As Aventuras de Nick James 5 - Nick James salva o mercado das festas

Nick James salva o mercado das festas

— Nick James, como você acha que eu vou continuar minha dieta? Indo a baile de chopp?

— Ora, guria, você não precisa desse negócio. Vai comigo ou não vai?

Bem, depois daquele elogio, eu só poderia acompanhar este adorável detetive à tal festa, não é?

“4 de novembro de 1994, 22 horas, salão paroquial da igreja Cristo Redentor... dança e chopp à vontade!” Se tem coisa que o Nick James mais gosta é de chopp e dança. Ainda mais sendo de graça.

Ainda era de manhã, e eu fui buscar o jornal para o Nick. Ele sempre começa a ler o noticioso pelo fim, que é onde tem a seção policial, mas hoje se deteve na de saúde.

— Estás mais “relax” hoje, não, Nick?

— É ... Eh! Eh! — e analisava uns papéis que o Romeu, colega dele, tinha obtido nuns arquivos.

— Ai, eu detesto essas risadinhas dele porque eu nunca sei o que elas querem dizer... Mas tudo bem, não dá nada mesmo. Ele deve estar procurando saber quanto de chopp não deve tomar hoje à noite.

Bem, fomos à festa. De ônibus, é claro. Nem com carro popular no mercado o Nick resolve comprar condução própria... Que tem lá suas inseguranças também, ao passo que um ônibus — para quem usa roupa comprada em liquidação e nunca tem recheio nos bolsos — não tem.

— É, guria. Não reclama, que andar de ônibus é a melhor coisa que tem. Olha pra rua. Aprecia a paisagem urbana-histórica-arborizada-moderna da nossa amada Porto Alegre.

Eis que chegamos à festa e nos divertimos bastante. Só música de bandinha. Nick soltou a franga.

E depois de algumas horinhas, nosso adorável detetive já estava meio alto. Ou talvez não. Porque dali a pouco ele já estava pulando pra lá e pra cá abraçado num “sei-lá-quem” muito mal-encarado, que eu tinha certeza que não era amigo dele.

E dali a pouco tinha umas pessoas já caindo de tão “tortas”. Que fiasco! E o Nick não largava do homem, que visivelmente queria ser soltado. Mas Nick aparentemente não havia percebido que já estava incomodando o sujeito, que era o tirador da barrica de chopp nº 1.

Então saí da rodinha de amigas que me encontrou na festa e fui até o Nick pedir para ele parar de beber e largar o cara, que aquilo já estava dando na vista. Foi aí que pintou o suspense: Nick piscou para mim o sinal Morse combinado para atenção ao perigo.

— Aí tem coisa! — pensei, tentando lembrar do que Nick fez e pesquisou nesta semana para ver se encaixava com alguma pessoa suspeita naquela festa. O ruim é que numa festa daquelas todas as pessoas podem ser suspeitas, mas como Nick nunca diz nada sobre suas investigações, e hoje só mandou ligar para o Romeu, tentei fazer uma eu mesma: Nick devia estar cuidando alguém, e aquele homem podia ser seu “disfarce”.

Notei outra barrica, sevida por um sujeito também mal-encarado, — poxa! — que estava conversando com um senhor gordo de bigode. Mas Nick não parecia estar “cuidando” ninguém... Aí ouviu-se um barulhão de sirene de ambulância e três ambulâncias bateram ali no salão. Nick “não deu bola”, então fui lá ver: quatro pessoas em coma alcoólica. Duas ambulâncias as levaram. A outra ficou de plantão com três enfermeiros muito familiares: Romeu, Ciro e Gélson, colegas de Nick, que ficaram na porta da sala. Comecei a desconfiar dos dois mal-encarados “garçons” do chopp, mas qual seria o caso? Esperar, esperar...

Foi aí (e somente aí) que eu “me liguei”: nesta festa havia quatro barricas de chopp: Nick e o homem estavam na 1, Romeu na 2 e os outros dois nas outras duas. Mas a questão era: qual o problema? Sim, porque se houvesse pessoas por algo ali eram aqueles dois (tudo bem, não se deve julgar pelas aparências, mas...), que talvez não estivessem sozinhos.

Algo a ver com o chopp ou com a coma alcoólica daqueles quatro?

E o Romeu some de repente, e olho para o cara da 1 e o Nick também havia sumido. E agora? O que eles estão tramando? Por que nunca me falam nada? Será que não dá pra confiar em mim?

Aí o Nick e o Romeu reaparecem com alguns PMs atrás e, sem alarde, retiram o cara da 1, o outro que me serviu, o senhor gordo de bigode e mais um sujeitinho que parecia ser o testa-de-ferro dos outros três, porque fazia algazarra e quebrava copos na festa. Pensei que iam esquecer de mim, por isso fui atrás e embarquei no carro com os quatro.

Na delegacia, as explicações: os caras faziam parte de uma quadrilha de “falenciadores de buffets”, cujo chefe era o próprio senhor de bigode, que precisou ir à festa para “supervisionar” o trabalho de seus subordinados, que estavam dando muita bandeira. Até no jornal saíram!

Eles agiam assim: o senhor, pessoa influente (deputado estadual), recomendava seus capangas para as maiores firmas de buffet de Porto Alegre e eles iam nas festas e avacalhavam o serviço, colocando mil temperos na comida, e excesso de álcool nas bebidas. A consequência era que as pessoas que iam à festa onde tal empresa fazia o serviço de buffet passavam mal ou não gostavam do atendimento (os caras carrancudos) e faziam “propaganda negativa” da empresa. Com isso, as empresas foram falindo, e o Sr. João Alberto teria condições de colocar a sua firma na praça, que a concorrência já estava, de antemão, falida.

— Porém, por mais bem bolada que fosse a gananciosa estratégia dele, pensando que era o plano perfeito, nunca imaginaria que Nick James seria capaz de achar o “furo”.