocar um poema por dia no espaço reservado; não seriam aceitos elogios a colegas no mural (estes deveriam ser feitos oral ou por meio de cartas), entre outros.

Naquela manhã, Nini acordara-se nostálgica. Fora para a aula na universidade, pensando em todos os fatos acontecidos em sua biografia.
O assunto do dia, recomendado pela colega Nea, fora “ventos do meu passado”.
Nini sentira-se muito motivada e dera asas ao seu entusiasmo criador.
Compusera quatro belos poemas, todos eles reflexos de sua memória passada.

Num ímpeto de euforia, colocara os versos em sua totalidade, no mural do Professor Bianco Cômodo.
Os colegas sensibilizaram-se com seus relatos e demonstraram solidariedade a ela, por todo sofrimento que havia suportado em sua vida.

Ao perceber a atitude de Nini, Mestre Bianco Cômodo, colocara uma nota escrita no mural, comunicando a Nini que ficara tocado com seus poemas, mas a regra dizia: um poema por dia.

Nini desculpara-se, dizendo que aquilo não sucederia mais.
Docente Bianco Cômodo, tentara remediar a situação, afirmando que sua nota não fora uma advertência, mas sim um comunicado explicativo de que o que valia para um valeria para todos.

Aparentemente, Nini aceitara a retificação do professor, até chegara a manifestar dúbio agradecimento.
Fora para sua casa, onde seu novo amor poeta a esperava de braços abertos. O restante do dia transcorrera tranquilo para ela, pois o amor sempre operara milagres naquela nova fase de sua existência.

Num cantinho da sala de aula, durante o incidente acontecido com Nini, a coruja Dione, uma aluna discreta e pouco falante, pensou:

_ “Aqui, o que vale para um vale para todos!... Porém, o Professor Bianco deve ter lido o livro “Revolução dos Bichos” de George Orwell. Tem certa passagem que diz:

“... Todos os animais são iguais perante a Lei, porém alguns são animais mais iguais que os outros...”

E foi por isto, que ele Senhor Bianco Cômodo advertiu Nini publicamente, quando a regra é colocar no mural apenas poemas. Os elogios, aqui no caso, críticas, devem ser feitos em particular.

Realmente, repensou a coruja Dione, nesta sala de aula não é sempre cumprida a Lei. Vale o velho dito popular: ”Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”...

Nini ainda voltara às aulas do professor Bianco Cômodo, porém Dione comparecera mais alguns dias e desgostosa, retirara-se, quieta e discreta como uma coruja sempre devera ser.


Imagem:http://2.bp.blogspot.com/_qA4dbfGur78/RtygXHhnPRI/AAAAAAAAAQo/Y0q-UYkF7Ew/s400/joaninha-copy.jpg