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Capítulo 8 – Depois da tempestade vem à calmaria - Parte 3

Demétri Scholz

É desconcertante a forma como uma pessoa nos faz bem a ponto de qualquer problema que você tem se dissipar completamente. Depois de Bruna ir embora (com direito a um beijo desentupidor de pia na porta de casa) eu me senti praticamente revigorado.

Ah. Eu não acredito que estou dizendo isso. Que merda é essa que o amor faz com a gente?

Eu estava prestes a tomar um banho quando a campainha toca, o que me fez dar dois passos para trás.

- Bah, esqueceu alguma coisa né? – Perguntei, abrindo a porta de casa. Não era Bruna que estava ali me olhando sem a menor culpa. – O que tu quer?

- Eu quero tu, mas vejo que por estar cego de amor pela Bruna, não vai perceber algumas coisas óbvias.

Revirei os olhos. Pela agressividade nas palavras de Aline, eu sabia que ela estava disposta mesmo a brigar comigo.

- Aline, eu acho que pra quem voltou a pouquíssimo tempo tu está se metendo demais no meu relacionamento com a Bruna! – Eu não queria ser grosso com ela, mas não consegui me conter.

- Acorda, Demétri! Você não nota que vai sempre viver atrás dela? Tu é ofuscado perto da Merten. E quanto mais tu se arrasta, pior fica.

- Não é verdade. Tu não entende. – Rebati, sem conseguir dizer algo melhor.

- Não entendo? – Perguntou, irritada. Ela queria mesmo me fazer acreditar nela. – Eu fiquei esse tempo todo fora, mas procurei saber de ti. Meu Deus, Demétri! Isso é uma doença e quem vai ser “morto” no final dessa história não é ela! Bruna não é capaz de amar alguém além de si mesma. Pode ser que até ame, mas se for preciso se colocar na frente, ela fará isso.

E suas palavras foram semelhantes a levar uma sequência de golpes, cada um em partes especifica. Principalmente em meu lado racional.

- E o que tu queres que eu faça? – Perguntei, agoniado com aquela discussão. Parte de mim estava começando a dar créditos a Aline. – Eu a amo, Aline, a amo. Sempre a amei.

- Eu só quero que tu acorde. – Ela tocou meu rosto, eu me afastei dando um passo pra trás.

- To acordado, guria, bem acordado. – Balancei a cabeça e respirei fundo. – Parece que tu voltou disposta a me afastar dela. Desiste!

- Vou deixar tu perceber que estou certa. E essa hora não vai demorar a chegar.

(...)

- E tu está assim por causa das palavras de Aline? – Eu e Emerson conversávamos na cozinha sobre Aline. Eu respondi sua pergunta com um aceno positivo de cabeça. – Por quê?

Ele me passou um pano de prato para eu secar a louça que ele lavava na cozinha da lanchonete.

- Não sei... Ela parecia realmente convicta daquilo tudo que dizia.

- Mulheres quando querem infernizar a vida de um homem sempre tentam ser convincentes. É da raça. – Eu franzi o cenho. – É verdade ow!

- Eu ainda to tenso com a discussão.

- Está tenso porque tá começando a dar créditos a Aline? – Eu assenti. – Tu não é idiota, sabe que desde que a conheceu, Merten sempre chamou a atenção enquanto tu é sossegadão. Ela é agitada e tu calmo por natureza. Se bem que tu deu umas crises né? – Revirei os olhos. – Demétri, meu chapa, meu irmão, meu amigo... Não sofra por antecipação.

Ele veio na intenção de me dar dois tapinhas amigáveis nas costas, me afastei.

- Sua mão tá molhada, idiota!!

- Ah é.

É, devo concordar com Emerson, sofrer por antecipação é bobagem.

Os dias passaram de forma corriqueira. O ritmo de trabalho crescia e a minha sociedade com Emerson e Lennon estava indo de vento em polpa. Tanto, que tivemos que contratar novos funcionários para as novas lanchonetes que abrimos por Porto Alegre. E sempre em locais de grande movimentação, como desejava meu tio. Na semana eu não tive tempo de ver Bruna. Conversávamos por telefone, sms, ás vezes ela me soava um tanto distante, o que fazia as palavras de Aline martelar em minha mente.

“Eu to com saudade.” – Ela murmurou baixinho, quase que não consegui ouvi-la. Sua voz me soou melancólica.

- Eu também estou. E só faz uma semana que não nos vemos...

“Preciso te contar uma coisa.”

- Fala.

“Vou ter que viajar para São Paulo.”

- Bah, pra que?

“Minha mãe quer que eu a represente numa reunião com uns sócios.”

- Por quanto tempo?

“Não sei, ela não me deu dias exatos. Espero não ser muito tempo.”

- Não vai ser não. E te cuida em São Paulo, viu?

“Sempre!!! Eu não me dou bem com paulistas... Diferente de alguns, né?”

Eu ri, mas ignorei a cutucada.

- Eu me dou bem com eles, assim como me dou bem com mineiros, cariocas, capixabas e etc, não comece.

“Tu quis dizer: mineiras, cariocas e... Capixabas não, porque é unissex”

- Não tenho culpa de ser irresistível.

“Babaca.”

Ela riu e eu me deliciei com o som de sua risada.

- Também te amo.

“Me conte uma novidade!!!”

- Bah, começou...

“Falando nisso... Mentira, não tem nada a ver. Eu não te quero perto daquela vadia.”

- Quem?

“Aline.”

- Ah sim.

“Demétri...”

- O que?

“Estou falando sério.”

- Tudo bem, minha senhora, mais alguma coisa? Talvez minha alma? Meu coração? Meus outros órgãos?

“Rá, rá, rá. Sua alma não, acho isso diabólico demais, o coração já é meu há muito tempo e os outros órgãos... Depende, isso dá dinheiro, não?

- Olha, com uma namorada como tu, inimigo meio que se torna um parceiro sexual.

“Te cala.”

E nesse nível leve, divertido, bem “casal gato e rato” nós conversamos até as 4h30 da manhã. Quando desliguei dormi pesado, mas feliz.

Bruna Merten

- Não leva essa blusa de frio!! Tá quente em São Paulo! – Eveline me ajudava a escolher minhas roupas para a viagem. “Ajudava” é um modo de dizer, pois, sua indecisão estava me atrapalhando.

- Eve, São Paulo é uma cidade que muda de clima constantemente.

- É, eu sei, mas não leva. – Revirei os olhos e enfiei a blusa na mala. – Ai, chata! – Ela fez bico. – Demétri não ficou grilado com tua viagem?

- Não... – Cocei a cabeça. – Achei que ficaria. Sabe como ele é. Encrenca comigo fácil.

- É. Não te preocupa essa guria aqui em Porto e tu indo viajar?

Olhei Eveline com sinceridade.

- É claro, mas eu não posso parar de viver por conta disso. Eu confio nele. Sei que ele é meu... – Nem eu mesma estava acreditando em minhas palavras. Não que fosse mentira. É claro que Demétri é meu, mas aquela vadia vai ser um tormento na minha vida. Eu sinto isso. – Por via das dúvidas, fique de olho nele.

- Nele ou nela?

- Nele, né?

- Tu confia nele, Bru? – Perguntou ela, me fitando com veemência.

- Nele eu confio, eu não confio é nela.

- Imaginei.

- É, agora me ajude a guardar meus calçados. Preciso mostrar as paulistas como é que se anda bonita.

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Sou paulista, gente! Amo meu estado, mas acho legal escrever uma Bruna que tem bronca de paulista. AUHEUHAUHEUHAUE

Em breve tem maissss... s_2

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/04/2013
Reeditado em 19/01/2014
Código do texto: T4227763
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