O primeiro, a gente nunca esquece

     Silêncio. Meu coração dava mil batidas por segundo. Era minha primeira vez.

     Só conseguia ver uma bola parada e o goleiro feito estátua debaixo da trave. O juiz deu dois apitos, tentando organizar os jogadores, e depois deu um, longo, olhando para mim.

     Levantei a cabeça, respirei fundo, corri o que me pareceu ser os dez ou doze metros mais compridos da minha vida e chutei forte. Se disser que escolhi o canto, tentei o ângulo ou procurei bater rasteiro, é mentira, lorota boa. 

     O goleiro pulo feito um gato, os jogadores invadiram rapidamente a área, e o silêncio foi substituído pelo grito: goooooooooooooooooolllllllllllllll.

     O primeiro a me abraçar foi o Tato, nosso centroavante, o segundo foi o Mário, o técnico, e depois não consegui ver mais nada.  Só sei que o céu estava azul, muito azul, azulzinho.