[Original] Ela me faz - Capítulo 3 - Parte 1

Capítulo 3

O banho a 2 que resultou em uma pequena intimidade - Parte I

- Quem é ele? Por que você passou a noite com ele no hospital? Vocês estão ficando? – Eu tentei ao máximo não me irritar com a quantidade de perguntas que Conrado me fez durante o trajeto até seu carro. Lucas, atrás de nós manteve-se calado. – Fala comigo, Rafaela!

- Se você me desse a chance de responder! – Retruquei, mal-humorada. Possessivo, me agarrou pela cintura. Tentei me soltar. Lucas cessou, se perguntando se tomava alguma atitude. – Conrado, você não abusa da sorte!

- A gente tem que conversar, amor. – Dei uma cotovelada em sua barriga, ele nem se importou. – Você sabe que eu não sinto nada por ela.

- Sinceramente, não quero saber o que você sente ou deixa de sentir. Eu só te liguei pra pedir um favor, não pra reatarmos. – Conrado ainda olhava para Lucas, desconfiado. – Ele é irmão do marido da Isabel, minha amiga.

- Sei. – Revirei os olhos e o empurrei. Abri a porta do carro e Lucas entrou, me olhando de uma forma... Decepcionada? Ele tá achando que eu vou voltar com o Conrado? Esperei ele entrar, fui para o banco de trás e me sentei um pouco arrependida de minha escolha. – Quando eu chegar na sua casa vamos conversar.

- Tá, Conrado. Só dirige e cala a boca.

E ele dirigiu silenciosamente, o que foi um alívio, mas me pirraçou colocando todas as "nossas" músicas para tocar, numa tentativa idiota de me fazer lembrar do que vivemos. Eu talvez goste um pouco dele. Talvez. Conrado foi meu primeiro e único namorado. Nem preciso dizer que de início nosso namoro era perfeito, depois de 2 anos esfriou, até aí tudo bem, mas precisava ir pra cama com a nossa professora de Inglês?

Ao chegarmos em casa, ele segurou minha mão e me olhou de uma forma que eu consideraria meiga se não tivesse realmente muito brava com a presença do Lucas ali atrás. Não que ele estivesse atrapalhando algo (Conrado me ajudar é uma coisa, Conrado me fazer desistir de me vingar dele é outra), mas de certa forma ele ali me dava a sensação de ridículo. Desci do carro e dei passagem pra Lucas.

- De nada, viu? – Eu falei, extremamente irônica. Ele me olhou com desdém antes de abrir a porta de casa.

- Não fizeste mais que tua obrigação.

Eu não tive tempo de responder a essa grosseria pois Conrado (sim, novamente ele) me roubou um beijo. Não do tipo que pede perdão, mas um beijo machista na intenção de mostrar ao outro macho que eu tinha dono, pelo menos, claro, na visão dele. E eu acabei retribuindo. A vingança será mais divertida se ele pensar que desisti de fazê-la. Foi engraçado que nesse beijo pude ver o quanto meu sentimento havia diminuído após a traição. Antigamente ele mal podia me tocar que me derretia toda. Nunca tive medo de morrer de amores pelo Conrado, sempre confiei em seu amor e na segurança que ele me trazia desde que nos conhecemos na fila do cinema há 2 anos. Bastou uma única noite e acabou. E eu me conheço o suficientemente bem pra dizer sem medo de que não voltarei para ele.

Quando Conrado se afastou, sorriu, satisfeito por toda a exibição de macho-alfa. Forcei um sorriso. Eu quero mais é que ele pense isso mesmo. Será um prazer acabar com toda essa pose. Conversamos por mais alguns minutos (na verdade o ouvi falar de como seria legal se eu fosse com ele na festa do Henrique e blá, blá, blá) e entrei em casa.

Encontrei Lucas na cozinha comendo algo que não era de minha posse, mas sim de Iasmin. Ele não me olhou ou se quer dirigiu a palavra a mim. E não sei porque desatei a tentar explicar o beijo com Conrado. É da conta dele se beijo o babaca-mor do meu ex-namorado? Certamente não.

- Aquilo que você viu foi só uma parte do plano. – Murmurei, dando de ombros. Ele meneou a cabeça. Idiota. – Nem sei porque estou dizendo isso.

- Não pareceu um beijo qualquer.

- O que foi ou deixou de ser obviamente não é da sua conta. - Falei, seca. Lucas revirou os olhos, como quem já esperava uma resposta dessas.

Eu expliquei em breves palavras o que pretendia retribuindo o beijo.

- Claro. – Foi o que ele me respondeu, antes de sair com o nariz empinado. Eu faço o favor de explicar o meu plano e é isso o que ganho em resposta?

Depois de tentar intoxicar Lucas ele agiu por cerca de uma semana como se eu fosse invisível. É até compreensivo isso, mas me incomodou. E ainda por cima eu passava a tarde o ouvindo conversando com várias garotas pelo celular, marcando encontro e até passeio turístico por São Paulo. Ele me olhava e passava reto, como se eu fosse mais um objeto entre todos os outros que existiam na casa.

- Preciso falar contigo. – Murmurou, sério. Eu estava sentada no sofá passando esmalte nas unhas. Não o olhei. – É urgente. Preciso terminar de me matricular no Amália, mas não sei como chegar até lá!

- E eu com isso?

- Tu precisa ir comigo no Amália. – Eu o fitei com um sorriso de descaso. – Iasmin saiu de manhã, porém não me deixou o endereço.

- Eu sinto muitíssimo por você.

- Rafaela, por favor! – Apesar do prazer em ouvi-lo praticamente implorar, continuei firme em negar ajuda. – O que custa?

- Custa eu deixar minhas unhas de lado. E entre as minhas unhas e você, prefiro minhas unhas. - Ele fechou os punho esquerdo, irritado, até sair de casa, batendo a porta com muita força. – E não bata a porta não, seu ogro!!!

Depois de Lucas ter saído me passou a possibilidade de arrependimento caso ele conte pra Iasmin, mas foi algo muito rápido e passageiro. Se ele tivesse sido um pouco menos babaca comigo, talvez eu tivesse ido junto. Ao terminar minhas unhas (e como sempre, arrasei) levantei-me para fechar a janela da sala. O clima em São Paulo mudou drasticamente e prometia chuva daquelas típicas do meio do ano.

- Pobre Lucas, vai chegar em casa totalmente ensopado. – Murmurei, subindo para o meu quarto. Eu ainda tinha que arrumar algumas coisas para o curso e estudar o máximo possível para as aulas que se iniciam em breve.

Estudei por cerca de 2 horas. Quando cansada, físico e mentalmente, decidi tomar um banho. Eu só tive tempo de entrar no chuveiro e tirar a calça e a blusa que eu vestia, pois Lucas entrou no banheiro como um furacão prestes a derrubar tudo pela frente. O problema é que junto com ele um cheiro de terra invadiu o ambiente. Tapei o nariz, enojada. Ele estava todo sujo. E também agoniado com o cheiro foi se despindo comigo ali mesmo.

- Eu estou no banheiro, só pra avisar. – Avisei, séria. Ao me olhar de queixo caído que me lembrei que estava só de calcinha e sutiã na frente dele. Instantaneamente eu corei, sem jeito. Me enrolei numa toalha e desviei o olhar quando Lucas baixou a calça, ficando apenas de cueca. – Eu cheguei primeiro, Lucas!!!

- Bah, preciso tomar banho. Estou fedendo, Rafaela. Toma banho comigo.

- O que? – Perguntei, embasbacada e finalmente o olhando. Ele riu, porém estava maravilhado com toda aquela situação. – Não seja ridículo.

- Vamos só tomar banho. Entra de lingerie mesmo! – Arqueei a sobrancelha, muito desconfiada. Ele suspirou, cansando. Considerei a ideia por alguns instantes. – Pense como se estivéssemos num clube aquático. Lá as pessoas dividem chuveiro.

- Eu não confio em você!

- Se eu quisesse te agarrar já teria agarrado. Admite que tu tem medo!

Se ele queria me desafiar, conseguiu. Droga, tenho que parar de cair nos joguinhos desse garoto.

- Ah, claro. – Deixei a tolha cair e entrei debaixo do chuveiro. Nunca tinha tomado banho de calcinha e sutiã e muito menos dividi esse momento com alguém que tenho total desgosto em conviver, mas não pude evitar a sensação de prazer que me invadiu fez as minhas pernas bambearem e meu coração disparar por alguns minutos. – Não me toca.

- Eu não vou te tocar!! Meu Deus, guria! – Exclamou, irritado. Eu o vi entrar num processo de se esfregar com sabonete pra tirar o cheiro de terra do corpo. O idiota tentou limpar as costas, mas não conseguiu.

- O que aconteceu pra você chegar em casa assim? – Perguntei, estranhamente preocupada com o esforço que Lucas fazia pra se limpar. Tirei o sabonete de sua mão e fiz o trabalho por ele.

- Quando eu passei naquela rua da saída do metrô um carro jogou terra em mim. Sem contar a chuva que me ajudou pra caramba, bah! – Explicou um pouco irônico enquanto encostava a mão no piso branco da parede do banheiro. Eu o vi baixar a cabeça, relaxando sob meu toque.

Sem querer, juri, massageei as costas dele ao mesmo tempo que limpava. Lucas respirava calmamente, aproveitando o silêncio do momento, pois sabia que qualquer movimento brusco pode acabar com tudo. Eu estava tão concentrada que me assustei quando ele girou o corpo e me olhou fixamente que foi a minha vez de precisar de um apoio. As mãos dele foram lentamente até a minha cintura, apertando-me um pouco. Conhecendo meu corpo. Me conhecendo. O olhar dele fixou no meu, mas não pedia permissão pra ir além, só me olhava mesmo estudando as minhas reações.

Não pude deixar de me perguntar como alguém pode ser tão bonito e tão idiota ao mesmo tempo. Um par de braços me envolveu num abraço tão bom que tive um pouco de vontade de desmoronar, só por alguns minutos. Nunca vou saber o que ele quer dizer com esse gesto, mas significa alguma coisa.

As mãos agora seguraram meu rosto e nos aproximando como se fossemos praticamente um só. Eu me tremi por completo quando percebi que eu queria ele me beijasse. E foi horrível constatar naquele momento que eu tinha uma atração enorme por Lucas. Tão ou maior do que na primeira vez que ele me beijou, há alguns anos.

Saímos do chuveiro alguns minutos depois. Ele saiu do banheiro primeiro, já que eu tinha que tirar o sutiã e a calcinha pra poder me trocar. Tentei não pensar no abraço e na sensação maravilhosa que eu senti, mas foi impossível. A atração que parecia adormecida, acordou em mim de uma forma arrebatadora. Preciso controlar isso.

Depois de toda aquela cena meio romântica, meio estranha e que serviu pra criarmos a inevitável intimidade de pessoas que dividem a mesma coisa (e veja só, o mesmo banho!) nós assistimos televisão juntos na sala e a conversa fluía pacificamente, como se precisássemos tomar banho juntos pra conseguimos nos entender um pouco.

- Viu como eu não mordo? – Ele perguntou, deitando a cabeça em minhas pernas. Eu estava sentada no sofá.

- Cala a boca. Vamos tentar nos entender pra deixar Iasmin feliz. – Murmurei, rindo. Logo ela chegaria em casa e eu tenho certeza que torcendo pra encontrar Lucas vivo. – Seu cabelo tá molhado!

- Vamos. – Ele mexeu a cabeça propositalmente, pingando água em mim. Belisquei seu braço. – Ai.

- Não começa. – Meus dedos adentraram seu cabelo, eu puxei um pouco, Lucas fez uma careta de dor, mas depois sorriu quando eu passei a fazer carinho. E fechou os olhos. – Espero que ela traga pizza. Geralmente as quartas é o que nós jantamos.

- Melhor ainda. Rafaela, tu trabalhas no que?

- Escritório de marketing e publicidade na avenida paulista. Por que?

- Curiosidade. – Respondeu, abrindo os olhos. – Mas é a área que tu vai estudar na faculdade?

- Sim. Eu só consegui esse serviço porque meu chefe viu que eu realmente tenho jeito pra coisa. Atualmente trabalho 6 horas por dia, mas quando eu entrar na faculdade farei 8 horas de serviço.

- E tu gosta do que faz?

- Gosto. Até os 16 eu tinha certeza que queria fazer veterinária, mas aos 17 eu comecei a ter gosto por Publicidade. Criava uns trabalhos bem malucos, e sempre com algum desenho feito por Iasmin, não é a toa que ela vai cursar Design. Amava fazer apresentação em público... Iasmin adorava e se aproveitava disso, já que ela é tímida pra falar em público. É estranho, mas hoje não me vejo fazendo outra coisa. – Ele sorriu de forma carinhosa. - O plano inicial era entrarmos na faculdade pagando do nosso bolso, mas aí descobrimos esses cursos do Amália que dão bolsa de até 100%. Decidimos entrar. E você, tem vontade de fazer o que?

- Rádio e tv. – Revirei os olhos, divertida. – O que foi?

- Sua cara. Bem comunicativo, simpaticíssimo... – Respondi, fazendo-o revirar os olhos também. – É uma grande área.

- É. Eu me identifico bastante. – Lucas deitou-se de lado, de modo que seu nariz encostou na minha barriga.

- O que te fez decidir estudar aqui? – Nossos olhares voltaram se encontrar. Ele entendeu que a pergunta fora uma curiosidade, e não uma reclamação. - Você tinha toda uma vida cômoda no Sul.

- Tu foi no ponto certo da questão. Eu precisava e com certa urgência de independência da vida cômoda que era viver com meu irmão. Porque eu sabia que estudando lá se precisasse de qualquer coisa ele faria por mim. Não teria que trabalhar ou me esforçar pra ter. Isso me tornaria pra sempre um guri sustentado pelo irmão mais velho. – Eu fiz um gesto para que ele prosseguisse. – Daí falei com Isabel... – Lucas sorriu, parecendo recordar de alguma lembrança envolvendo a cunhada. – Ela me ouviu atentamente, me aconselhou a fazer o que eu realmente queria, pois já sou maior de idade e Lennon tem que aceitar minhas escolhas.

- E ele aceitou?

- Bah! Eles brigaram por minha causa. – Vi Lucas franzir o estranho e dar um suspiro pesado.

- Sério?

- Sim. Lennon acusou Isabel de ter me influenciado a vir pra cá. Tu conheces sua amiga, ela ficou furiosa com meu irmão. – Eu ri, imaginando a possível cena do casal a ferro e fogo. – Eu falei com ele depois... Claro que não foi uma conversa muito fácil, mas foi menos pior do que eu pensava. E naquele mesmo dia Iasmin me chamou pra conversarmos no facebook. E aqui estou eu. – Me passou uma ligeira lembrança do final de ano que passei no Sul e Iasmin ajudou Lucas num plano bem tosco de me fazer ciúmes.

- Ela já te ofereceu a nossa casa sem dó?

- Não, claro que não Rafaela. – Lucas respondeu, brincando com os dedos da minha mão. – Eu perguntei a ela se conhecia alguma pensão em São Paulo porque queria estudar aqui, ela disse da casa, Isabel me contou que aqui havia espaço e tudo foi se encaixando.

- Você fala como se tudo tivesse sido prático demais. – Retruquei.

- Na verdade foi porque escondemos isso de ti. – Riu, metido a espertalhão. – Mas eu sabia que tu não curtiria muito a minha vinda.

- E não curti... – Murmurei, birrenta. - Eu não curto. - Me corrigi rapidamente.

- Tu se acostumará. Eu sou tranquilo.

Trocamos um longo olhar. É fato que ainda somos incapazes de trocar palavras afetivas, então é por isso que o silêncio funciona com perfeição conosco. Lucas foi se ajeitando no sofá até que seu corpo ficasse por cima do meu. Ele passou o nariz pelo meu rosto e eu senti muito rápido nossos hálitos se misturando. Íamos nos beijar, o que me ir contra tudo o que eu já prometi. Mas o salvador barulho no portão de casa se abrindo me fez empurra-lo com força para o chão. Era Iasmin.

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Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/04/2014
Reeditado em 25/06/2022
Código do texto: T4759224
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