A velha escola. As velhas lembranças.


- Para de reclamar, você é pior do que criança, Bernard!

- O grande “encontro dos ex's” tinha que ser logo na escola?

- Sim! Eu te expliquei isso mil vezes.

Bravo, Bernard bufou alto enquanto manobrava o seu carro para entrar no estacionamento de nossa antiga escola. Eu mal entrei e já conseguia visualizar todos os anos que passei ali. Anos que pareciam eternos quando a minha rotina era somente aquilo. Hoje olhando de fora pareceu uma fase que passou rápido demais, e que fora vivida com toda a ansiedade da adolescência. E tudo isso me rendeu algumas reticências que eu luto para transformar em um ponto final.

Quando o ronco do motor cedeu, Bernard tirou a chave da ignição e me olhou.

- Por que o Michel decidiu vir antes?

- Boa pergunta. Espero que ele não tenha se alterado com a Tainara.

- Você sabe que isso vai ser estranho, não sabe? – Eu balancei a cabeça, assentindo. – E porque você não disse que eu... Sei lá! – A expressão agoniada dele me fez sorrir. – Que ódio de você, Maria Luíza!

- De mim?

- Sim, por que você não me livrou dessa?

- Calma... Até parece que você vai pedi-la em casamento.

- Deus me livre!

Descemos do carro juntos. Bernard guardou a chave no bolso.

- Ei! – Exclamei, chamando sua atenção. Ele me olhou com o cenho franzido. – Você está nervoso por causa da Sam, não é? Eu vi o olhar que vocês trocaram quando eu falei para onde iriamos.

- Cala a boca, Maria Luíza!

- Ah!! Eu sabia que você não resistiria por muito tempo.

- O que você está insinuando?

- Tem certeza que não sabe?

- Cala a boca, sério. Cala mesmo a boca.

Bernard me pegou pelo braço e me puxou, ainda muito bravo pela provocação. Andamos por um corredor que dava acesso ao portão 2 da escola. Não havia mudado muito, apenas se conservado como uma das melhores escolas do estado. Eu ainda conseguia lembrar com clareza do primeiro dia que entrei aqui.

- Isso é muito nostálgico. – Ouvi Bernard falar, mas ainda era um tom de insatisfação em sua voz. – Demais até.

- Consigo visualizar você implicando comigo. – Ele me olhou de canto enquanto andávamos rumo ao auditório onde Tainara e Michel nos esperavam. – Era irritante.

Trocamos um sorriso. Soltei o ar que prendia quando me veio flash's de Elena. Afinal, ela também faz parte disso tudo.

- Você parecia um ratinho assustado quando chegou aqui.

- É. – Bernard me cutucou de leve no braço. – O que foi?

Ele passou o braço ao redor do meu pescoço, num abraço meio desajeitado, bem no estilo dele. Tinha notado que eu também não me sentia confortável dentro do principal palco de minha história com seu melhor amigo.

Abrimos a porta dupla do auditório e encontramos Tainara e Michel sentados na primeira fila. Ela ficou de pé, primeiro. Bernard travou no mesmo instante em que a viu.

- Pensei que vocês não viriam mais. – Michel falou, num tom descontraído. E a julgar por isso, a conversa com a Tainara fora boa. – Hã... – Ele veio em minha direção e segurou minha mão. – Estaremos lá fora.

Não houve respostas de nenhum dos dois.

- Será que ele não vai irrita-la? – Michel perguntou, preocupado. Seguimos em direção ao refeitório.

- Não... Ele não é tão desumano como demonstra sempre... Mas como a Tainara conseguiu autorização para entrar na escola num sábado?

- O caseiro da escola a reconheceu no mercado, algo assim... Papo vai, papo vem e ela usou um pouco de seu poder de persuasão para conseguir entrar.

- Esperta.

- É verdade. – Michel sentou-se num banco do refeitório. – Lembra quando eu te beijei pela primeira vez aqui na escola?

Eu tive medo de fazer com o que o clima pesasse, mas era inevitável não partilhar de suas lembranças.

- Lembro. – Soltei uma risada alta. E logo estávamos sentados lado a lado, numa proximidade física que fazia todo o meu corpo tremer. – Você me forçou a te beijar.

- E eu ainda disse que você que me beijou. Eu era muito idiota... – E ele riu, de canto. – Passou tudo muito rápido.

- É.

- O que foi? – Eu olhava para o outro lado, onde ficava o pátio. Michel colocou a mão suave sob meu queixo, para que eu o olhasse. – Você está pensando na formatura, não é?

Balancei a cabeça, assentindo. Nem tinha como negar o quanto aquilo mexia comigo. Fora a partir daquilo que minha vida mudara drasticamente.

- Eu quis tanto aquela formatura. – Lembrei então do doce rosto de minha tia e de seu esforço para que eu pudesse participar daquele dia. – Tanto.

Michel ficou de pé, de repente e me estendeu a mão. Eu franzi o cenho.

- É verdade que... – Eu aceitei, pegando a sua mão. – Não temos como voltar naquele dia e fazer diferente, mas eu posso te mostrar como foi.

- Mas não temos música.

- Temos sim, aquela do The Fray que eu dediquei a você. Não lembra?

- Eu nunca esqueci.

A mão dele parou em minha cintura e aos poucos ele foi me unindo ao seu corpo. Michel selou nossos lábios e me olhou, sorrindo. Não apenas com os lábios. Foi um sorriso que vinha também do brilho de seus olhos verdes.

Apesar do cenário não ser o de um baile e a escola não ser um castelo, me senti uma princesa sendo conduzida por seu príncipe. Michel contou de como era a decoração da festa. Depois de como uma ex-colega nossa de classe caiu no meio do baile. Relatou, com tanta vivacidade o dia que era para ser o melhor de minha vida. E não foi. Minutos depois, sem conseguir segurar minha emoção, eu estava aos prantos.

- Eu sinto muito. – Sua voz sussurrou em meu ouvido. – Se você soubesse...

Foi a minha vez de silencia-lo, mas com um beijo. Um beijo que começou lento, quase casto, até que, como sempre, as coisas foram to mando proporções altas.

- Michel... – Murmurei, em seu ouvido, tentando traze-lo a realidade de onde estávamos.

- Malu...

A urgência em sua voz conseguiu o efeito desejado. Caminhamos com passo longos até a sala do almoxarifado, mas não deu tempo de entrar completamente. Michel me puxou para um beijo completamente desesperado. As mãos dele foram para o meu vestido, procurando como abri-lo. Nós ofegávamos tão alto, que apesar de saber que não tinha ninguém ali, me peguei com medo de ser vista.

Michel começou beijando meu pescoço, e seguia lutando para abrir o meu vestido.

- Nós já ficamos aqui, não ficamos? – Perguntou.

- Já, já... Continua...

Ele soltou uma risadinha e voltou ao que fazia. Eu fechei os olhos, entregue as sensações. Houve um momento em que meu vestido parou na cintura e a boca dele em meus seios fez gemer alto demais. Sem conseguir me conter, eu o puxei pelos cabelos e o beijei com a mesma possessão dele. Foi inexplicável o que tive quando o vi gemer com a minha mão descendo até o volume em sua calça.

- Maria Luíza...

- Sim, eu sei.

Abri o zíper e baixei a calça jeans dele até o pé, depois fiz o mesmo com a cueca. Ele já estava completamente excitado. Fui me encostando a parede e o trazendo junto comigo. Não deu exatamente tempo de eu tirar a minha calcinha, pois Michel a rasgou com uma única puxada. Logo nossos corpos completavam um ao outro e éramos uma coisa só.

Foi uma mistura de sentimentos. Primeiro era uma saudade desesperada do corpo, do cheiro dele. Uma saudade tão grande que meu coração disparava com força, como se aquilo acontecesse pela primeira vez. E todas as nossas vezes juntos eram como uma primeira vez. Em seguida a nossa conexão física e sexual, que era muito mais do que perfeita, era inigualável. Depois veio aquilo que por anos eu evitei, neguei, fingi não sentir... O amor. O amor tão profundo e doloroso que era capaz de modificar toda a minha vida. E só ele era capaz disso.

- Malu... – As mãos dele apertavam minha cintura com tanta força que eu mal conseguia me mover. Michel selou nossos lábios. – Você sabe que é minha, não sabe? – Perguntou, no pé do meu ouvido. A voz era sacana, provocante.

- Sim. – E os ritmos aumentavam conforme ele me ouvia gemer. – Eu sou sua. Eu sempre fui sua.

As mãos de Michel desceram do quadril para a minha bunda, onde recebi um tapa bem forte. Eu dei um gritinho, e quis tanto odiá-lo por isso, mas acabei gostando dessa novidade. Quando seus dedos entraram em meus cabelos ele os puxou com força e selou nossos lábios.

Eu suguei seu lábio inferior. Todo o seu corpo se enrijecera. Foi a minha vez de segurar sua cintura. Michel me pressionou a parede e logo o clímax veio, fazendo todo o seu corpo relaxar. Ele deixou a cabeça em meu ombro, e era possível ouvir sua respiração descompassada.

Mesmos exaustos, Michel me manteve ali presa. Eu passei a mão por seu rosto e o beijei com carinho.

- Eu queria que estivéssemos na minha casa. – Falou, passando o nariz por minha bochecha.

- Eu também... Mas nós precisamos ir, daqui a pouco o Bernard vai embora e nos deixa aqui.

- Vai nada. Ele espera. - Michel ergueu meus braços. – Nós não terminamos...

Michel e eu nos beijamos com volúpia. Meu vestido que antes estava na cintura, fora para o pé. E ele me ajudou a tira-lo. Eu sabia o que ia acontecer. E só de saber já fora mais do que suficiente para me tremer tamanha excitação. Ele beijou minha coxa, subiu os beijos até a virilha. Deu uma mordidinha que me arrancou um gemido. Afastei as pernas e joguei a cabeça para trás quando a língua dele começou a explorar todos os meus sentidos mais femininos. Com uma mão, ele ainda conseguiu acariciar meu seio. E aquela combinação não poderia ser mais inteligente para me fazer ter um orgasmo.

- Michel... – Eu coloquei a mão em sua cabeça, segurando seus cabelos. – Ah...

- Eu sou completamente louco por você.

Eu queria responder, mas a língua dele continuava me provocando de uma forma que eu não conseguia fazer outra coisa além de ofegar e gemer seu nome. Meu corpo parecia entrar em erupção a cada vez que ele me beijava ou quando apertava as minhas coxas. Logo cada parte minha começou a responder a todos aqueles estímulos. Primeiro se enrijecera, e em seguida, relaxava.

- Isso é tão bom... – Murmurei, com a voz ainda meio grogue. Ouvi sua risada, em seguida, ganhei um beijo na testa. – Você é muito bom nisso.

- Você acha? – Perguntou, sem evitar seu cinismo. Eu belisquei seu braço. – Tá bom, eu sou...

- Agora precisamos ir.

- Sim.

- Merda! Você rasgou minha calcinha.

- Desculpa!

Não foi nada conseguirmos nos vestir no escuro, precisamos da luz do celular dele e muita técnica para não cairmos devido aos objetos que estavam na sala.

- Michel. – Chamei. Nós já estávamos saindo pelo da área do refeitório.

- O que?

- Olha para minha bunda.

Ele obedeceu.

- Está maravilhosa. Como sempre.

- Não, idiota! Dá para notar que estou sem calcinha? – Michel olhou novamente.

- Não, relaxa. – Ele me puxou para o seu lado. E andamos abraçados até o estacionamento. Bernard estava encostado no carro, mexendo distraidamente em seu celular.

- Cadê a Tainara? – Perguntei, chamando sua atenção. Mas, invés dele responder, deu um sorrisinho sacana olhando para nós dois. – O que?

- Se a porta e as paredes do almoxarifado falassem hein...

Michel revirou os olhos, rindo. Eu senti minhas bochechas ficarem quentes na mesma hora.

Bernard foi para o banco do motorista. Michel e eu ficamos no banco de trás.

– Ah. – Ele nos olhou. – Marquei uma pizza com a Tainara na quarta.

- Boa! – Exclamou Michel, sorrindo.

- Na sua casa, Maria Luíza. – Acrescentou, ligando a chave do carro.

- Por que na minha casa?

- Se alguma louça tem que sujar, que seja a sua. – Disse, com a maior tranquilidade possível.

Eu já disse o quanto o odeio?

- Então foi tudo bem? – Michel perguntou ao amigo. Ele passou o braço por meu pescoço e entrelaçou os nossos dedos.

- Foi até mais tranquilo do que eu pensava. – Através do espelho do carro notei que ele sorrira. – Ela me pediu perdão pelo o que fez e disse que eu ainda era o grande amor da vida dela.

- Grande amor... – Murmurei, pensativa. Michel me olhou, com a sobrancelha arqueada. Eu dei um selinho rápido nele.

- Que lindo vocês dois, nem parece que já brigaram que nem dois vikings de 110 kg.

- Cala a boca, Bernard. – Michel deu um tapa leve na cabeça do nosso motorista.

Deitei a cabeça em seu ombro e sorri involuntariamente, mas que logo se perdera ao lembrar de quem me esperava em casa. Soltei um suspiro que não passou despercebido por Michel. Ele deu um beijo na minha têmpora e apertou as nossas mãos.

Se é possível ou não, não sei, mas o amei ainda mais a partir daquele momento.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 06/06/2016
Reeditado em 02/07/2022
Código do texto: T5658643
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