Segunda-feira - Capítulo 17

Capítulo 17

Quando eu não pensei que poderia ficar mais nervosa, eis que a conversa com Alexandre quase me faz arrancar os cabelos. Ensaiei por horas no espelho, fiz uma voz masculina, imitando Alexandre para soar mais verdadeiro e nem assim deu certo.

Deus do céu, não tem ensaio que acalme uma mulher que está prestes a ter “a conversa”. Não há livro de romance algum que ensine como passar por esse momento e não pirar.

Era exatamente 14h00 da tarde quando Alexandre me mandou uma mensagem dizendo que já estava no aeroporto. Eu poderia esperar por ele em casa ou marcar em algum lugar. Bom, marcar em algum lugar parece o mais correto. Mandei outra mensagem dizendo para nos encontrarmos no centro da cidade, numa lanchonete que frequentávamos no início do nosso namoro. Ele respondeu um breve ok. Peguei as chaves do carro e munida por uma coragem inesperada, parti rumo ao centro da cidade.

Cheguei antes de Alexandre, o que deu tempo de mandar uma mensagem para Tess, mas ela estava tão ansiosa que resolveu me ligar. E foi então que começou o grande problema. Rafael estava junto. Ele pegou o telefone de Tess e não parecia nada alegre comigo, mas como sempre conseguiu manter seu quase inabalável controle. Nós discutimos por alguns minutos, quer dizer, Rafael ficou esbravejando toda a sua irritação comigo e eu tive que ouvir pacientemente.

“Cade você?”

- Hã... Eu.. Rafael, nós...

“Responde a minha pergunta, Renata!”

Um rapaz de cabelos nos ombros e sorriso fácil se aproximou segurando duas malas nas mãos e uma enorme mochila nas costas. Eu arregalei os olhos. Alexandre parecia tão aliviado em me ver.

- Nossa, eu tinha esquecido como eu gosta do “Muito Sabor”, lembra o início do nosso namoro, Rê!

“RESPONDE RENATA, QUE INFERNO!”

Eu engoli seco, apertei qualquer botão do celular para finalizar a ligação e guardei na bolsa.

- Estou esperando o meu abraço!

- Claro!!

Levantei meio trêmula e o abracei. Ele ainda tinha o mesmo cheiro, o mesmo jeito de abraçar, que fazia eu me sentir sempre protegida e acalentada. Olhei Alexandre por alguns minutos e me lembrei do início do nosso namoro, e de como parecia certo eu estar com ele. E até um determinado tempo era mesmo. Só que então eu precisei que Rafael voltasse para descobrir que o nome disso era conveniência.

Eu o deixei falar. A voz dele preenchia a minha tensão. Quando ele me perguntava algo eu me limitava a sorrir e assentir, mas infelizmente eu sou clara demais, as pessoas, como Alexandre, que me conhecem sabem quando estou com algum problema.

- Alê... – Eu o olhei, tentando acabar com toda a minha tortura interior. – Eu não vou te enrolar ou vir com milhares de desculpas. Eu não posso noivar com você. Não amando outro homem.

As reações de Alexandre foram curiosas. Primeiro ele pareceu saber o que alguma coisa ia ter fim naquele momento. Depois sua expressão se entristeceu.

- É aquele cara, não é? – Perguntou, com um sorriso triste. Ele sabia um pouco da minha história com Rafael.

- É. Ele voltou e eu descobri que ainda sinto as mesmas coisas, do mesmo jeito. E eu não posso fazer isso com você. Não é justo.

Alexandre assentiu, mas ainda mantinha a mesma expressão desolada.

- Alê... – Eu segurei a mão dele. – Posso estar fazendo a maior besteira da minha vida, mas eu quero arriscar.

- Eu entendo, Renata. Eu entendo e na verdade agradeço a sua honestidade. Você foi a melhor namorada que eu tive, foi uma honra de verdade ter me relacionado contigo... Mas eu meio que sempre soube que você não era inteiramente minha. – Ele respirou fundo antes de continuar. – É como se você mesmo comigo ainda esperasse por algo... Ou alguém, nesse caso. – Alexandre deu um meio sorriso. – Eu quero que você seja feliz, Renata. Muito feliz.

- Eu só tenho a agradecer por tudo que aprendi com você, Alexandre Reis. – Nos abraçamos. – De verdade mesmo. Você é uma pessoa maravilhosa.

- Eu posso te pedir uma coisa?

- Pode, claro.

E então ele pediu algo que eu não esperava, mas não tive coragem de recusar. Alexandre me pediu um beijo de despedida. Eu toquei seu rosto e fui puxada pela cintura. O beijo assim como o momento tinha um gosto de despedida. Quando nos afastamos, tive uma estranha sensação que alguém me observava, mas quando olhei para trás não vi ninguém.

- Adeus, Renata.

Acabei chorando quando vi Alexandre indo embora. Despedidas em qualquer situação que eu estivesse nunca foram o meu forte.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 29/07/2015
Reeditado em 16/08/2019
Código do texto: T5327432
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