[Original] Ela me faz - Capítulo 7 - Parte 2
Capítulo 7 - Parte 2
Como descontar seus problemas na pessoa errada
Iasmin teve que se desdobrar para poder dar atenção a mim e a Lucas sem nos fazer entrar num confronto. A semana foi complicada, os dias um terror e como se as coisas não pudessem piorar, Isabel entrou em contato com a gente pelo Skype, querendo saber como iam as coisas.
- Vocês vão ter que fingir que estão se falando, pelo menos pra ela. – Iasmin disse, uma hora antes, na sala. Nós dois estávamos sentados em sofás diferentes.
- Por mim tanto faz. – Ouvi Lucas responder, impassível.
Ela esperou minha resposta, e eu simplesmente assenti.
A única pessoa que tinha um notebook no quarto era Iasmin por isso fomos obrigados a nos locomover até lá e sentarmos lado a lado nas cadeiras que cada um levou. Claro que ela ficou no meio de nós.
- Bel, está nos ouvindo?
E na tela do notebook um quadrado mostrava Isabel. Ela está ainda mais bonita, se isso é realmente possível. Seu sorriso habitualmente grande e doce nos iluminando. Nunca senti tanta falta dela como nesse momento.
- Meus amores!!! – Ela disse, juntando as mãos. – Meu Deus, que saudade de vocês, guris!
- Ah, sério que tá com sotaque? – Lucas perguntou, num tom leve. Iasmin riu.
- É, foi inevitável... Tu lembras que eu passava vergonha nas festas que ia contigo e teu irmão? Agora entendo tudo.
- Lembro sim. E cadê ele?
- Bah, trabalhando. A sociedade com Emerson e Demétri tá maravilhosa. Merten entrou na jogada. São bons sócios. Mandou um abraço as meninas e disse que entrará em contato contigo logo.
- Merten? – Eu perguntei, pois sentia o olhar inquisitivo de Isabel. É melhor entrar na conversa.
- É... Vamos dizer que toda aquela desavença do passado acabou. Ela e Demétri estão bem. Aquilo tudo foi esquecido.
Assenti, um pouco surpresa. Notei que Iasmin queria perguntar alguma coisa, só não sabia como.
- Quem diria... – Lucas comentou, pensativo.
- É, mas me contem, como vocês estão? E o curso?
Iasmin começou a falar animadamente sobre como o Amália era maravilhoso, de como adorava as aulas e que estava com fé em relação a faculdade. Na vez do Lucas, ouvi entediada ele contar como adorava viver em São Paulo (por que será, não é?), de que estava se empenhando no curso e que sentia-se em casa, vivendo comigo e Iasmin. Ele ainda teve o disparate de me olhar e sorrir. Pior que tive que retribuir na mesma falsidade.
- E tu, Rafa? – Ela perguntou, ansiosa e também esperta. Sabe que tem algo de errado.
- Eu o que? – Através da tela, vi Isabel descansar o queixo sob a mão. Me analisando. – Ah, to legal.
- Só isso?
- Só.
- Lucas, vamos ver um negócio lá na cozinha rápido. – Iasmin murmurou, puxando Lucas da cadeira, ele ainda me olhou, inexpressivo, mas não retribui. – Já voltamos!!
- E então?
- O curso tá legal. – Respondi, mecânica. E não era isso que ela queria ouvir. – O que foi, Isabel?
- Bah, sou eu que te pergunto isso. Tá acontecendo alguma coisa entre você e o Lucas? Vocês continuam brigando? Essa cena toda aí tu sabes que não me convenceu né?
Sorri forçado. Iasmin deveria saber que não se engana a Isabel.
- Sei sim. É, eu não gosto do seu cunhado. – As palavras saíram forçadas, mas ela não percebeu. – Mas fazer o que, não é? Vocês armaram tudo pelas minhas costas.
- Bah!! Não foi armado! Sabíamos que tu não gostaria.
- E não gosto.
- Sim, sei disso. Peço desculpas por isso, não achei que seria tão grave.
- Mas foi.
Minha inflexibilidade sempre foi um defeito que Isabel tentou consertar. Em vão.
- Tu tá estranha...
- Eu? Ah, me desculpe pela cena, fui obrigada pela Iasmin. Por mim eu nem estaria aqui.
Eu não queria magoá-la, mas foi involuntário. Isabel respirou fundo, engolindo a seco minha resposta ríspida.
- Eu quero saber o porquê de toda essa rispidez, Rafaela.
- Nada que você morando em Porto Alegre possa resolver, Isabel. – Murmurei, numa frieza que a chocou. - A surpresa com minhas palavras foi tão grande que ela emudeceu. – Passar bem.
Saí do quarto de Iasmin e entrei no meu. Eu descontava em todo mundo o meu problema com Lucas. Mesmo sabendo que ninguém tinha culpa se eu me apaixonei por uma pessoa que só existiu dentro da minha cabeça ou do meu coração.