Utopia - 2

Sentia uma necessidade imensa de se libertar do sistema. Queria viver livre. Será que enfim ele conseguiria?

Desde que tivera aquele belo sonho, decidiu arrumar algumas coisas para conseguir se libertar. Começou a guardar dinheiro, planejar rotas, pesquisar hotéis, aprimorar seus dons e comprou uma grande quantidade de materiais para pintura. Acreditava que estava muito preparado agora, e que nada podia atrapalhar sua vida. Sua vida não mudara muita coisa, continuava com um chefe chato e uma mulher insuportável, ambos sempre reclamando. Mas agora ele logo veria o fim disso. Todo esse sufoco iria acabar.

Para conseguir um pouco mais dinheiro para sua jornada sem rumo ele tinha pintado escondido de sua mulher alguns quadros, uma grande façanha, e escreveu umas pequenas histórias, que ele acreditava que venderiam fácil. No seu serviço ele se esforçou o máximo para não deixar trabalho para traz, e começou a fazer hora extra para ganhar dinheiro a mais, todo lucro que entrava ele depositava.

Sem duvidas ele conseguiria desta vez. Não seria um sonho, seria algo real. Sua ansiedade era grande. Dinheiro não faltaria, esta acumulando uma grande quantia, tinha vendido sete quadros, e já estava terminando seu livro de histórias, já havia enviado um pedacinho para uma editora e ela gostou. Tudo ia como um sonho, só que melhor, já que tudo estava sendo planejado e não tinha como dar errado.

Quando ele percebeu que tudo enfim estava pronto, marcou uma data para sair. Era um final de semana precedido por um feriado. Perfeito para dar no pé. Durante a semana pensou como pediria a conta do serviço. Ele havia trabalhado estes últimos dias até mais trade para ter certeza que não faltaria muito dinheiro.

Enfim estava chegando o grande dia. Faltavam apenas dois dias.

Demitir-se-ia um dia antes do serviço.

Um dia para o grande feito da vida dele.

Chegou mais tarde do serviço neste dia e sua esposa estava esperando no sofá com um sorriso de orelha em orelha. Ele ficou com medo daquela visão, nunca tinha visto sua esposa sorrir, nem no dia do casamento. Entrou fingiu que não viu ela e foi para o quarto trocar de roupa, e dar uma olhada nas malas que já estavam arrumadas. Ela veio atrás dele. Agora estava em pânico. Quando terminou e perguntou para ela o porquê do sorriso ela respondeu algo que tirou o chão do pé dele. Seu mundo tinha caído, não acreditava que isso estava acontecendo com ele. E o pior de tudo, não era um sonho desta vez. Sua mulher estava grávida. Ele perguntou se ela tinha parado de tomar remédio e com maior cara de pau disse que sim. Ele perguntou o motivo e a resposta foi:

- Achei que estava me traindo. Chegava todo dia tarde. E quando arrumei o quarto vi que as malas estavam fora do armário, – ele havia esquecido este detalhe – então supus que ia me abandonar. Parei de tomar os remédios porque sabia que se engravidasse você não me abandonaria por uma sirigaita qualquer.

Não foi desta vez que se sentiu livre. Pior, se sentia preso de vez agora.

Henrique Simão de Oliveira

Henrique S de Oliveira
Enviado por Henrique S de Oliveira em 19/11/2013
Reeditado em 20/07/2016
Código do texto: T4577201
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