[Original] Volver - Capítulo 9

Capítulo 9 – E a falta é a morte da esperança.

Narração autora.

Viu Bruna partir com uma sensação estranha de que começaria a viver fora de sua bolha. Um lugar onde tudo se resumia aos dois. Um mundo tecnicamente difícil.

Um vício, uma compulsão. - É isso. – Ele murmurou mais para si, do que para a cunhada ao lado. – Bruna é a minha compulsão.

- Ela vai voltar logo. – Assegurou Eveline, tentando conforta-lo. – Tu vai ver.

- To com uma sensação estranha. – Demétri disse, ignorando suas palavras.

- Eu também. – Admitiu, deixando a costumeira positividade de lado. – Estranho, né?

- Muito. Acho que me acostumei com ela sempre perto, como na época em que estudávamos. Preciso lidar melhor com isso.

- E vai.

Ele notou então que ainda estavam parados no mesmo lugar em que se despediram de Bruna. Demétri começou a andar e foi seguido por Eveline. Conversaram sobre tudo, evitando voltar ao assunto “Bruna”.

- E tu e o Emerson? – Ele perguntou quando pararam em frente à sorveteria. Demétri escolheu um picolé de abacaxi, Eve, um de chocolate.

- Bah... Ele tem muitos “demônios” pra se curar. Tem medo óbvio de relacionamento. Ficamos, mas ele deixou claro que não quer nada comigo. Nada além de umas pegações de vez em quando.

- E tu aceitou? – Demétri a fitei levemente surpreso.

- Também não quero relacionamentos, mas sou sentimental, eu me apego involuntariamente.

- Fariam um belo casal. – Ela sorriu tristemente.

- Eu queria que ele pensasse assim... Eu respeito sua escolha, mas sei lá, sabe quando tu conhece alguém e tem vontade de ficar com ela pra vida toda? É estranho, mesmo que eu não queira relacionamentos, Emerson faz eu me sentir assim.

Instantaneamente, a imagem de Bruna passou-se por minha cabeça.

- Ô se sei. – Respondeu ele, sorrindo grande. Eveline riu.

- É claro que tu sabe. Então... Eu senti isso com ele.

- Está apaixonada, Eve?

Eveline mordeu o lábio, apreensiva. Ela era uma mulher com alma de criança, o que a tornava ainda mais especial.

- Eu acho que sim... – Ele a abraçou. – Ai, eu não queria, mas... – A mulher se afastou e entre uma gesticulação maluca, tentou encontra um final para sua frase.

- Foi inevitável?

- Exatamente.

- E tu não esta feliz por... – Demétri não completou a frase propositalmente.

- Por estar apaixonada por uma pessoa que tem medo de relacionamentos.

- Poderia ser pior. Tu poderia estar apaixonada por alguém que tenha medo de amar.

Eveline entendeu que Demétri estava falando de Bruna, e não fez comentários. Já não se sentia tão fluente a dar conselhos estando praticamente apaixonada por uma pessoa tão complexa quanto Emerson.

Pela parte da tarde, Lennon apareceu na lanchonete. Fazia tempo que Demétri não o via, o que tornou uma simples visita, uma grande comemoração. Os dois amigos colocaram a conversa em dia e mesmo não sendo mais funcionário do lugar, ajudou Demétri a cuidar do lugar.

- To pensando em me casar. – Lennon disse, terminando de lavar a louça.

Demétri soltou um sonoro “uhhh”.

- É sério... – Ele continuou, sonhador. – Quer dizer... É só uma ideia. Bel e eu somos novos pra caramba, temos tempo pra isso, mas casar seria legal.

- Tu fala como se casar fosse um sonho. – Demétri franziu o cenho. Lennon gargalhou. – É, deve ser bom mesmo esse negócio de morar junto, até bem humorado tu ficou.

- Te cala ow. Sei lá... Isabel mudou a minha vida. - Demétri fingiu vomitar para provocar o amigo. – Ah, qual é!

- To te zuando. Acho legal tu casar, e logo aviso, só vou ao casamento se eu for o padrinho. – Lennon arregalou os olhos, surpreso com o que ouvira. – Sou teu melhor amigo, praticamente teu irmão, tu roubou várias gurias de mim e eu perdoei, não por ser trouxa, mas por ser seu amigo e ter me vingado te batendo na maioria das vezes, sem contar que... – Ele começou a enumerar várias situações.

- Tá, tá, já entendi!!!!!

- Bom garoto.

- Tu já foi mais fácil de lidar, acho que o relacionamento com a Merten mexeu com a tua cabeça.

- Também acho.

(...)

Demétri tentou preencher de todas as formas o espaço que Bruna deixara com sua viagem. As ligações que eram diárias se tornaram semanais. E quando ele ligava, era obrigado a se satisfazer com ligações rápidas. Mesmo angustiado com a distância, ele guardou esse sentimento pra si mesmo. E tentava se reconfortar dizendo que era apenas uma fase. Uma fase. E que como todas as outras fases que o casal já passara, essa passaria também.

De tanto guardar suas angustias pra si, uma hora elas transpareceriam de alguma forma. E transpareceram. Demétri andava calado, triste, e quem o conhecia sabia que havia algo de errado com ele.

Aline também notou isso e não deixou passar despercebido. Sorrateira, foi se aproximando de Demétri sem pedir nada além de sua amizade em troca, e ele mesmo sabendo dos riscos acabou aceitando a aproximação. Sabia que Aline não era capaz de corromper seu sentimento por Bruna. Ninguém conseguiria, mas Demétri andava confuso. E ela usou isso contra ele.

- E tu vai continuar assim? – Os dois almoçavam juntos na casa dele. Demétri preferia manter-se só, mas ela insistia em lhe fazer companhia.

– Tu acha mesmo que a sua personalidade tranquila e quase de um caipira vai poder ir de frente com a dela?

Demétri riu com o xingamento carinhoso.

- Caipira?

- É, tu é meio caipira, quietão, só se solta quando te conhecem melhor. – Ele riu, levemente. – E eu to ficando louca contigo desse jeito.

- Eu to bem, Aline. – Ela tocou o rosto de Demétri, que apertou sua mão com carinho. – Sério mesmo.

- Não está e não adianta mentir. – Ele suspirou, sem saber o que dizer. A tristeza dele era de cortar o coração de Aline. Que tentou por todos os dias e de várias maneiras ajuda-lo a superar a distância da namorada. – Eu não vou deixar tu sozinho, mesmo sabendo que é isso que tu prefere. – Aproximou-se do rapaz e o abraçou. Não souberam quando o abraço resultou em um quase beijo.

- É melhor não, tu sabe.

- Eu sei Demétri, eu sei.

“TU O QUE???” – Bruna afastou o celular do ouvido e esperou por 20 segundos até Eveline parar de gritar no telefone. Ela olhou com profundo desprezo o local onde esperava uma reunião começar.

- Terminou?

“Sim, ai mana, não acredito!!”

- Foi só uma ideia, liguei pra saber o que tu acha.

“O que eu acho?? Eu acho simplesmente perfeito tu querer noivar com ele!”

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 21/04/2013
Reeditado em 19/01/2014
Código do texto: T4251507
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