No final toda garota prefere o gato de botas.

Reza a lenda que todo príncipe deve ser forte, destemido, lindo e de bom caráter, mas se em 99% dos casos isso acontece, Príncipe Juliano representa muito bem o outro 1% que não segue a tradição à risca.

Desde pequeno sempre se interessou por todos, meninos, meninas, homens, mulheres, perversão, etc. Lutar, treinar e caçar era um verdadeiro castigo para alguém que se julgava tão delicado e frágil. Mas se por um lado ser príncipe lhe trazia responsabilidades, também dava privilégios que ele soube aproveitar muito bem. Foi os utilizando que Juliano encontrou Ernesto, um menino confiscado no pagamento da dívida de impostos dos pais.

Juliano percebeu que Ernesto sabia se virar muito bem sozinho, exímio caçador, lutador, atleta. O garoto realmente prometia em sua aldeia, mas seus sonhos foram todos roubados quando Juliano se apossou dele fazendo um negócio ilegal para se dar bem. Logo o príncipe fazia o menino acompanhá-lo em todas as suas caçadas, lutas, aventuras e o que mais viesse a obrigá-lo a reagir com bravura. Ernesto passou a ser o criado pessoal do príncipe, aquele que sabia seus segredos mais íntimos, o único que o acompanhava quando ele desaparecia para um feito e voltava com ele cumprido cheio de histórias de como não sofreu nenhum arranhão. E enquanto Juliano era um jovenzinho heróico para seu reino orgulhoso Ernesto era um mancebo em frangalhos, o ser invisível que não ganhava nenhum crédito.

Mas o tempo passa e implacável cobra suas dívidas de quem quer que seja o endividado. Sendo assim, Ernesto agora era um lindo jovem de olhos cor de mel, cabelos ondulados num loiro queimado e um semblante tão acolhedor de justiça que seu corpo escultural ficava em segundo plano quando entrava num recinto. Ele tinha apenas vinte e dois anos, mas sabia se portar nas altas rodas e desfrutava dos requintes e educação de tanto observar e não se deixar levar pelo príncipe que o mal tratava sempre que tinha oportunidade. Este, embora ainda muito jovem já estava acabado, abatido dos porres, drogas e moléstias que havia adquirido nas viagens que fez enquanto Ernesto lutava em seu nome.

Certo dia, o rei já muito velho, preocupado com seu reino chamou o príncipe Juliano para conversar, na verdade queria impor a ele mais uma das obrigações daquela vida, o casamento com uma princesa de um reino a altura do deles. Juliano ficou desesperado, seria o fim da sua vida de sandices e liberdade num mundo onde ele ditava as regras.

Porém, as armações que maquinava na cabeça iam muito além do que imaginava quando era mais novo. Decidiu que iria aceitar o pedido do pai e jogar com a princesa escolhida para que ela caísse numa armadilha e virasse alvo de uma chantagem que mancharia sua reputação para sempre se não aceitasse seus termos no casamento. Como sempre o pobre Ernesto foi usado de instrumento no plano que consistia em apresentá-lo como Príncipe Juliano nos encontros particulares que teriam antes do casamento, tudo estipulado por ele. Nos dias que se seguiram Ernesto conheceu Pérola, a princesa mais bela da região, da mesma idade que a dele representante de Dorim.

Eles ficaram impressionados um com o outro e logo se tornaram também amigos, Pérola notava as qualidades do “Príncipe Juliano” saltando aos olhos e se surpreendia cada vez mais com seus dotes que às vezes eram muito simples outras vezes transcendiam o sofisticado tornando-o único. Era apaixonada por sua capa enorme acompanhada de calça preta, blusa branca e botas negras reluzentes que o deixavam esguio e páreo a qualquer herói.

Ernesto também observava Pérola com entusiasmo ao perceber que ela não era uma princesinha metida e afetada incapaz de qualquer coisa. Ao contrário, ela gostava de aventurar-se e conhecer aquilo que os outros temiam, contava-lhe os seus planos e esses davam vontade de executar de imediato, mas ele sabia que não poderia, pois Pérola pertencia ao verdadeiro Juliano que a aprisionaria como ele numa vida a seu mercê.

Ele se entristecia cada vez que ia encontrá-la e Pérola achando que era por ter se desiludido com ela seguia o rapaz calada até que ele lhe perguntou.

– Se você se apaixonasse por um cara que não é príncipe, você ficaria com ele?

Ela sorriu e lhe respondeu.

– Um cara de que tipo? Endinheirado tradicional, novo rico, rapper, bbb, assalariado ou mendigo mesmo? Só não vale sapo, você disse cara! – debochou.

– Ah! Você sabe! Um simples plebeu de uma aldeia qualquer! – respondeu envergonhado.

– Essa pergunta é totalmente irrelevante porque não irá acontecer, eu já tenho meu príncipe nobre e de sangue real, estou apaixonada por ele e que bom que a nossa história é simples! – respondeu enfática dando-lhe um beijo animado.

Após o ocorrido Ernesto voltou para o palácio para relatar tudo o que aconteceu no encontro, como sempre fazia, porém a angústia que trazia dentro de si o deixava a um passo de estrangular aquele que pensava ser o dono da vida de todos por causa de um título, o homem que destruía lentamente sua vida desde a adolescência e apesar de ter-lhe salvo a vida tantas vezes não se lembrava de uma palavra de afeto ou gratidão que tenha ouvido de sua boca.

Contou meio por alto o encontro e ficou sabendo que no próximo seria o casamento e na sacristia seria revelada a farsa que a manteria amarrada consigo de vez, calada aos termos de Juliano. Ao saber disso ficou pior, se deu conta que seu amor o odiaria pela mentira pregada.

Na sacristia a bela noiva se preparava com entusiasmo para a cerimônia na igreja, cheia de curiosos e interessados na união dos monarcas quando alguém desconhecido para ela entrou de imediato.

– Quem é você? – perguntou surpresa.

– Príncipe Juliano! A seu dispor! – respondeu divertindo-se.

– Que brincadeira é essa? Onde está o verdadeiro Juliano?

– O falso Juliano você quer dizer! Provavelmente revirando uma lata de lixo lá fora, que é o lugar dele! – respondeu vitorioso.

– Que palhaçada é essa? – perguntou novamente desesperando-se.

– Permita-me atualizá-la, sou Príncipe Juliano, o verdadeiro. Aquele que você conheceu e manteve encontros particulares todos esses dias é meu lacaio pessoal Ernesto, que desde criança foi o melhor capacho que um nobre pode ter. Eu não gosto muito de finais felizes em uma única relação se podemos ser felizes para sempre todos os dias, então ele seguiu a risca o meu plano de te colocar em maus lençóis para que concordasse em se casar comigo com minhas qualidades e defeitos ou...

– Ou... - repetiu Pérola desolada.

– Ou eu conto pra todo mundo como você traiu o honrado príncipe com quem firmou compromisso com o próprio serviçal dele! Seus padrões não são muito altos, não é querida? – chantageou debochando.

– Eu não sabia de nada! Seu porco imundo! – gritou enfurecida.

– Ah! Mas quem irá acreditar? E eu acho que a senhorita deve ter compaixão, pois fim pior terá o pobre Ernesto que traiu seu príncipe de maneira tão vil!

Ela calou-se, engolindo todas as esperanças e sonhos de momentos antes. Respirou fundo e finalmente respondeu.

– Eu aceito.

Nessa hora Ernesto entrou na sacristia e ouviu somente essa parte da conversa ficando magoado pela princesa ter aceitado uma chantagem tão suja em nome de aparências. No fundo pensava que ela pudesse abdicar de tudo para ficar com ele em nome do amor construído nos últimos dias. Sentiu-se destruído por dentro a ponto de abandonar tudo e fugir sem pensar em conseqüências para junto de sua família. Já havia servido o príncipe demais e dado a própria alma na ultima missão. Não importa o que acontecesse, já estava morto.

A marcha real tocou alto para que todos ouvissem a entrada da noiva que veio coberta por um grosso véu, nem assim foi possível esconder seu sofrimento debaixo dele. Deixou que a cerimônia corresse ao buchichos até que a pergunta final foi pronunciada.

– Príncipe Juliano da Casa de Aragão, aceita casar-se com a Princesa Pérola da Casa de Durim?

– Sim, será um gosto eterno aceitá-la como minha esposa! – respondeu majestoso e falso.

– Princesa Pérola da Casa de Durim, aceita casar-se com o Príncipe Juliano da Casa de Aragão?

Ela se manteve firme e calada num mistério que fez a todos sofrerem, quando de repente bradou.

– Naaaaaãããaãõoooooo!!!!!

A igreja veio a baixo e Juliano derreteu sua cara de vitória feito cera. Porém corajosa continuou.

– Não me caso com esse homem porque não foi a ele quem prometi meu coração, não foi ele quem conheci como príncipe dessa casa. Não são dele os trejeitos e fatos que passei a admirar e amar. E agora ele não pode cobrar de mim o que não prometeu.

– Está louca, perdida! – gritavam os que assistiam seu discurso, mas ela continuou.

– Enquanto se referem a mim como perdida é a este homem quem devem julgar, pois foi ele quem colocou outro em seu lugar para se encontrar comigo e ir farrear nos bordéis. Não só nos dias presentes, mas como há muito tempo é outro quem vive a vida de obrigações para que ele viva só a de privilégios!

Todos se calaram e o rei que no fundo sempre soube disso, finalmente teve que reconhecer que Juliano não prestava e pressionado pelos olhares impiedosos e hipócritas dos puritanos teve que tomar uma providência.

– Sim, meus amigos! Juliano não é digno de honrar essa casa nem de desposar essa mulher! Agora ele será punido a não ser que responda uma pergunta que sempre lhe foi passada a resposta.

Juliano assustado esperava respondê-la para sair dalí e continuar sua vida de ebúrnea, agora sem precisar fingir para ninguém.

– Juliano, o quê é preciso para ser rei?

– Ah! Essa é fácil! Soberania, altivez... – começou a descrever.

– Não! Você não vê nada a seu redor mesmo! Então vá e só volte quando souber a resposta!

– Ir pra onde meu pai?

– Conhecer o mundo e o que o move de verdade! Boa sorte na sua empreitada meu filho!

Juliano foi tirado do castelo e jogado na estrada somente com algumas moedas no bolso, uma trouxa de roupas e um fardo de pães. Seguiu caminho e não foi visto novamente. A resposta para a pergunta continua esperando por seu dono ao lado do trono, mas quem viu “Homem Aranha” pode respondê-la sem problemas. Pena que Juliano não viu!

Pérola abdicou do trono para encontrar Ernesto, procurou por terras distantes onde falsos boatos a levavam para recomeçar tudo de novo. Até que um dia, passando por um vilarejo pacato avistou um rapaz arando a pequena propriedade de sua família. Parou o cavalo branco na sua frente fazendo sombra ao jovem quando perguntou.

– Olá! Estou procurando um príncipe que se perdeu por estas bandas, por acaso você não o viu, rapaz?

Este muito surpreso respondeu.

– Aqui não há príncipes, só homens nobres tentando seguir com suas vidas!

Ela lhe estendeu a mão sorrindo e ele da mesma forma a agarrou para subir no cavalo a fim de conhecer o mundo sem mentiras ou falsidades.

O que se ouviu falar depois é que a Casa de Aragão e de Durim se uniram comandadas por uma monarquia de cavaleiros liderada por Sir. Ernesto Aduan. Que mesmo não tendo sangue azul era atípico e possuía desde a infância as qualidades necessárias para reinar entre os homens.

Fim.

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Olá gente! Só uma histórinha para matar a saudade enquanto não volto com outra big! Isso será breve, mas sempre estarei aqui comentando e comentem se puderem, só pra não perdermos contato!!! Bjus!!! Até ++++!!!!!