ZEZINHO: I - O menino da Lapinha

Carlo leitor, este é o primeiro capítulo de literatura infanto-juvenil negra, conta a história de Zezinho e sua ascenção cultural, assim como a construção de sua identidade, nasceu em uma comunidade quilombola. O romance enfoca fatos reais junto com ficção.

Estarei publicando outros capítulos. Agradeço as pessoas que postarem críticas e observações sobre o romance. Segue o I capítulo:

I

O menino daLapinha

O céu estava vermelho, já era tardezinha e os últimos raios do sol brilhavam na região de Lapinha , revoadasde andorinhas volta e meia passavam em busca de um lugar mais aconchegante para se recolherem à noite, as donas de casas recolhiam as roupas, que durante o dia passaram a lavar, para, em seguida, irem às suas casas preparar o jantar para suas famílias.

- Zezinho, Zezinho! Vamos, vamos! – Ana, sua mãe, gritava chamando-o. Mas, esse menino de 12 anos amava ficar até mais tarde da noite no rio, pescando. Ele era muito esperto e tinha um criatório de minhocas perto da sua casa e quando ia pescar pegava algumas e levava-as para servirem de isca. Ele nem deu “tchum” para o chamado da mãe e continuou sentado naquela pedra, abaixo de uma árvore, às vezes, escutava pios de pássaros, grilos e, latidos de cachorro um pouco longe.

Este moço era de uma família de negros que viviam entre tantas outras naquele espaço do Alto Sertão da Bahia e que tinha hábitos um pouco diferentes das outras comunidades. Na comunidade de Lapinha há 20 famílias, cerca de umas 100 pessoas, próximo a casa dele, tinham várias outras casas,quase todas de tios, tias e primos, logo, imagina quão enorme era aquela família.

Apreciavam ficar juntos até noite, contar histórias, tinham seus encontros religiosos, mas, o que ele amava muito era de futebol. Gostava de ir à cidade de Igaporã, em dias de feira e Bom Jesus da Lapa, mas, nãodemorava muito, foi uma ou duas vezes,visitou-a quando tinha festa do Bom Jesus e, era uma festa, poderia passear, subir no morro, comer pipoca, amendoim, chupar geladinho, balas, picolés e achava tudo uma delícia, talvez, porque como não tinham muito dinheiro ficava sempre com um gostinho de quero mais.

Gostava de ir à escola, era um bom aluno, havia visto falar um nome – quilombo – mas não sabia direito o que era isso, à frente falaremos sobre. Algumas vezes alguns meninos na cidade fizeram comentários sobre sua cor e o tinha deixado um pouco sem entender o porquê se eles eram iguais, o olhavam parecendo estranhar um pouco, entretanto, este moço tinha um coração bom, por isso não tinha espaço para mágoas e seu sentimento acolhia a alegria de ficar com a família, pescar e jogar uma bolinha.

Vamos falar do que Zezinho mais gostava, era o tal jogode bola Os meninos todas as tardes passavam em frente à sua casa, logo após o almoço e, o chamava para jogar bola. Em frente a uma igrejinha, numa área de terra enorme, eles fizeram um campo de futebol, claro que as traves não eram de ferro, sim de madeira, e quem disse que eles se importavam com isso.

Como Zezinho era bom de bola sempre era o primeiro a ser chamado para um dos times, alguém já o tinha chamado de Pelé, quando num jogo, em um grande lance, marcou um gol decidindo a partida para o seu time.

Numa noite quando estava reunido com sua família, na calçada da casa, conversando, ouviu falar de Pelé que foi um grande jogador do Santos Futebol Clube e que participou de copas do mundo e conseguiu vencer por três vezes, sendo um dos jogadores mais famosos do mundo, nessa hora ele rio gostosamente e pensou: então foi isso! Não estava gozando de minha cara não, mas me elogiando, assim, o seu amor pelo futebol só aumentava!

Seus melhores amigos eram seus primos,oPepeu, o Mário e o Beto que sempre estavam juntos, principalmente, para brincar, passear e jogar futebol.

Zezinho escutou alguns barulhos, o mato quebrando como alguém pisando, escondeu atrás da pedra, sabe lá o que era, cachorro, onça, será que tinha mesmo onça por ali? Ele nem sabia, mas em todo caso... até que conseguiu ver que era seu amigo Pepeu o chamando – Zé (era outro nome do rapaz, mas carinhoso) – Sua mãe tá chamando.

Imediatamente, pegou os poucos peixes que pescou, colocou num embornal e saíram conversando animadamente. Mas, como todo bom pescador ou não... adorava falar de como foi a pescaria – Pepeu, você não sabe da novidade, pesquei um monte de peixes. Ah! – disse, Pepeu, só isso ai e é um monte. – Ah, mas claro, pesquei tudo sozinho, respondeu Zezinho. Agora você quer ver coisa é um grandão que pesquei, o maior, mas, quando levantei o anzol para pegar, o peixe escorregou da minha mão, caiu na pedra e quando fui pegar, escapuliu e caiu na água.

- Ha, ha, há (...) riu gostosamente Pepeu, hora essa, quase não pescou nada, fala que pescou muito e ainda por cima fala que o peixe maior que pescou escorregou da mão, ha, há, conta outra. –Zezinho ficou chateado e falou assim, você ainda vai ver, vou pescar um peixe grande e vou lhe mostrar!!

Pepeu ficou em sua casa, os pais dele chamaram Zezinho para entrar, mas falou que tinha que ir logo. Passou por outras casas no caminho e só via as luzes dos candeeiros acesos, afinal de contas, a energia não tinha chegado no povoado do Rio das Rãs.

Ana, sua mãe já estava aflita. - Onde está meu filho, já são altas horas, mandei Pepeu ir chamá-lo, será que foi mesmo ou o que aconteceu. Logo, ela vê Zezinho e ia para brigar com ele, mas quando viu seu sorriso, - mãe, mãe, olha os peixinhos que pesquei, amanhã a senhora faz para nós no almoço! A mãe não resistiu ao sorriso e falou tá bom, meu filho, sua mãe faz o peixe sim. Entretanto, falou, meu filho não chegue tão tarde, sua mãe estava preocupada. – Agora vá tomar banho, para jantar, hoje tem feijão e farofa de ovos.

Zezinho estava com uma fome, após banhar, sentou-se a mesa simples de madeira, o pai estava deitado no banco e seus outros irmãos na calçada conversando. Num momento do jantar virou para a mãe e falou: mãe, essa farinha é boa demais, fininha e, com esse torresmo quentinho fica uma delícia, hum... nem os gatos comem!

Zenilton
Enviado por Zenilton em 22/09/2011
Código do texto: T3233928
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