Livros Apócrifos - O Nascimento do Divino. Cap. 1. As ultimas palavras.

Meu Deus – Essas foram as suas ultimas palavras de fé. O homem agora ajoelhado aos pés do mestre no meio daquela grandiosa cúpula de vidro estava iniciado.

O corpulento mestre estava segurando um anel, ao qual levou ao encontro do jovem aos seus pés, fazendo suas longas veste da batina farfalharem contra o chão de pedra crua.

-Cumpra com os seus deveres, Irmão. Ajoelhastes como homem, e levantarás como Divino. Carregue o fardo do inferno em seus ombros, e leve em suas mãos a Marca da Besta. Todos que conhece estão mortos para você, e o mesmo estás tu para eles. Não há volta neste caminho. Cumpra os seus deveres, agora e para sempre. – O jovem se apossou do anel e o colocou em seu dedo médio da mão esquerda. Uma mão putrefeita por causa das provações que tivera que passar nos minutos anteriores. Apoiou-se em seus joelhos, e levantou-se, ficando face a face com o seu Mestre, o Gestor.

A luz que adentrava o ressinto pareceu aumentar, mas a temperatura, não. O ar estava frio, e entrava em suas narinas aranhando. “Estou pronto! Enfim, sou aquele que a tudo provou, e a tudo abdicou!”

O Gestor deixou o Jovem iniciado sobre o altar, que nada mais era que uma rocha negra e plana, que ficava exatamente abaixo dos vitrais do teto. Caminhou lentamente pela grande nave do santuário, com um sorriso de desdém em seus lábios rugosos surgindo enquanto pisava no sangue dos que não eram dignos de entrar para a Divindade. Sua face se voltou novamente em direção ao jovem, que de longe, exibia à batina... vermelha.

-Seu nome será Azael! – Disse o Gestor. “E use isto”, apontando um pedaço de metal dourado debaixo de um dos corpos a sua direita, “Ela será a sua cruz, e o seu caminho”.

“Azael...”- Pensou o jovem enquanto o seu Mestre falava. Caminhou com dificuldade até o local apontado, e encontrou um Báculo (Símbolo de autoridade e jurisdição, usado no território de domínio do bispo). O jovem afastou suas vestes para o lado e agachou para pega-la. Ela estava quente ao toque. Quente como o sangue de suas veias.

As portas se abriram no fundo do santuário, inundando de luz o interior, revelando todas às estatuas e pinturas que guardavam o local. Ao fundo, sobre o Altar de Pedra, havia uma cruz: Cristo observava a tudo e a todos, com olhos vazios. Olhos de Pedra.

Azael se levantou. Segurou com força o Báculo em sua mão direita, esbranquiçando a junta dos dedos. Sentiu a leve brisa em seu rosto, e seguiu em direção à porta.

Ao longe, o Mestre observava o discípulo. Olhava com olhos serenos, mas eram olhos de quem já tinha visto aquilo algumas vezes antes, e nada lhe parecia surpreender. Era a tradição. Era sua responsabilidade. Era o que precisava ser feito.

O Gestor observou enquanto Azael atravessava as portas, até que elas se fecharam com um estrondo. Ele virou sobre seus calcanhares e se ajoelhou. Ele agora deve rezar. As luzes se foram.

Marcos Longo do Nascimento
Enviado por Marcos Longo do Nascimento em 24/02/2014
Reeditado em 24/02/2014
Código do texto: T4703786
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