Segunda-feira - Capítulo 11

Capítulo 11

- Mãe, que surpresa você aqui! – Rafael abriu a porta de sua casa com um sorriso animado. Pela primeira vez uma visita de sua mãe não estragara seu humor.

- Rafael. – Ela murmurou, com a voz dura. Foi então que o pai dele apareceu ao lado da mulher. Rogério Pellegrino e automaticamente o sorriso do rapaz mudou. Não que não estivesse feliz por ver o pai, mas sabia que toda vez que os dois o visitavam juntos era assunto sério. – Podemos entrar?

- Oi filho. – Rogério o cumprimentou, com um meio sorriso.

Ele não respondeu. Simplesmente deu passagem para os dois entrarem. Ao fechar a porta de seu apartamento um pressentimento ruim o invadiu. Pensou em Renata, na noite anterior, nas declarações e na promessa da viagem de final de ano e respirou fundo.

- Precisamos conversar, filho. – Foi o pai que falou, sentando-se no sofá de Rafael. A expressão do homem era tensa e muitas rugas tomavam conta da testa dele, que parecia ter envelhecido uns 5 anos no mínimo. Depois ele olhou a mãe. A pose sempre autoritária sumira dando lugar para um imenso pesar. – Sente-se aqui. - Rafael sentou, lentamente. O coração começou a disparar dolorosamente. – Rafa, aconteceu uma coisa...

(...)

E mais tarde...

- Ah!!! Eu não acredito, meu deus!! – Tess puxou Renata para um abraço. – Cara, isso é tão surpreendente quanto óbvio, se você ver bem, né!

- Óbvio? Você zoa porque não foi você que caiu no chão de vestido.

Tess revirou os olhos, mas sorriu. Renata deu um longo e reconfortante respiro. As duas caminharam até a saída da faculdade. Elas precisaram ir no período da tarde para resolverem com a reitoria assuntos da apresentação de Psicologia Criminal. Estava feliz com Rafael, sua vida acadêmica caminhava em ordem, o trabalho de Psicologia Criminal estava praticamente concluído e sua vida familiar ia muito bem. De repente toda sua felicidade a assustou fazendo com que desse outro longo respiro, mas dessa vez, tenso.

- O que foi? – Perguntou Tess, franzindo o cenho. – Ficou séria do nada!

- Não sei, mas... Estar feliz as vezes não é assustador?

- Ah, qual é! Eu te conheço, quando você vem com essas perguntas reflexivas é porque quer achar problema em alguma coisa! Você é a Lindsay Lohan dos problemas!

- Por que Lindsay Lohan?

- A Lindsay Lohan quando não tem problema a procurando, ela que procura o problema.

- Cala a boca, Tessália! – Renata riu, mas manteve a expressão tensa. – É sério, a última vez que eu estive feliz assim foi quando eu consegui a bolsa para faculdade.

- Ok, depois você caiu no primeiro dia de aula e foi motivo de zoação por uma semana, mas e daí, Renata? Para de paranoia.

- É sério, eu tenho sempre essa sensação de que quando tá tudo muito bom tem alguma coisa muito errada.

- Ai, Renata! Sério! Vamos logo para o metrô. Eu tenho que fazer meu jantar, minha mãe saiu.

Renata assentiu, mas nada saia de sua cabeça de que algo ruim estava prestes a acontecer.

“Tem que ser só um pressentimento ruim.” – Pensou, sem esconder seu semblante preocupado. “Só isso.”

(...)

Após ouvir a grande e longa revelação do pai, Rafael não soube o que dizer, precisou de alguns minutos para digerir a informação e conseguir perguntar.

- Você está me dizendo que aquela caso dos Ferrarese deu errado e estamos sendo ameaçados de morte?

Rogério Pellegrino há anos cuidava do caso dos irmãos Ferrarese. Dois mafiosos com uma extensa lista criminal em vários cantos do Brasil, incluindo tráfico de drogas. O advogado defendia Daniel Ferrarese da acusação de espancar até a morte um jovem de 18 anos por não lhe pagar uma dívida de drogas. Rafael na época ainda apenas um estudante de Direito havia aconselhado o pai sobre o perigo de trabalhar para esse tipo de pessoa, mas como envolvia muito dinheiro, Rogério Pellegrino resolveu investir. E também a pressão da mãe de Rafael em fazer o homem aceitar defender os Ferrarese fora imensa. O grande problema era que Daniel fora preso e o pai de Rafael não conseguia tira-lo da prisão. Ele se levantou com a mão no rosto, o coração batia num ritmo descontrolado. – Pai!

- Rafael, fique calmo.

- Como você quer que eu fique calmo? O senhor está me dizendo que vamos ter que ir embora do país por causa de um erro seu! – As palavras começaram a sair desenfreadamente. – Eu não acredito. – Rafael sentou novamente, estava desolado. Não poderia ir embora do país e deixar Renata como se todas as promessas que fizeram um ao outro não valessem de nada ou como se ela merecesse isso. – Você deve estar muito feliz, não é? – Rafael olhou para a mãe e pela primeira vez não se importou em ser grosseiro com ela. – Finalmente conseguiu me separar de alguém que eu realmente amo.

Olga não respondeu o filho, mas uma lágrima solitária desceu por sua bochecha. Ver Rafael sofrer a fez sofrer também.

- Filho... – Rogério segurou a mão do rapaz. – Sua mãe me contou sobre essa moça, a Renata. Eu realmente sinto muito por ter que fazer isso com vocês, mas eu não posso sequer imaginar o que o Ferrarese pode fazer com você. Eu não posso perder você, Rafael. Você é meu único filho.

Rafael se dispersou das palavras do pai, pois seu pensamento voltou a Renata. Na noite anterior tinham feito planos, promessas e dito coisas que ele nunca pensou dizer a mulher alguma. E já no dia seguinte lidava com a notícia de que sairia do país por causa de ameaças de mafiosos. Ele tinha prometido que estaria com Renata e novamente a magoaria.

- Essa garota, filho, se ela realmente te ama, ela vai esperar por você.

Ao ouvir a última frase do pai, Rafael meneou a cabeça. Ninguém sabia como ele se sentia em relação ao seu sentimento por Renata, de como fora difícil se apaixonar por alguém tão insegura e inexperiente. Sua mãe não tinha ideia de como fora uma tarefa diária lidar com o humor complicado da garota por quem estava terrivelmente apaixonado. E tudo isso agora se perderia. É verdade que talvez Renata o esperasse, mas Rafael sabia que não podia pedir isso a ela. Não era justo.

- Ela tem uma vida pela frente pai. Eu não vou empacar a vida dela como empacaram a minha! – E novamente encarou a mãe, com fúria.

- Rafael, ela não pode saber de nada! Quanto menos pessoas souberem, melhor. É perigoso eles fazerem algo com ela também.

- Ela não vai saber de nada. – A voz saiu carregada de um ódio misturado a uma tristeza que nunca sentira igual. Rogério colocou a mão sob o ombro do filho, num meio abraço. – E a Adriana?

- Eu falei com ela. – Olga disse, acabando seu silêncio. – Nós conversamos. Eu contei a ela o que está acontecendo, mas vocês precisam conversar também.

- É, eu vou conversar com ela. – Rafael tentou se acalmar, mas sua mente fervilhava. Sentia raiva dos pais, sentia raiva de si e da situação em que estava envolvido. – E quando é que nós vamos?

- Em dois dias. – Respondeu Rogério.

- Dois dias! – Exclamou ele, a voz sem vida. Olga quis abraçar o filho, mas sabia que não era a hora. - Dois dias para acabar com a melhor história que vivi em 23 anos. Isso só pode ser um pesadelo.

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Oláaa!!

Não vou dar prévia do próximo capítulo porque ele é tipo muito BOMBÁSTICO, mas deixo uma frasezinha que embala o capítulo 12

“Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.”

Até breve!!!!!

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 29/06/2015
Reeditado em 15/04/2022
Código do texto: T5294210
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