[Original] Refém de você - Capítulo 9

Capítulo 9

O dia de Angélica resumiu-se a ignorar todas as piadinhas a respeito de Giovana e João. E tentou se importar dando algumas respostas como “eu sei que o João me ama” “ele jamais faria isso comigo”, mas sabia que estava mentindo para si mesma. E sabia também que a cada dia a mais que passava com Leandro só aumentava o “sentimentozinho engraçado que não era bem paixão, mas também não era só atração” – era como definia quando pensava nisso. Não podia contar a ninguém.

Na maior parte do tempo Angélica se sentia sozinha, o que talvez justificasse seu apego por Leandro. Ele preenchia seu vazio até mesmo quando brigava com ela.

“Eu não estou apaixonada, estou apegada.” – Afirmou mentalmente, até ver uma cena em que a fez vacilar em sua afirmação. Uma garota conversava animadamente com Leandro e por incrível que pareça, ele correspondia da mesma forma. Era raro vê-lo interagir com outras pessoas. Enciumada, Angélica não conseguia parar de observa-los.

- Você mudou ele. – Ao ouvir a voz baixa, porém suave de Maya, ela a olhou, surpresa. Nunca haviam conversado. – Leandro tá diferente, só não notou que o motivo da mudança é você.

Um alívio imenso tomou conta da garota quando sentiu que poderia conversar com a outra sem medo de se abrir.

- Por que acha isso?

- Essa cena aí. – Apontou com a cabeça pra onde o amigo e a garota conversavam cada vez mais empolgados. – Você já o viu conversar com alguém por tanto tempo que não fosse eu?

- Não.

- Estou até com ciúmes, admito. – Eu ri sem a menor vontade. – E então, você vai sair com o Leandro hoje?

- Não tenho muita escolha... Você vai?

- Vou sim. Gostaria que ele te poupasse disso, mas pelo jeito...

- Por que?

- Leandro quer te provar coisas que nem ele mais tem certeza, Angélica. E você sabe do que eu estou falando.

E antes que ela pudesse responder, Maya se afastou em silêncio. Algo dizia que sua noite seria marcada por grandes acontecimentos.

Quando chegou a noite, Leandro e Angélica se encontraram no metrô pois a balada era no centro da cidade. Ela perguntou de Maya e ele respondeu em palavras secas que eles se encontrariam no local. Durante a viagem de ônibus (que foi estranhamente silenciosa), a garota o observava tentando entender como alguém poderia ser dono de um humor tão inconstante como Leandro.

- Quem era a garota que você estava conversando hoje na escola? – Perguntou como quem não queria nada. Ele a olhou, sério.

- Por que a pergunta?

- Eu quero saber.

- Ela é nova na escola. – Respondeu, mas ainda mantinha-se numa pose impassível. Mesmo sentado ao lado de Angélica, ele não a tocou um minuto se quer. – Queria ajuda com algumas coisas e a conversa rendeu.

Ela engoliu o ciúme a seco.

- Você não é de socializar com as pessoas da escola. – Lembrou, a voz falsamente polida.

- Ela é diferente daquela gente.

- Ah, claro! – Meneou a cabeça, debochada. – Eu imagino que sim.

- Angélica.

- O que é?

- Para de dar crise de ciúmes, você sabe que não é minha namorada de verdade. Espero que isso não te suba a cabeça.

E essa foi a primeira das respostas ríspidas que ela receberia de Leandro durante a noite.

A Diabo Doce era uma balada GLS, localizada no centro da cidade de São Paulo. O local era amplo, bem organizado e bonito, lembrando a Angélica as baladas que ela via em filmes americanos. A música era, obviamente a batida mais frenética do momentos. Pessoas dançavam agarradas, em grupo, sozinhas, bebiam, davam gargalhadas, curtindo a noite paulista. Leandro cumprimentou algumas pessoas, mas em momento algum os apresentou a Angélica. Ele estava agindo como se não a conhecesse, o que a fez odiá-lo como antigamente. Deslocada, acabou sentando em uma mesa, vendo-o interagir com pessoas que como ele próprio dissera eram “do seu mundo”.

- E aí. – Maya sentou-se ao lado de Angélica, que aliviou-se ao ver um rosto conhecido.

- Oi, Maya. – As duas observavam Leandro conversar com um homem. A troca de sorrisos fez ambas revirarem os olhos. – Ele tá me tratando mal desde que nos encontramos no metrô.

- Eu imagino. – Leandro veio até a mesa e cumprimentou a amiga com um sorriso. – Olá!

- Oi May. Ué, que milagre é esse que você não está agarrada com alguma garota?

- Vim cumprimenta-los. – Ela respondeu, sorrindo de canto pro amigo.

Era um sorriso que queria dizer outra coisa. Leandro a ignorou, procurando com os olhos uma pessoa pra poder tornar a sua noite melhor. Ele sabia que não tinha a menor necessidade de trazer Angélica ao local, mas queria desesperadamente matar esse sentimento que nutria por ela. – Apresentou sua namorada para a galera?

- Não. Angélica não precisa conhece-los.

- Porque não preciso? – Perguntou a própria. Leandro finalmente a olhou.

- Porque eu não quero.

Ele se levantou alegre e foi em direção a um grupo de homens e mulheres que conversavam no centro do local. Maya respirou fundo e olhou Angélica de forma compadecida.

- Use das mesmas armas que ele. Vá curtir a Diabo! – Aconselhou, antes de se levantar e voltar para sua acompanhante.

Angélica sentiu um nó se formar na garganta. Queria chorar, queria gritar com Leandro, mas decidiu seguir o conselho de Maya. Com a dignidade abalada e fingindo não ver a intimidade do namorado com outro homem, ela foi para o bar disposta a beber até esquecer o próprio nome.

Depois de um longo tempo Leandro soube que por mais bonito e educado que o homem a sua frente fosse não o interessava em nada. Discreto, procurou Angélica com o olhar. O choque dele não poderia ser maior ao encontra-la dançando explicitamente com uma mulher. Ele não precisou nem chegar perto pra saber que a namorada estava totalmente bêbada.

- Com licença. – Disse ao homem, e então foi na direção das duas. Angélica se afastou da acompanhante e fitou Leandro. A visão estava turva, mas ela teve certeza de que o tinha irritado porque foi puxada por ele de forma agressiva.

- Para!! Eu quero me divertir!!! – Gritava, protestando. Leandro bufando raivoso só a soltou quando estavam no banheiro feminino. – Ai, insuportável!

- O QUE É QUE VOCÊ ESTA TENTANDO FAZER?

- ME DIVERTIR! NÃO É ISSO QUE ESTÃO FAZENDO AQUI? – Berrou no mesmo tom. A cabeça dela já começava a girar. Apoiou-se na parede para não cair. Leandro de tão irritado, não percebera quando Angélica caiu.

- ANGÉLICA!

- NÃO GRITE! – Ele a ergueu com facilidade, mas não conseguia deixa-la em pé. – AI, TO ENJOADA.

- O que você bebeu??

- Não...

- Hein??

- ...Te interessa! – Quando conseguiu se soltar de Leandro, Angélica só conseguiu dar dois passos, pois o enjoo subiu rápido demais, o que a fez vomitar no centro do banheiro. E por sorte, só os dois estavam presentes.

- Tudo isso era ciúmes? – Ele perguntava, a locomovendo até a pia do banheiro e lavando seu rosto. – Que merda, Angélica! Que merda! Eu só estou tentando nos poupar de futuras decepções.

- Está me poupando de bastante coisa me obrigando a te ver com um homem? Você é ridículo. - Angélica o empurrou, mas Leandro a segurou novamente. – Querendo me provar que ainda gosta de homem? Não precisa, eu já sei que você gosta de homem!

- Cala a boca e para de me empurrar! Você não tá se aguentando em pé!

- ME DEIXA EM PAZ LEANDRO! – Eles se olharam por um longo tempo.

Havia muita coisa a se dizer, mas ninguém se manifestou. O orgulho ainda falava mais alto. Angélica soltou o ar que prendia e saiu do banheiro em silêncio e com uma decisão tomada.

Angélica não namoraria mais com Leandro.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 21/07/2010
Reeditado em 21/02/2022
Código do texto: T2391313
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