O Raptor

Capítulo 1

Vou contar-vos uma história interessante que me aconteceu há uns tempos...

Mas primeiro vou apresentar-me: chamo-me Alexandra, mas os meus amigos tratam-me por Xana. Tenho 16 anos e moro em Alverca, uma pequena cidade a norte de Lisboa.

E foi aqui que tudo começou., no dia 18 de Setembro de 2000.

Era uma segunda- feira e as aulas estavam a começar. Acabara agora de entrar para o 11ºano e, como sempre, sentei-me ao lado da minha melhor amiga, a Sofia.

Sofia e eu somos amigas há muito tempo, apesar de fisicamente termos pouco em comum. Sofia é alta, morena de olhos castanhos e eu sou baixa, loira e de olhos verdes. Ambas usamos óculos e partilhamos segredos que ninguém imagina. Tipo aqueles "segredos de Estado".

Mas as diferenças físicas nunca nos impediram de sermos amigas. Damo-nos como irmãs e até nos tratamos como tal.

Estávamos na primeira aula do dia, e do ano, juntamente com toda a turma, acabados de conhecer o novo professor de inglês e aguardávamos o final da aula. Isto porque a seguir iria ser a tão esperada aula de Educação Física. Nos balneários a agitação era geral pois tínhamos ouvido dizer que o nosso professor era, por assim dizer, um "pão". Portanto era compreensível que estivéssemos todas em pulgas para o conhecer!

Sofia e eu trocávamos olhares impacientes... ela porque queria saber se o prof. era mesmo um "pão". e eu porque tinha esperança que, sendo o prof. um "pão", as raparigas da turma deixassem de olhar para o meu apaixonado.

Eis então que dá o tão esperado toque de entrada. Cada vez mais impacientes, as raparigas tagarelavam e os rapazes faziam aquele olhar indiferente à situação.

Então a porta abre-se para entrar um professor. O aspecto dele deixou toda a gente paralisada e estática. Apresentava um visual estranho... estranho demais para dizer a verdade. Era baixo, gordo e quase careca. Os poucos cabelos que tinha estavam em pé, como se dissessem: "Olá...somos poucos mas estamos aqui!". Tinha um bigode farfalhudo e um ar taralhoco. Vinha agora na direcção da nossa turma. Todos sustivemos a respiração sem acreditar no que nos estava a acontecer!

Foi que então finalmente conseguimos respirar novamente quando ele passou para a turma do lado.

Algum tempo depois deu o segundo toque, e como eu e a Sofia já estávamos fartas de ali estar à espera, caminhámos para a porta.

Assim que pus a mão na maçaneta a porta abre-se e entra um homem um pouco apressado, tão apressado que me atirou para o chão. Ainda um pouco atordoada vi uma mão à minha frente e, sem saber de quem era, agarrei para me levantar.

Já de pé decidi saber quem fora a gentil pessoa que me ajudara. E então eis que vejo uma miragem à minha frente: um homem com talvez 25 anos, cerca de 1,85m, loiro de cabelo espetado e um porte atlético. Tinha um visual altamente "cool". Tipo surfista.

- Estás bem?- disse ele, com uma voz incrivelmente masculina!

- Sim...acho que sim.- disse ainda um pouco zonza.

- Sabes, não devias andar assim atrás das portas, podia ter-te magoado a sério!

- Está bem... desculpe...

- És desta turma?

- Sou...

- Sou o vosso professor de Educação Física.

Foi então que uma sensação de espanto invadiu toda a turma. Um tipo com um estilo daqueles a ser o nosso professor! Mal podia esperar para contar às outras turmas, iam roer-se de inveja!

Foi então que me lembrei da Sofia, que estava comigo. Quando olhei para ver onde ela estava vi-a no mesmo sítio onde a tinha visto pela última vez: perto da porta, mas estava esquisita. Os olhos dela estavam completamente estáticos, assim como o restante corpo. Era incrível, ela estava completamente pedrada! Foi então que os seus olhos se mexeram, não para ver o que se passava, mas para percorrer todo o corpo do novo professor. Os olhos dela só pararam quando chegaram ao seu traseiro, não menos espectacular que o resto do corpo.

Tudo bem... ele era um "pão" como nos tinham dito. o corpo dele valia no mínimo uns 20 valores, mas não me "roubou" o coração. Já o mesmo não podia dizer das outras raparigas da turma...

Os dias passavam e ninguém deixava de falar do célebre professor de Educação Física. A doideira era tal, que algumas até deixaram os namorados, só para ficarem disponíveis para o "Pedrinho"- era esse o seu nome, Pedro Andrade.

O lado bom desta história era que agora as raparigas da turma deixavam de se babar para cima do Paulo e do João, o meu amor e o da Sofia.

Eu continuara cada vez mais apaixonada pelo Paulo, mas não sabia se a Sofia continuava tão interessada no João como antes...

Tudo bem...eram os nossoas apaixonados, mas nunca tínhamos conseguido nada deles além de uma bela amizade...mas não deixavam de ser os nossos apaixonados!

Capítulo 2

Não conseguia perceber para quê que a Sofia queria um homem assim, quando se tem um como o João! O João era o tipo de rapaz que causava olho gordo em todas as raparigas da escola: era moreno (tem descendências indianas),alto, tinha um corpo incrível, era simpático com toda a gente, e o melhor, dava-se às mil maravilhas com a Sofia . Além disso, apesar da turma não saber que ela gostava dele, todos diziam que eles faziam um par fantástico, o que era essencial. Como actividade de tempos livres, adorava ir para o Clube de Jovens, tocar numa banda.

Já o Paulo, fisicamente era quase o oposto: também era alto mas tinha a pele clara, cabelo moreno espetado, não tinha um porte tão atlético como o João, mas punha sem dificuldades mais de metade dos rapazes da escola, a um canto.

Era ciclista profissional e adorava ir à internet, tal como eu. Inclusivamente, chegámos a falar lá muitas vezes. A nossa relação também era espectacular. Éramos grandes amigos, o que era óptimo para mim.

Ambos são fantasticamente bonitos e muito cobiçados pelas raparigas da escola.

Quer dizer... eram cobiçados. Até este novo professor chegar... agora todas as raparigas só pensavam nele, até a Sofia parecia ter sido apanhada por esta onda de paixão causada por "Pedro- o incrível pão".

E para dizer a verdade, esta história começava a preocupar-me. Não pelas outras, mas pela Sofia.

Tentei falar com ela, mas ela não me dava ouvidos. Dizia que não tinha mal nenhum gostar de um professor. Que toda a gente já um dia teve uma paixoneta destas e que passou. Além disso, não estava a pensar em pedir o professor para namorar nem sair. Apenas queria admirá-lo de longe e quieta. Eu a princípio acreditei nela e fiquei mais descansada. Afinal era apenas um homem bonito e, não tarda nada, já nem lhe ligavam nenhuma!

Mas os dias passavam e aquele assunto nunca mais se resolvia. Eu via a Sofia cada vez mais apanhada pelo professor e não havia maneira de a deter.

Até que um dia estávamos nós numa aula de Filosofia, que por acaso até nem é da mais chatas, e dei com a Sofia completamente absorta nos seus pensamentos e a escrever umas mensagens de amor na mesa. Mensagens essas que tinham como protagonistas o nome dela e do prof. Pedro. O caso estava a ficar sério demais para uma paixoneta vulgar. Tinha de fazer algo. Não sabia como, mas tinha de o fazer.

Então batem à porta e entra uma empregada da escola com um comunicado.

Tinha ordens para esvaziar a escola completamente em duas horas, pois depois seriam fechados os portões. Toda a turma desatou aos "hurras" e depressa arrumaram as malas para se pirarem dali. Apesar de achar aquilo estranho, saí da escola, afinal não queria ficar ali dentro. Todos achámos um pouco estranha, aquela decisão do Concelho Directivo, mas por entre opiniões e hipóteses, estávamos longe de imaginar a verdadeira razão daquela debandada escolar...

Capítulo 3

Pelo caminho, como de costume, a Sofia vinha com os pensamentos longínquos. Enquanto isso eu ia falando com o Paulo, que vinha connosco:

- Não achaste esta cena um pouco estranha?

- Sim, mas mais estranho foi eles nem sequer nos darem uma explicação para isto!- respondeu ele, tentado pôr um ar infeliz e indignado.

- Pois é... foi realmente estranho..., bom... vais para casa ou vamos dar uma volta?

- Bom, eu por mim vou dar aí umas voltas... afinal saímos três horas mais cedo...

temos tempo.

- Sofia, queres vir connosco?- arrisquei eu a perguntar-lhe. Sofia... Sofia... estás a ouvir-me?

Era incrível, ela ali ao meu lado, e não me estava a ouvir!

- Sofia! - por fim gritei

- Hã? Que foi?

- Queres vir dar uma volta?

- Não, vai tu... tenho coisas a fazer...

- Está bem... bom Paulo, vamos nós né?

- Pois- disse ele

Deixámos a Sofia em casa e fomos dar uma volta. Ao passar por uma papelaria, o Paulo quis parar para comprar o Jornal de Alverca. No meio de brincadeiras tirei- lhe o jornal e li-o primeiro. Abri numa página e li em letras bem grandes: "ONDA DE DESAPARECIMENTOS CAUSA PÂNICO EM ALVERCA".

Capítulo 4

Foi então que dei um salto e puxei o Paulo para ver aquilo. Li com mais pormenores e descobri umas coisa interessantes. Segundo a entrevista, há cerca de um mês começaram a desaparecer raparigas na Escola Secundária de Gago Coutinho... o primeiro desaparecimento deu-se há cerca de um mês e desde então já desapareceram cinco raparigas sem deixar rasto. A polícia anda atrás do raptor mas ainda não há pistas evidentes.

Foi então que uma entrevista a uma das mães das vítimas me chamou à atenção...

Segundo o seu depoimento ela saiu de casa por volta das 22h e só disse que ia a um encontro... assim se passou com os restantes quatro depoimentos. Todos diziam coisas do género... mas ouve um que me intrigou... o pai de uma rapariga chamada Joana Gomes. Segundo ele, a Joana tinha saído de casa também por volta das dez e disse que ia sair com o namorado. Depois de verem que ela se estava a demorar, telefonaram para casa dele e ele disse que não só ela não esteve com ele, como também já tinha acabado o namoro há mais de 15dias.

Uma sensação de horror tomou conta de mim, e penso que o Paulo também não estava muito confortável com a situação.

Foi então que ele se lembrou de algo...

- Essa Joana... ela, segundo o que diziam, era mais uma das apaixonadas desse tal professor de ginástica... inclusive acabou com o namorado por essa mesma razão.

- Temos de fazer alguma coisa... não sei o que se está a passar mas sei que a Sofia pode estar em maus lençóis!

- Mas sozinhos não podemos fazer nada... não temos provas de que seja mesmo esse tal Pedro e se não for ele pode ser alguém perigoso... mas também estou preocupado com a Sofia, e com as outras raparigas. Xana... achas que elas ainda estão...bem?

Esta pergunta deu-me um calafrio... estariam elas vivas? Ou então o que estaria o raptor a fazer com elas? Para que estava ele a raptar jovens estudantes? Talvez a resposta fosse óbvia... para quê que se raptam jovens?? Só de pensar na resposta dava-me náuseas. Decidi não falar mais sobre isso. Apenas sabia que tinha de fazer algo pela Sofia. Decidi então ir falar com ela.

Cheguei a casa dela e atendeu a mãe:

- Oh, olá Xana! Mas... não estavas com a Sofia?

- Quer dizer... estava- menti eu- aliás, era para estar mas esqueci-me onde tínhamos combinado... por acaso ela comentou onde ia ter comigo?

- Disse sim... disse que tinha combinado contigo na porta do auditório do Scala.

- Está bem obrigado.

Depois de estar já sozinha, pus-me a pensar para comigo:- Auditório do Scala? Que ideia era essa? Nunca nos encontrámos lá!

Foi então que surgiu a resposta... mas para ter a certeza tinha de ir até ao Scala ver se ela estava mesmo lá.

Capítulo 5

O Scala era perto da casa dela. Fui até lá mas não a vi na porta. Decididamente não era ali que estava. Decidi então ir para casa e talvez telefonar-lhe mais tarde.

Mas não foi necessário. Ela própria me telefonou. Assim que atendi percebi que era ela. Mas estava com uma voz feliz e despreocupada. Pedi-lhe que me contasse o que se passara.

Fiquei para morrer ao saber a causa de tanta felicidade: ela tinha conseguido sair com o Pedro e agora namoravam! Mal podia acreditar no que estava a ouvir. Decidi então fingir que estava de acordo e não lhe falar dos desaparecimentos. Sabia que não me ia dar ouvidos e não a queria preocupar com aquele assunto. Assim que desliguei o telefone decidi ligar para o Paulo e marcar um encontro. Mas desta vez queria que o João fosse também. Além de querer a ajuda dele queria que ele soubesse o quanto a Sofia gostara dele mas que agora andava embeiçada pelo professor.

Em meia hora estávamos todos em casa do João.

Contei-lhes o que se passara e sobre o telefonema. Ficaram totalmente embasbacados! Depois completei o meu discurso contando ao João que a Sofia gostava dele e falei da notícia que tinha lido no jornal local.

Depois de alguns segundos de paralisia geral, deu um salto e falou indignado:

- Mas quem é que esse Pedro pensa que é? A raptar as raparigas para fazer-lhes sabe-se lá o quê! E escusam de dizer que não há provas contra ele porque esses tipos topo-os à légua! Eu vi logo o género dele. Deixa-as doidas e depois- zuca- rapta-as!

Mas a revolta dele passou de repente a um olhar triste.

- Porque é que ela nunca me disse que gostava de mim? Podíamos ter evitado isto tudo! A esta hora estávamos a namorar e ela já não estaria a correr este perigo todo!

- Gostas dela não gostas?- arrisquei eu com firmeza.

- Sim, muito. Mas pensei que ela não gostasse de mim, por isso não lhe disse nada. Mas agora já não interessa... é o professor que ela quer... já para não falar que se todas as outras miúdas terminaram os namoros por causa desse Pedro, ela com certeza iria fazer o mesmo!

- Tás passado ou quê?- interrompeu o Paulo- se tu gostas dela tens de lutar por ela. Esta é uma óptima oportunidade para lhe mostrares os teus sentimentos!

- Pois claro!- disse eu- estamos a precisar de mais um membro na equipa de detectives... tu preenches todos os requisitos!

- Vocês têm razão! Eu gosto dela e não vou deixar que ela caia nas garras desse tipo...

- Bom malta- disse eu- temos de saber por onde começar... tenho uma ideia. Vamos às casas das jovens desaparecidas, falar-lhes do nosso objectivo e tentar descobrir entre as coisas delas se há algo que indique que estavam interessadas no Pedro. Só assim podemos ter carta branca para avançar...

- Boa ideia!- apoiou-me o Paulo.

- Mãos à obra!- encorajou o João.

E assim saímos pela porta decididos a resolver este mistério.

Fomos falar com os pais das vítimas e eles colaboraram bastante. Deixaram-nos entrar e ver as coisas delas. E o que encontrámos não era surpresa... só desenhos e bilhetes onde diziam "I love Pedro" e coisas do género. Uma até já tinha uma foto ampliada na estante!

Na casa da última vítima, encontrámos coisas mais interessantes: um bilhete guardado debaixo da almofada em que dizia:

"Vem ter comigo ao auditório do Scala às 22h. A porta estará aberta para entrares. Aparece. Não contes a ninguém. É o nosso segredo... com carinho do para sempre teu:

Pedro Andrade."

Capítulo 6

Era o que nós precisávamos para poder avançar sobre ele! Mas sabíamos que não era o suficiente para o enquadrar atrás das grades durante uns tempos...era uma prova insuficiente e basicamente não provava nada.

Tínhamos de ser nós a agir e o quanto antes!

A primeira coisa a fazer era manter a Sofia em segurança.

Então resolvi telefonar-lhe. Eram já 22he30m, não tinha a certeza de estarem acordados mas, tendo em conta o que se passava tinha de tentar.

Ao contrário do que esperava atenderam depressa. Era a mãe da Sofia. Atendeu rapidamente:

- Sim?- atendeu ela

- Boa noite. Desculpe, a Sofia está?

- Ah... és tu... olá. Pensei que fosse a Sofia.

- A Sofia? Mas ela não está em casa?

- Não, não. Ela saiu há cerca de uma hora e ainda não voltou. E já estou a ficar preocupada! Já é tarde... nem sequer levou o telemóvel! Assim já lhe podia ligar, mas deixou-o em casa!

- Pois... está bem desculpe ter incomodado. Não se preocupe demasiado. Vai ver que ela já aparece. Já agora... ela disse onde ia?

- Disse que ia àquele tal auditório, mas o Scala fecha às dez e já são quase onze!

- Pronto está bem... descanse que ela já aparece! Vai ver que ela só encontrou alguém e ficou a conversar. Olhe, já agora podia dizer-lhe para me telefonar quando chegar? Seja à hora que for.

- Está bem, eu digo-lhe quando ela chegar...

- Obrigada e boa noite...

A questão agora era: iria a Sofia voltar para casa?

Capítulo 7

Fomos então os três até ao Scala. A equipa de detectives Xana & Cia. Estava em acção, agora com um caso muito pessoal entre mãos...

Fomos então até ao Scala. Não sabíamos o que nos esperava nem como íamos entrar, pois àquela hora já devia de ter fechado...

Para nossa surpresa, ou talvez não, a porta estava encostada e conseguimos entrar.

Avançámos pelo corredor em direcção à porta do auditório, cautelosamente, não fosse algo nos apanhar de surpresa...

Entrámos, pé ante pé, pela porta do auditório e não demorou muito para que percebêssemos o que se estava a passar.

O professor tinha as raparigas em cima do palco, amarradas e amordaçadas em cadeiras, todas em fila. E para nossa tristeza a Sofia já se tinha juntado a elas.

Era uma visão horrível. Ver aquelas raparigas todas amarradas, com um olhar desesperado querendo pedir socorro, mas sem poder. A cara da Sofia foi a que mais me doeu. Talvez por ser minha amiga...a minha melhor amiga!

Ela tinha um rosto inexpressivo... as suas feições não transmitiam qualquer sentimento. Parecia que se sentia condenada e tinha já aceite o seu destino. Esta sensação deu-me um calafrio.

Partilhei alguns dos meus pensamentos com o Paulo e o João, que também estavam impressionados com a situação. Foi então que o João decidiu arranjar um plano para actuar.

Deslizou por entre as cadeiras, até perto do palco, onde planeava saltar-lhe em cima. Eu sabia que não ia funcionar, mas...além se ser a única ideia do momento... tentem contrariar uma pessoa apaixonada!

Eu e o Paulo ficámos sem saber o que fazer. Mas sabíamos que não podíamos ficar ali à espera que o João agisse sozinho.

Então, lembrei-me que tínhamos estado ali há pouco tempo a fazer um teatro.

Os meus conhecimentos dos bastidores iriam dar-me algum jeito neste momento!

Eu e o Paulo esgueirámo-nos pela porta de onde tínhamos entrado, e fomos pela porta dos bastidores que ficava do outro lado do corredor.

Tentámos abrir a porta que, surpreendentemente, estava já aberta. Teria sido o professor que a tinha aberto? Ou teria ele mais alguém com ele naquela embrulhada de raptos? Tinha o pressentimento que saberíamos a resposta em breve... empurrei a porta devagar, para poder observar o que estava lá dentro.

Ou QUEM estava lá dentro. Entrámos pouco a pouco e mergulhámos na escuridão que engolia os bastidores do auditório. Seguida do Paulo, começámos às apalpadelas para ver se nos guiávamos por entre aquele breu cerrado. Foi então que ouvi um barulho estranho... com custo pude ver alguém no chão... era o Paulo!!!!!

Capítulo 8

Nem queria acreditar naquilo que os meus olhos viam, e mal!

O Paulo que ainda há pouco me seguia estava ali desmaiado. Desci até ele, com mais medo do que aquele que já tinha antes, para tentar ver se ele estava bem e porque é que ele tinha desmaiado assim de repente.

Ele, meio zonzo, disse uma meia dúzia de palavras que não consegui perceber.

Depois então repetiu:

- Está aqui alguém...

- Quem?

- Não sei...tem cuidado...

Passado algum tempo pude perceber que o Paulo não tinha desmaiado... tinha mandado uma cabeçada num projector. Por um lado até me apetecia dar umas risadas, mas naquele momento não estava interessada em mais nada, só nele. Procurei ver se tinha sangrado mas felizmente estava tudo bem. Acho que tinha sido mais um susto... e um pouco de dores! Fiquei um pouco com ele à espera que ele se pudesse levantar para retomarmos a nossa missão. Naquele momento em que ele se levantou a cambalear que voltei a mim e me recordei do que se passava realmente: naquele instante estavam pessoas amarradas no palco, à mercê de um louco e o pobre do João lá estava à espera do momento em que pudesse intervir. Mas esse momento nunca viria se nós continuássemos ali nos bastidores cheios de lamechisses!

Dei uma última olhadela ao Paulo (sim, porque uma rapariga não é de ferro), e depois de verificar que ele já estava melhor, decidi pôr as nossas cabeças a pensar num plano!

Não sabia bem o que havíamos de fazer, mas o facto é que tínhamos de agir, e depressa...antes que fosse tarde demais.

Sentados ali, no escuro apenas estávamos concentrados no que deveríamos fazer, ouvi novamente um barulho. Apercebemo-nos que havia mais alguém: o ajudante do Pedro! Precisávamos tirá-lo de cena antes de passarmos ao actor principal. Mas antes tínhamos de arranjar um plano extra para o apanhar...

Lindo serviço! Ainda nem tínhamos uma ideia de como iríamos tratar do problema principal, e agora apareceu-nos este!

De repente ouvimos passos. Eram no andar de cima, nos camarins.

Eu puxei o Paulo para a arrecadação e esperei que ele descesse pelas escadas.

Com cuidado procurei algo para executar o meu plano. Num ápice achei uma vassoura, era o ideal. Separei- a do cabo e dei-o ao Paulo. Eu sabia que com a minha força não iria longe portanto disse ao Paulopara que quando ele descesse as escadas, lhe desse com o cabo na cabeça.

Tal como planeado, o plano resultou e não se fez muito barulho.

Arrastámos a personagem desmaiada para a arrecadação e amarrámo-la para que não fugisse.

Depois de bem amarrado procurámos uma maneira de o ver bem. Acender a luz da arrecadação não seria boa ideia, mesmo que houvesse. Acendi o isqueiro para tentar ver quem era o cúmplice do Pedro.

Esbocei uma cara de horror quando vi quem era a terrível personagem, o Paulo chegou a soltar um abafado som de espanto...

Era nem mais nem menos que, o nosso professor de Geografia, o conhecido por "Toupeira". Mas... como é que uma COISA daquelas pode estar metida nisto?

Este nosso professor era assim conhecido pela sua fantástica "placa dentária" projectada para a nossa cara. Mas apesar de ser uma personagem caricata, nunca pensei que ele fosse má pessoa.

Detalhes que íamos esclarecer, se não fosse ainda termos outro caso mais grave para resolver...

Decidimos deixar ali o "Toupeira" fechado e passar à fase seguinte.

Capítulo 9

Destingui uma luz fraca atrás de nós. Era a luz que vinha da sala do auditório, onde se encontrava o Pedro, supostamente o João e as vítimas daquele maluco do Pedro, nomeadamente a nossa amiga Sofia.

Eu e o Paulo ainda não sabíamos bem o que fazer, mas fomo-nos esgueirando por detrás do pano de modo a que ficássemos do outro lado do pano e mais perto do malvado professor.

Ao chegarmos ao outro lado pude ver que o João já estava atrás da segunda fila, doido para saltar em cima do raptor. Só dei por mim a sussurrar para mim mesma: "Tem calma João. Aguarda o momento certo!"

- Tem calma tu rapariga! - sussurrou-me o Paulo em tom calmo.

Com certeza também estava nervoso, mas sabem que os rapazes são aquela base...

Foi então que depois de muito falar com as meninas, o Pedro começou a actuar.

Com aquele ar repugnante que têm todos os pedófilos, começou a beijar as raparigas, que nada podiam fazer porque estavam amarradas.

Beijou uma por uma, sendo a Sofia a última.

Subitamente senti o sangue a aquecer e subir-me à cabeça! Não aguentei e saltei para dentro do palco.

E qual não foi a cara de espanto do Pedro quando me viu a sair de trás do pano! Mas a minha raiva não me deixou pensar no mais óbvio! Ele agarrou-me e começou a tentar amarrar-me como as outras!

Tentei gritar mas ele tapou-me a boca. Então mordi-o! Qual não foi o meu espanto quando ele me mandou uma bofetada para eu me calar.

Só me lembro de ter caído no chão e de ver o João a ganhar coragem e a sair de trás das cadeiras directamente para as costas do agressor!

A custo levantei-me e rapidamente soltei a Sofia que me abraçou com força e começou a chorar.

O Paulo na mesma altura saiu de trás dos panos já com um fio de microfone na mão para amarrar o Pedro.

Depois de prenderem o agressor e de o enfiarem na arrecadação juntamente com o “Toupeira”, soltaram as restantes raparigas que logo nos agradeceram por tudo o que fizéramos por elas.

Mandámos as raparigas embora sob promessa de deporem contra aquele marginal e o seu ajudante.

Às tantas estávamos os quatro sem saber o que dizer em cima do palco, até que decidi entregar a Sofia nos braços do João, do género... "vocês que são brancos que se entendam"!

E como que por telepatia, eu e o Paulo descemos do palco e sentámo-nos na plateia para descansar um pouco e ver o que o resto do "filme" iria trazer.

Capítulo 10

Foi então que o João abriu a boca e disse:

- Sabes Sofia...eu...eu nunca te disse mas... olhem malta não achas que era melhor irmos embora?

Foi então que o Paulo se levantou da cadeira e disse:

- Possa pah! Diz logo que gostas dela e vamos para casa!

- Olha e se te metesses na tua vida? Já que estás com essa conversa toda porque é que não te declaras à Xana duma vez também???

Foi então que petrifiquei...não, não pode ser! Isto é um sonho!

E no decorrer deste sonho dei pelo Paulo a pegar nas minhas mãos e a levantar-me da cadeira.

- Xana... eu....

E pumba! Não é que eu desmaiei??? E logo nesta altura!

Quando acordei vi que estava no chão do meu quarto e que tinha caído da cama...

Estava meio abananada e custou-me a perceber tudo o que se passara...

Ora bem! Tudo não tinha passado de um sonho...ou um pesadelo, não sei!

Eram 10.30h da manhã, decidi que tinha de contar à Sofia este incrível sonho!

Vesti-me à pressa e saí de casa. Corri até à casa da Sofia.

Toquei à campainha e atendeu a mãe, que, com uma cara de espanto me abriu a porta e me disse:

- Então a Sofia?

- A Sofia???? O que é que tem a Sofia?

- Ela disse-me que ia dormir a tua casa!

FIM

Gasosa
Enviado por Gasosa em 12/06/2006
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