ENCONTRO DE SURPRESAS
 
 
Aninha estava sentada. O local fora modificado, pois os pais haviam realizado melhorias para maior conforto.
A poltrona de pedra agora se encontrava sob uma cobertura, como uma sala grande. Almofadas sobre as pedras permitiam que ficasse mais tempo no local, estudando ou realizando as pinturas. Muitas vezes, simplesmente sentava apenas para admirar a natureza.
Nunca deixava de pensar sobre o milagre da existência do castelo. Lia um livro de estórias, quando teve a atenção despertada por ruído de passos. Ficou alerta. Normalmente, ninguém aparecia por ali, a não ser quando os pais vinham buscá-la.
Olhou para os lados, esperando ver chegar alguém. Quando se voltou para a entrada do castelo, levou um susto. Parado na porta, em pé, um urso branco. Tão branco que parecia brilhar, em contraste com o escuro das pedras.
Silêncio. Estava a se perguntar se o urso não seria apenas uma imagem por ela criada da personagem da estória que estava lendo.
Retomou a leitura. Um ruído mais forte fez com que olhasse para o castelo. O urso estava lá. Fixou o olhar nele. Os olhos eram redondos, com uma expressão de sorriso. Constatou ser real. Ele até a chamava, fazendo sinal com a mão para que se aproximasse. E era tão simpático!  Tinha um jeito sapeca e parecia bonzinho.
Resolveu aproximar-se. Quando chegou perto, ele fez sinal para que o acompanhasse para dentro do castelo. Foi seguindo-o, com cautela. Às vezes, ele olhava para trás, para observar se o estava acompanhando.
Aninha viu o urso passar pela pedra do castelo, transpassando-a, sem qualquer dificuldade. Fez o mesmo. Nem parou para pensar que aquilo seria façanha impossível.
Do outro lado, havia uma floresta, com árvores frondosas cobertas de flores, rio de águas cristalinas, numa correnteza veloz. As plantas eram de um verde brilhante, como se todas fossem de folhas novas.
O urso estava parado. Virou-se para Aninha e falou:
— Bem-vinda, Aninha!  Desculpe se não te falei antes. Mas, lá fora, não terias compreendido.                         
Aninha pensou:
— Já sei. Dormi enquanto estava lendo e agora estou sonhando. Este urso é bem parecido com o da estória. É isto. Só pode ser.
— Não Aninha. Não estás sonhando. Podes até me tocar. Sou real.
Disse estas palavras, rindo. A menina continuava paralisada. O que será que estava acontecendo? Mas, como era amiga de aventuras, queria esclarecer. Imaginem. Um urso que fala e ainda por cima lê pensamentos. É o máximo. Preciso ver isto de perto.
— Desculpe-me, mas nunca tinha visto nem ouvido um urso falar. Aliás, eu nunca tinha visto um urso, a não ser nas fotografias e nos livros. Por isto, não estranhe a admiração.
— Pois então, quero me apresentar. Sou Brilhante. Tenho este nome devido à minha cor, que está sempre brilhando.
— Quero saber de tudo. Conta-me por que me chamaste aqui. Estava justamente lendo uma estória sobre um urso. E ele era bem parecido contigo.
— Há muito que venho te observando. És uma menina diferente das outras crianças. Tens uma pureza especial. Por isto quis que conhecesses este mundo.
— Sendo assim, não vamos ficar parados. Quero conhecer tudo. Podes começar a me mostrar. Vou adorar.
Enquanto caminhavam, Brilhante ia relatando como era viver ali, em meio a tanta pureza, onde o homem não havia pisado os seus pés e enfeado com a poluição.
De repente, passou um coelho, correndo apressado.
— Aquele coelho eu já conheço de uma estória. É ele, não é mesmo?
— Sim. Aqui vais encontrar muitos dos teus conhecidos, que estão nos livros que já leste.
— Olha! Aquele se equilibrando lá é o gato de botas. Que engraçado! É mais lindo do que a minha imaginação o fazia quando lia a estória.
Sentaram-se em um tronco, para ficarem vendo os animais que passavam.
Aninha estava feliz. Poder conhecer as personagens das estórias que já lera e das que sua mãe contara era o máximo. Estava atenta às palavras de Brilhante, mas não deixava de olhar para os lados e ver nova personagem.
Sobre uma árvore, à sua frente, viu a raposa, da estória das uvas.
- Aquela é...
As palavras foram abafadas por coro de latidos de cães. Eram os 10l Dálmatas que passavam em brincadeiras, uns pulando sobre os outros, como verdadeiras crianças. Eram umas gracinhas. Corriam alegres e saltitantes numa algazarra de latidos.
- Eu não conheço todas as estórias. Muitas ainda não li. Mas os animais estão aqui reunidos?
- Sim as personagens das estórias já escritas e outras de estórias que estão por escrever. Aqui é o mundo deles. Quando alguém escreve uma estória, o animal personagem se materializa aqui.
- Vivem em harmonia?
- Sim. Aqui é um mundo de paz de alegria.
- Mas alguém comanda ou fazem o que querem?
- Temos o Rei Leão. No palácio, dita normas que devem ser obedecidas. Mas como é bondoso, cumprimos as leis com amor, não havendo conflito.
- Ouvindo o que dizes, fico preocupada. Será que é só onde o homem está que existe desordem? São necessárias tantas leis, tantas normas e regulamentos que, afinal, só servem para serem infringidas.
- Realmente, Aninha. É lamentável, mas é a verdade. Somente o homem mata o homem. Nos demais reinos da criação, quando acontece conflito, é resolvido de forma mais “humana” do que os homens.
Aninha ficou triste. As palavras de Brilhante eram a pura realidade. Mesmo sendo criança, sabia da agressividade no mundo. Ficou pensando, como poderia dar sua contribuição para melhorar.
- Podes, Aninha, orientando as pessoas para manterem um pensamento puro, começando a se desarmarem no seu mundo interior, pois é ali que nascem os conflitos.
- Olha! O lobo. Aqui também ele é um vilão?
- Não Aninha, às vezes apronta alguma, mas logo se arrepende.  
Aninha recuperava a sua natural alegria. O momento não era de ficar triste. Queria aproveitar a magia.
No alto de uma árvore, uma cigarra cantava. Aninha ficou procurando com o olhar. Brilhante orientou-a, apontando o dedo em direção.
- Ali, Aninha, próximo da flor.
A cigarra cantava para a formiga, que trabalhava, atarefada em cortar as folhas que as demais carregavam, mas com os ouvidos atentos no cantar da amiga.     
Aninha ficou com os olhos cheios de lágrimas, emocionada com a alegria.
- O que aconteceu, Aninha, ficaste triste?
- Não, não estou triste. Fiquei foi contente de ver esta cena. Que lindo!
- Limpa essas lágrimas. Não precisas ficar emocionada. Nosso mundo é assim. Tudo é repleto de beleza.
- Se eu pudesse levar esta lição de amor para os homens. Como o mundo seria diferente. Não haveria mais dores nem sofrimento, os conflitos seriam resolvidos sem derramamento de sangue.
- Podes ser a semente de um futuro melhor. Muitas pessoas já estão buscando uma forma de fazer da Terra um mundo de paz. O Criador ainda sonha ver o seu Jardim do Éden no mundo dos homens. Esse é Seu Plano Divino. Vai chegar a hora em que vão despertar. Primeiro haverá sofrimento, pois uma limpeza precisa ser feita na Terra. Somente os selecionados restarão, depois que acontecer a Grande Purificação.
Aninha olhava boquiaberta para Brilhante. Quanta sabedoria. Falava com firmeza, com certeza do que estava dizendo. Parecia o profeta que vira num filme.
- Quem és, na verdade? Como tens esses conhecimentos todos?
- Por que perguntas isto? Sou um urso. Os seres da Criação sabem a Verdade, embora alguns tenham a memória embotada pelo turvamento. Quando purificarem a sua alma, o espírito, a centelha divina, - ou qualquer outro nome que deres - verão a Verdade se manifestar.
Aninha escutava, atentamente, mas uma algazarra chamou sua atenção: os Três Porquinhos passavam em conversa animada.
 Perguntou:
- Desculpe interromper, mas eles já construíram as casas?
- Sim. Cada um tem a sua. Vivem tranquilos, pois o Lobo Mau é amigo.
         Aninha estava embevecida. Realmente, não tinha como explicar a beleza ali existente. A natureza cantava em festa. Os animais viviam em harmonia. Permanecia nos seus pensamentos, quando Brilhante disse:
- Foi importante que conhecesses o nosso mundo. Dele poderás tirar algumas lições para nortear a tua vida. Mas, agora, está na hora de voltar. Vou-te conduzir pelo mesmo caminho por onde viemos. Se um dia precisares de mim, basta chamar-me em teu pensamento. Estarei atento.
Iniciaram o caminho de retorno. Aninha via desfilar animais que não conhecia. Lembrou-se das palavras de Brilhante, de que algumas estórias ainda seriam escritas.   Com certeza alguns deles seriam as personagens.
Antes de transpor a barreira que a levaria de volta, agradeceu a Brilhante pelas informações e lições que transmitira.
- Muito obrigada! Gostei de te conhecer. Posso te dar um beijo?
Deixou-o acenando para ela, com sua brancura brilhante.         
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 20/09/2013
Código do texto: T4489979
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