Não preciso de divã
A arte bebeu da poesia
Me fiz poeta relutante
Narrador de valsa vã
Desde os tempos de Maria
Sou andorinha viajante
 
O livro é a pena da saudade
Angustia meu coração pequenino
Em pensar na falta ou crueldade
Do folhar de papel em figurino
 
Ah, o livro é o esplendor do tempos
A cada gatinho manhoso que passa
A ronronar pelos mês pés
Novelo maroto rechaça
O arlequim elétrico em pensamentos
Dá-me agora esse revés
 
Hoje a rotina é desdêmona
Julgam-me ainda cafona?
 
Eu via e ouvia o passarinho
Não em tela, mas “ao vivo”
E de madeira o carrinho
Perdeu-se por outro pivô...
 
Como eram terna as horas da tarde
Sob a velha figueira tranquila
Me ensinando a ler quadrinhos
Empilhados sobre a mobília
Da sala de minha avó, concorde
Sou fruto belo das letras
Doce como o próprio figo
E do livro recebi carinhos
Pertinho do triste Brás...


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IMAGEM: conduit.com