[Original] Refém De Você - Capítulo 12

Capítulo 12

Quando Angélica chegou a escola pela manhã João a recebeu de forma carinhosa, e como ela imaginava, não a pressionou a dar a resposta sobre reatarem o namoro. Eles conversaram como no início do relacionamento, sem pressa de acabar.

Foram juntos para a aula de música que a direção obrigava aos alunos a assistirem uma vez na semana. O evento forçava alguns encontros. Quando Angélica viu Leandro com Vivian automaticamente sentiu ciúmes, mas o cumprimentou discretamente com a cabeça e abraçou a cintura de João. Um pouco a frente deles, Giovana os observava em silêncio. Ela precisava resolver o empecilho que a impedia de ficar com o ex da amiga. E o plano começou a se formar quando viu o professor de história entrar na sala pra assistir a aula de música. Ela saiu silenciosa por trás da sala disposta a dar início ao que seria o fim da era Angélica Porto na escola.

Ela precisava ter o número do professor de história. Procurou na direção a lista de professores do ensino médio alegando a uma funcionária que era por conta de um trabalho de recuperação de notas.

- Ah, professor Josué... – Murmurou, baixo enquanto anotava o celular dele. – Tá na hora do senhor ter um reencontro com a sua aluna preferida.

Saiu da sala e voltou pra aula de música. Agora era confrontar Leandro. O que para sua sorte, foi extremamente fácil. Como ele estava no fundo da sala, Giovana fingiu que passava mal e teve sua ajuda de prontidão. A garota com quem ele estava também queria ajudar, mas Leandro a impediu, dizendo que não era necessário. A castanha quis rir quando fingiu um desmaio e foi carregada pelo rapaz.

“Ele é bonito e gentil. O que explica em boa parte Angélica estar apaixonada por ele.”

- Vou ver se tem alguém pra te atender. – Leandro falou, entrando dentro da sala e a sentou, cuidadoso. Ele deixou o aparelho telefônico ao lado dela. Nesse curto tempo ela mandou uma SMS para Angélica com o celular dele.

“Me encontre daqui a 1 hora no banheiro feminino, precisamos conversar.”

E depois apagou, deixando qualquer indício do que ela estava fazendo.

- A enfermeira vai te atender. – Leandro disse, solenemente. – Vamos.

Um tempo depois, Angélica, após receber a mensagem de Leandro, leu com estranheza. Não tinha mais nada com ele e quanto mais o evitasse, melhor. Só que sabia se não fosse ao encontro dele poderia piorar a situação e a curiosidade também a traia de imediato. Ela fitou João de soslaio e beijou o rosto do garoto, que a aninhou de forma carinhosa.

Josué observou com uma alegre surpresa o momento em que seu celular tocou e no visor uma mensagem de Angélica perguntava se poderiam se encontrar. Primeiro ele estranhou, mas depois ao vê-la presente na sala, aquietou-se.

“Vai ser bom ver a minha garotinha novamente.” – Pensou, sorrindo com malícia.

- Muito obrigada. – Giovana disse a Leandro, quando voltaram pra sala juntos.

- Não há de que. – Respondeu, educado. Por mais normal que a situação tenha sido algo nele dizia que tinha algo de errado. E foram pra destinos diferentes. O que Leandro não sabia era que a jogada final de Giovana estava por vir. Ela notou que a melhor amiga do garoto não fora a aula de música. E novamente beneficiou-se da informação.

- Ei, faz um favor? – Ela disse a uma garota ao seu lado. Leandro procurava pela amiga com os olhos. – Avisa pro Leandro que a Maya está esperando por ele no banheiro das garotas.

A menina assentiu, indo até o garoto rapidamente. Sua influência como amiga de Angélica continuava mais firme do que nunca. Afinal, sendo gentil com Giovana, o passaporte para ficar ao lado de “baby Angel” era certo.

Giovana sentiu espasmos de alegria quando viu os três maiores envolvidos em seu plano saírem da sala quase que em seguida. Ela então foi para o lado de seu grande amor, pois faria questão de leva-lo até a prova do crime.

- O que você está fazendo aqui? - Angélica ignorou a sensação ruim que queimava seu estomago. “Poderia ser uma simples azia.” Pensou, fechando a porta do banheiro para não ser vista.

Josué, o professor de 39 anos envolveu a garota em um abraço sufocante.

- Você pediu pra me ver, meu anjo! E aqui estou eu. – Ele beijava o pescoço da garota, fazendo-a arrepiar. De nojo.

- Eu não pedi não! – Ela tremeu quando as mãos dele tentaram abrir sua blusa.

- Pediu sim, eu recebi sua mensagem.

A sensação ruim aumentou quando Leandro entrou no banheiro e congelou ali mesmo, vendo a cena que deu início a tudo isso. A visão dela escureceu de imediato e a tontura veio em seguida quando João apareceu com Giovana ao seu lado. Ela olhou para Leandro e tudo ficou claro. Ele estava se vingando dela.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – João gritou, furioso. Seus olhos focavam as mãos do professor na blusa de Angélica. Leandro sustentou o olhar da loira e viu o que há tempos não via: ódio. Como sempre racional, ele ignorou os gritos do local e se pôs a pensar, mas nada fazia muito sentido. Para o rapaz as coisas só chegaram a uma explicação óbvia quando notou o sorriso vitorioso de Giovana atrás de João.

E tudo aconteceu como numa cena de filme. João e o professor brigando. Angélica aos prantos tentando separa-los, Leandro tentando se explicar. Pessoas se aproximavam para assistir a queda da garota mais popular da escola.

- EU NÃO FARIA ISSO CONTIGO! FOI AQUELA GAROTA! – Leandro gritou, apontando para Giovana e segurando Angélica pela cintura. – ELA FEZ TUDO ISSO!

- Eu não acredito em você! – Ela não conseguia nem olha-lo nos olhos. Seu olhar encontrou o de João, que observava a conversa dos dois extremamente confuso. – João... Eu posso te explicar.

Giovana entrou no meio deles e deu o cheque mate.

- A garota dos seus olhos te traiu com o nosso professor, meu amor. – As exclamações de surpresa foi geral. – Isso não tá claro? E pelo o que eu to entendendo, seu arqui-inimigo que criou a situação toda... Afinal, Angélica se livrou da chantagem e ele quis...

- CALA A BOCA SUA VAGABUNDA! – Angélica como uma tigresa furiosa foi avançando contra a outra, Leandro a segurou pela cintura. O que para João, claramente deu veracidade ao que Giovana dizia. – INVEJOSA!

- Estou mentindo? Você mesma me contou isso. Assume logo, Angélica. – Aproximou-se da loira e sussurrou só para ela. – Eu venci.

Angélica lentamente virou para João. Humilhada, deu início ao seu maior segredo.

- Eu traía você há 5 meses com o professor de história. Foi para me divertir, pra esquecer os problemas... Pra ter com outra pessoa o que eu já não tinha com você. Eu fui burra. Muito burra. – João baixou a cabeça, envergonhado com tudo o que ouvira. – Num desses meus encontros com o Josué o Leandro nos viu... E ele me obrigou a ficar com ele ou então contaria tudo pra você.

- Você não terminou, querida. – Giovana disse, sorrindo maldosa para a garota. – Conte a verdade sobre...

Leandro não queria perder o controle com ela, mas a garota praticamente pedia para apanhar.

- Da pra você calar a boca sua vadia ignorante? – Ele disse, rispidamente. – E se prepara que o que é teu tá bem guardado!

- Você tá me ameaçando?

- Entenda como quiser.

- Eu me apaixonei pelo Leandro. – Todos, inclusive o próprio Leandro abriram a boca, surpresos diante da declaração. “Mas ele não é gay?” – Alguém perguntou em meio a confusão. Angélica limpava as lágrimas que caiam constantemente em seu rosto suave. – E acredite, nem eu esperava por isso, mas aconteceu. Só que eu não queria mais estar presa a ele então eu consegui sair da chantagem, mas... – Ela olhou Leandro com desprezo. – Ele deu um jeito de se vingar. Ele ou a Giovana, sinceramente não me importo.

João ergueu o punho duas vezes contra Angélica, mas não conseguiu. Estava confuso demais com tudo o que ouvira. E mesmo se a agredisse, não acabaria com o sentimento que nutria por ela. Num ato de coragem e dignidade, ele simplesmente saiu do banheiro em silêncio. Com a saída do garoto, a diretora da escola entrou no local.

- Eu quero todos vocês na minha sala. – Murmurou, séria. Ninguém se mexeu. – AGORA!

Dias depois...

Leandro sentado com Maya na grama da escola recordavam os fatos que sucederam após a briga no banheiro. Angélica não foi expulsa da escola, mas pegou suspensão das aulas por um mês e teria como “castigo” ter que cuidar da biblioteca. O professor foi demitido por justa causa. Giovana, apesar do plano brilhante, não teve o que realmente queria, já que João não ficou com ela e continuava mais apaixonado do que nunca por Angélica.

- Eu ainda não acredito que perdi o maior babado do século. – Maya disse, balançando a cabeça, atônita.

- É. Angélica não me ouve, não responde minhas ligações... Ela age como se eu não existisse. Nunca pensei que passaria por isso.

- O que você sentiu quando a ouviu dizer que te amava?

Ele riu sem vontade e a dor martelou em seu peito quando lembrou dela falando tais palavras.

- Foi surpreendente. Eu não esperava.

- E você realmente a ama? – Leandro fitou Maya por um longo tempo.

Era a pergunta que ele já tinha a resposta pronta na língua, mas não fazia mais diferença, pois perdera Angélica.

- Isso não faz mais diferença. – Ele respirou fundo. – E eu preciso que você me ajude a dar um jeito na Giovana.

- A vadia foi esperta.

- Sim, foi. Você acha que consegue dar um jeito?

- Não sei... Expondo ela de alguma forma que abafe o acontecido com Angélica. Ela sempre quis a vida da amiga, não? Talvez um pouco de holofote mate sua carência.

- É claro... Pensarei em algo. E você fará o que com Angélica?

- Vou atrás dela na biblioteca.

- Boa sorte! – Ele riu. – Você vai precisar.

- Obrigado!

Leandro entrou na biblioteca e encontrou Angélica empilhando livros na seção de história. Em passos silenciosos ele se aproximou dela. Ela o olhou por canto de olho e não disse nada. Era a vez dele falar.

- Oi.

- Olá! O que deseja nesse local que com certeza não é o seu preferido no colégio. – Ele sorriu com o humor ácido da garota.

- Eu não sei o que te dizer, porque de certa forma tudo parece pouco.

Ela parou seus afazeres e o fitou de cenho franzido.

- Confrontei Giovana na casa dela, já sei que a culpa não foi sua. Não tem o por que vir aqui. No fundo eu precisava disso tudo mesmo. – Ela balançou a cabeça, tentando afastar alguma lembrança. – Como ela disse “alguém tinha que te mostrar que você nunca foi melhor do que ninguém”.

- Ela é louca.

- Engraçado, né? – Angélica perguntou retoricamente. – A gente passa a vida toda com uma pessoa e pensa que a conhece, que sabe de tudo dela... Inclusive o que sente. Até descobrir que essa pessoa sempre te odiou, te invejou. Quis ser você. Ou em outros casos, você pensa que conhece a si próprio, mas a vida sempre te presenteia com alguma ironia.

Leandro quis abraçar Angélica, mas sabia que não tinha mais esse direito. Sentia-se culpado por tudo que havia acontecido a ela e mais culpado ainda por não saber como expressar seus sentimentos por ela.

- Eu sinto muito.

- Não precisa sentir nada. – Os olhos dela o olharam brevemente. – Eu vou superar isso. E você também, a Vivian vai te ajudar.

- A Vivian é legal. – Leandro não quis parecer que defendia a namorada, mas Angélica, já nervosa e enciumada, entendeu como quis.

- É claro que ela é legal! – Bradou, jogando os livros pro alto com raiva. - Ela sabe do imbecil mau-humorado que você é?? Ela sabe, por exemplo, que você tem a mania de morder o canto da boca quando está nervoso ou com medo? Que você uma pintinha no meio da barriga e que dorme com a boca meio aberta como uma criança de 5 anos? É claro que ela não sabe! Será que a maravilhosa Vivian sabe que você não é capaz de me amar porque não consegue perdoar as coisas que eu te fiz no passado????

E com a sensibilidade à flor da pele, Angélica chorou novamente. Leandro tocou seu ombro, mas ela o afastou. Insistente, ele puxou a garota para um abraço forçado.

- Não! – Ele a deixou protestar. E também não se importou quando ela encharcou sua camiseta com seu choro angustiado e triste. – Eu estou cheia de você! Cheia!

- Eu sei. – Leandro acarinhou sua cabeleira loira. – Você tem esse direito. Eu sei que não deveria estar aqui, mas eu não consigo ficar longe. Talvez até consiga, mas não quero. E você tá errada, eu não consigo dizer o que você quer ouvir porque não sei esquecer o que já passamos. – Ela o olhou. – Eu sou humano, Angélica. Eu também sinto. Não queria ser assim, mas hoje eu não sei ser diferente. Você me entende?

- Eu entendo, Leandro. Eu entendo. - A garota não conseguia parar de chorar. Como se houvesse dentro dela um rio sem fim.

- Em partes, por isso que eu achei bom quando te vi com o João, ele sim pode te dar o amor que você sabe que merece, mas bom... Acho que todo mundo falhou nessa história. – Leandro passou o polegar pelo rosto dela, secando suas lágrimas. – Eu vou te deixar em paz, juro.

Angélica voltou a chorar na mesma hora. O tom de despedida na voz dela só fez crescer a necessidade que tinha por Leandro.

O garoto se afastou aos poucos dela, tentando não sofrer mais do que já sofria. Ele sabia que guardaria pra sempre a cena de Angélica chorando aos soluços por sua causa.

- Tchau, Angélica.

Ele saiu da sala sem olhar para trás.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 09/08/2010
Reeditado em 16/07/2022
Código do texto: T2426868
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