[Original] We Are Young - Capítulo 13 - Parte 1

Capítulo 13 - Parte 1

“E eis que você estava lá do meu lado, foi bonito.”

(Caio Fernando Abreu)

São Paulo

- Merda, você tem certeza de que era ela mesmo, Iasmin? – Rafaela segurava a amiga pelos ombros. Iasmin não conseguia responder, pois chorava desconsoladamente em seus braços. – Calma, cara. Calma.

O celular de Rafaela tocou e Iasmin se afastou, para deixa-la atender.

Ela tirou o aparelho da mochila e olhou o visor da tela.

- Esse DDD é do Sul... – Atendeu a ligação. – Alô?

Ela suspeitava ser Lennon, o namorado de Isabel.

“Alô, Rafaela?” A voz era forte e bonita, mas parecia ser de um garoto mais novo. Lembrou-se de uma conversa que teve com Isabel, onde ela contava sobre um tal Lucas. E imaginou ser ele.

- Sim, sou eu. Quem é?

“É o Lucas, irmão do Lennon e cunhado da Isabel.”

Respirou fundo e fitou Iasmin, esta, ainda olhava perdida para a tela da televisão.

- Oi, Lucas.

“Rafaela, a Isabel sofreu um acidente.” – Ela mordeu o lábio pra segurar um grito que nascia em sua garganta. Não podia ser. Não. Isabel não podia estar no meio do acidente do ônibus 146. “Ela já foi socorrida, está no Hospital Geral de Porto Alegre e...”

- AGORA ME EXPLICA UMA COISA... PORQUE A ISABEL ESTAVA DENTRO DE UM ÔNIBUS E NÃO NA CASA DE VOCÊS? – Ela não queria se descontrolar, mas sabia que tinha algo errado nessa história. Iasmin a olhava. Sabia que estava certa sobre Isabel.

“Meu irmão descobriu que ela havia mentido e eles terminaram. Daí ela estava voltando pra São Paulo.”

- EU QUERO FALAR COM O SEU IRMÃO A-GO-RA!

“Se tu parar de gritar eu juro que chamo ele.”

- FODA-SE! EU QUERO FALAR É COM ELE.

Rafaela pode ouvir Lucas sussurrar um: “vadia escandalosa”, mas preferiu não responder.

Cerca de 5 minutos depois, a voz séria e distante de Lennon chamou Rafaela.

“Alô, Rafaela?”

- A SUA SORTE GAÚCHO BABACA, É QUE EU NÃO ESTOU AÍ, PORQUE SE EU TIVESSE, EU TE FARIA ENGOLIR TODOS OS DENTES DA SUA BOCA! VOCÊ NÃO SABE A HISTÓRIA DE VIDA DA ISABEL! NÃO SABE AS MERDAS QUE ELA PASSOU POR CAUSA DA MÃE, VOCÊ DEVIA TER PROCURADO SABER A HISTÓRIA DELA ANTES DE MANDA-LA IR EMBORA COMO SE ELA FOSSE UM OBJETO QUE VOCÊ CANSOU DE USAR!! E...

Iasmin tomou o celular da mão dela e a empurrou. Rafaela entre lágrimas e um ódio imensurável andou de um lado pro outro, desesperada. Sua amiga estava acidentada do outro lado do Brasil. Precisava de alguém para leva-la até lá.

- Agora é a Iasmin na linha, amiga de Isabel. Rafaela está nervosa, e não é pra menos.

“Eu entendo e não tiro a razão dela em estar assim. Eu errei com Isabel e to me controlando ao máximo pra não enlouquecer. To aqui há um tempo e não tive notícias dela.”

Chorando em silêncio, tentou dizer algo para acalmar aquele rapaz agoniado. Mas como acalma-lo se nem ela mesma estava calma?

- Vocês já avisaram a mãe dela?

“Bah, não. Eu liguei pelo celular de um amigo, mas só cai na caixa postal. Não sei o que fazer, to desesperado.”

- Nem devia... Pelo o que eu conheço da mãe dela, ela não vai fazer nada. Nós vamos arrumar um jeito de ir pro Sul hoje mesmo.

“Tu me liga, Iasmin? Eu peço pra um amigo buscar vocês na rodoviária.”

- Ligo. Não sai desse hospital, Lennon.

“Não sairei. Obrigado Iasmin.”

- Eu é que agradeço a você por ter feito minha amiga feliz.

Ela finalizou a ligação, limpou suas lágrimas com as costas da mão e entregou o aparelho a Rafaela.

- Já sei com quem vamos pro Sul. – Rafaela disse, guardando o aparelho no bolso.

- Com quem?

- Só há um louco que não nos negaria um carro até lá.

Iasmin sorriu. Já sabia quem era o “louco” que Rafaela estava falando.

Lennon M dias.

Será que é de guria paulista ser braba assim? Meu Deus.

- Já não gostei dela. – Lucas disse, enquanto voltávamos pra sala de espera.

- Ela tá nervosa por causa da Isabel. – Dei de ombros, mas senti medo das ameaças dela.

- É, se ela estivesse aqui no Sul tu estava lascado.

- Eu sei.

Entramos e Demétri nos olhou, sério.

- Isabel não tá reagindo aos medicamentos. A doutora veio aqui procurando por ti.

- Merda! – Sai da sala atrás da bendita mulher de branco. Ela estava seguindo para a sala de emergência. – Doutora?

- Ah, olá.

- O que está acontecendo com a Isabel?

- Ela está tendo certo problema em reagir aos nossos medicamentos, mas não se preocupe, tá tudo sob controle. Eu a libero pra visitas assim que eu puder.

(...)

O dia virou e todos nós ficamos na sala do hospital. Quando a doutora viera me chamar na sala, eu estava cochilando ao lado de meu irmão. Demétri e Emerson dormiram sentados no chão.

Segui para a ala da emergência atrás dela. Hospital me dá náuseas. Muita gente doente, machucada, muito sofrimento. Dor.

- Ela não abriu os olhos ainda, mas está escutando... Fique tranquilo.

Entrei na sala e me foquei rapidamente em Isabel. Ela estava pálida, a cabeça enfaixada. Vê-la presa em um monte de aparelhos me dera vontade de chorar. Me aproximei rapidamente da cama e toquei sua mão. Estava quente.

- Isabel. – Seus dedos estavam esticados, entrelacei os meus aos dela e os apertei. – Eu to aqui contigo amor.

Sua resposta fora apertando meus dedos.

- Eu te amo. Eu te amo muito. – Beijei sua testa com delicadeza e depois a bochecha. – Desculpa não compreender que tu também teve problemas em sua família. Eu fui egoísta.

Ela continuou apertando meus dedos, mas seus olhos não abriam. Isso me deixava ainda mais angustiado. Eu queria tanto que ela me desse um de seus olhares interrogativos ou dissesse qualquer coisa no seu modo espertinho de ser. Eu só queria que ela acordasse.

- Acorda, Isabel... – Murmurei bem próximo de seu rosto. – To com saudade das suas crises de ciúme. Das nossas brigas. De ti.

Ela afrouxou o aperto de meus dedos. Eu nem percebi que estava chorando até ver uma lágrima minha cair sob a sua bochecha.

- Tu não vai morrer. Não vai porque já planejei a nossa vida inteirinha... Nós vamos ter dois guris. E serão torcedores do Grêmio, porque eles serão gente que nem o pai. E eles terão um futuro bonito. Pois teremos dinheiros para dar a melhor vida para eles. Melhor que a sua e a minha. E eles terão pais que se amam acima de qualquer coisa.

Seus dedos flexionaram em cima do lençol da cama e eu os segurei novamente.

- Eu sei que tu estás me ouvindo guria. E tá louca para responder suas ironias de sempre...

Eu fiquei em silêncio contemplando sua beleza, recordando tudo o que já tínhamos vivido em tão pouco tempo. Ela não podia ter feito tanto por mim pra partir assim do nada. Qual seria o real sentido disso tudo se Isabel morresse tão jovem?

Mas lá no fundo de minha cabeça uma vozinha respondia minha pergunta. A vida não é justa e o único cara que decide a hora das pessoas partirem está muito, mas muito acima de nós.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 06/01/2013
Reeditado em 09/09/2014
Código do texto: T4070402
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