Onde estão as palavras?

Era uma vez um menino que perdeu todas as palavras que conhecia. Ele não se lembrava direito de como isso tinha acontecido, mas por mais que procurasse, não encontrava nenhuma palavra. Procurava embaixo da cama, nas gavetas do armário, nos bolsos da roupa, enfim, em tudo quanto era lugar e ... nada! Não encontrava nenhuma palavra.
Desanimado, saiu pela rua e levou o maior susto: a placa onde antes havia a palavra PARE, agora estava vazia! Como era possível esse qüiproquó? Nas propagandas espalhadas pela avenida havia fotos e desenhos, mas palavra que é bom... nada!
O menino sentou-se na beira da calçada e tentou entender o que estava acontecendo... e teve uma idéia genial! Saiu correndo em direção à biblioteca. Entrou rapidamente e foi logo abrindo os livros... que estavam todos em branco! Nenhuma palavra... nenhuminha!
De repente ouviu um barulho estranho. RONC. Era uma palavra! E lá vinha ela toda pomposa: RONC, RONC, RONC.
Finalmente, uma palavra... uma onomatopéia! Sabem o que é, não? Onomatopéia é uma palavra que imita o som de alguma coisa. Miau, au-au, quá-quá-quá-quá, tique-taque, pum e outras assim.
Pois ele nem ligou para o tal do RONC. Achou que era uma palavrinha muito da pequenininha. Ele queria encontrar logo uma palavra grande, do tipo PARALELEPÍPEDO ou coisa assim. Uma palavra grande que o ajudasse a encontrar todas as outras! Sentiu uma cosquinha estranha no bolso, meteu a mão e... adivinha! Outra palavra: VAZIO!
Pois não é que o menino também não gostou dela? Estava procurando alguma palavra no mínimo mais bonita. Afinal, a vida inteira ele tinha vivido com tantas palavras... onde é que elas poderiam ter se metido? Uma coceirinha na cabeça fez com que ele pusesse a mão e logo pegou alguma coisa fina e lisa... outra palavra perdida: CABELO! Um pouco assustado, saiu andando sem rumo por aí. E não via mais palavra nenhuma, quando pisou em alguma coisa mole... logo apareceu uma palavra: FEDIDO! Puxa, mas essa palavra ele não queria saber dela mesmo! Ela cheirava muito mal... Caminhou sem jeito até o lago onde antes havia uma placa de PROIBIDO NADAR, que é claro, estava em branco. Enquanto lavava os sapatos apareceu borbulhando na água outra palavra: MOLHADO!
Então, ele achou melhor ir guardando numa caixa todas as palavras que encontrava, para não perdê-las de novo, mesmo que não fossem aquelas que ele mais queria. E foi assim que, depois de 467 anos e meio, o menino, já velhinho, escreveu um livro que foi chamado de DICIONÁRIO!
Acredite se quiser!
Ah... e quem quiser, que conte outra!
Marco Hailer
Enviado por Marco Hailer em 23/06/2014
Reeditado em 30/06/2014
Código do texto: T4855726
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