Goodbye lovers & friends – Parte 1

 

“Goodbye lovers & friends
It’ so sad to leave you
When they lie and say
This is not the end
You can laugh as if we’re still together
But this really is the end”
(Franz Ferdinand)

 


- Eu só quero entender porque cheguei em casa de manhã e a Samanta estava chorando, só isso, Bernard! – Ajeitei o telefone na orelha enquanto digitava uma resposta de trabalho em meu e-mail. – Ah, então não é da minha conta? Eu não compreendo você, sério!

“Tem um monte de coisas que eu também não compreendo sobre você e sua história e nem por isso eu fico metendo o meu nariz onde não devo.”

A resposta dele foi um tanto fria e agressiva. Me peguei sem saber como responder. Respirei fundo, tentando evitar a mágoa. Parei de digitar e me encostei melhor em minha cadeira.

- Tudo bem.

“Se não for pedir demais, deixa que com a Samanta eu me resolvo.”
     
E antes que eu pudesse responder, Bernard finalizou a ligação. Olhei para meu celular, abismada com o modo que fui tratada. Ele nunca fora ríspido assim de forma gratuita. Segui para a sala de Michel, que também fazia uma ligação, porém ao me ver, parou. A mesa de Neusinha estava vazia, era seu horário de almoço.

- Malu? O que foi?

- Bernard. – Respondi, com um bico choroso.

- Vem cá, vem... – Ele me chamou para sentar no colo dele. – O que aconteceu?

Contei para Michel sobre Samanta chorando após a noite com Bernard.

- Ela não queria conversar comigo, mas mesmo assim eu fiz. E nossa, Bernard nunca foi tão grosseiro assim antes!

- Ele não está bem, Malu. – A mão de Michel fazia carinho em meu pescoço. – Você sabe que não é dele essas coisas.

- Sim, ele não está. E o pior, não fala o que é.

- Exatamente. Acho que mais tarde vou me encontrar com ele. Não fique magoada, ok?

- Tudo bem.

Quando levantei, Michel me segurou pela cintura, me sentando de novo. Eu o olhei com a sobrancelha arqueada.

- Você fica tão linda de saia. – Murmurou, no pé do meu ouvido. Eu coloquei minhas mãos ao redor do seu pescoço.

- Fico é?

- Muito... – Os dedos dele apalpavam minhas costas. – E sem ela então...

- Michel... – Sua mão subiu por minha coxa. – Já, já a Neusinha volta do almoço, não teremos tempo...

- Mas eu não estou fazendo nada. – O dedo alcançou minha calcinha. Me mexi em seu colo, mas juro que foi involuntário. Michel então, sem pudor algum, levantou minha saia um pouco mais.

- Não faz isso...

- Shhh... Relaxa. – A mão passou por minha calcinha e maldosamente começou a me acariciar. Eu deitei minha cabeça em seu ombro, completamente excitada. – Isso...

Michel então começou a me fazer provocantes caricias. Ele jogou meu cabelo para o lado e me segurou com mais força enquanto eu me contorcia em cima dele.

- Michel, se alguém entrar na... – Tentei falar, sentindo o ritmo de seus dedos em mim. – Ah...

- Ninguém vai entrar.

De fato, ninguém entrou, mas para compensar isso, meu celular tocou. Eu tentei pega-lo, mas fui impedida. Michel capturou meus lábios e me beijou, ainda estimulando toda a minha feminilidade.

- Michel... – Sussurrei, ainda sentindo os dedos dele me invadindo em um ritmo alucinante. – O celular...

No momento que eu disse isso, a ligação caiu na caixa postal.

- Viu? – Ele sorriu vitorioso e voltamos a nos beijar. Não deu nem 5 minutos e o celular tocou novamente, mas dessa vez, pelo toque, sabia que era Thomas. Inclusive, fora obra do próprio colocar um toque diferenciado.

- Merda... – Murmurei, entre os lábios de Michel. Um par de olhos verdes nada contentes reviraram. Ele sabia quem era. Eu estiquei o braço e peguei o celular na mesa. – Michel... – Tentei usar meu tom mais ameno, mas já tinha acabado o clima.

- Atende. Deve ser importante. – Me levantei e olhei para o visor do celular. Abri a boca para tentar me explicar (mesmo sabendo que isso só pioraria as coisas), mas ele foi mais rápido. – Sim, eu sei.

- Eu sei que...

- Atende, Maria Luíza. Só atende. – Michel voltou sua atenção para o computador, tentando, sem sucesso, disfarçar sua irritação.

Saí da sala com o celular e no último toque, atendi. Thomas queria me encontrar para almoçarmos. Desde a nossa última discussão, conversamos somente o básico. O que deixava Samanta num constante clima de desconforto. Aceitei o convite para o almoço e indiquei um lugar para irmos. Quando desliguei, Michel passou por mim, mas não me olhou.

- Vou almoçar com o Bernard. Até depois.

Eu não tive tempo de falar algo que o impedisse.

“E lá vamos nós... De novo.”



(...)

O almoço com Thomas foi por um lado, ótimo e por outro, extremamente doloroso para mim. Ele me pediu desculpas por sua atitude, e disse que não voltaria a acontecer. Ainda para destruir comigo comprou uma rosa de um vendedor na frente do restaurante. Isso foi o suficiente para eu voltar para a empresa chorando. E como se ainda não pudesse piorar, encontrei Michel no elevador.

- Bela rosa. – Ouvi ele dizer, enquanto eu tentava esconder meu rosto vermelho e inchado.

- É.

- O que aconteceu? – Perguntou, depois que a porta do elevador fora fechada. – Se eu soubesse que uma rosa te emocionava assim teria comprado antes dele. – Acrescentou, com um gracejo maldoso na voz.

Não conseguia falar. Olhei para os botões do elevador, perdida em meus pensamentos. Quando parou no nosso andar, saí sem falar nada. E foi assim o restante do meu dia. Thomas havia me lembrado o peso que uma mentira tem.


                               Horas depois...


A verdade é. Tudo que está ruim sempre pode piorar. E muito.

Quando cheguei em casa à noite, encontrei Thomas na cozinha. E pelo cheiro gostoso no ar, ele estava cozinhando. Meus olhos pousaram na mesa, e vi tudo arrumado em seus mínimos detalhes. Como não ouvi a voz de Samanta, concluí que Thomas tinha organizado um jantar para nós dois. Primeiro me faltou o ar, depois minhas mãos começaram a tremer e senti como se um buraco tivesse se abrindo na minha frente. Era uma crise de pânico. Respirei fundo e me apoiei na mesa. Thomas não reparou em meu estado, pois alegremente falava sobre o preparo de seu prato. Sabe quando você sente uma bomba prestes a explodir dentro de você? Era o que ia acontecer naquele momento.

- Thomas.

Ele não queria ouvir meu chamado.

- Thomas... Nós precisamos conversar.

- Está quase pronto!

Em sua voz havia um desespero suave em fugir da conversa. Foi então que a bomba que guardei dentro de mim por tantos anos simplesmente explodiu.

- EU TRAÍ VOCÊ COM IMMANUEL BABINSKY!

Gritei tão alto e dolorosamente que precisei forçar a respiração. E nisso vieram as minhas lágrimas e um silêncio tão profundo e perturbador que tive medo da reação de Thomas. Seu olhar foi inexpressivo, o semblante era de quem tinha, enfim, acordado para a realidade. Ou melhor, sido empurrado sem a menor gentileza para a realidade. Ele veio na minha direção, e o olhar, antes inexpressivo, tornou-se raivoso. Sua mão grudou em meu pescoço e seus dedos me apertaram a traqueia. O ar começava a me faltar nos pulmões.

- Thomas...

Seus dedos afrouxaram, de repente. Conseguia ouvir sua respiração descompassada. Baixei a cabeça e forcei o ar para voltar a respirar. Quando levantei para olha-lo, ele me deu um tapa. Era a primeira vez que isso acontecia. Em todos esses anos, Thomas nunca havia me agredido. Coloquei a mão no rosto automaticamente. Apesar de surpresa pelo tapa, sabia que era pouco para o que eu merecia.

- Você acabou com tudo, Maria Luíza! Tudo! – Ele disse com a voz magoada e com raiva. O olhar acusador. – Tudo!

- Deixa eu te... – Dei um passo em sua direção, mas Thomas se afastou, evitando que eu o tocasse. Ele foi andando de costas, totalmente transtornado. Balançava a cabeça, como se negasse a aceitar o que acontecia no dia em que preparava um jantar romântico para nós. Vi uma lágrima descer pelo seu rosto, completamente pálido, até que ele saiu pela porta, batendo-a com tanta força que não seria surpresa se quebrasse.

Eu desabei. Mesmo. Sabe quando você chora com um misto de alívio com culpa? Alívio porque ele finalmente sabia da verdade. E culpa, porque eu era a responsável por seu sofrimento. Eu prolonguei a mentira. Eu que fiz tudo aquilo virar uma bola de neve. Encostei-me na geladeira, até que escorreguei até o chão e chorei tão alto. Chorei de me faltar o ar. Chorei porque Thomas não saberia lidar com aquilo. Quem saberia, afinal? Eu o traí com seu maior inimigo. Transei diversas vezes com um dos responsáveis pelo fim de sua família. Eu sabia disso tudo. E nunca havia me importado.

Deitei-me de lado no chão frio, me encolhendo como uma criança. Senti falta do colo da minha tia, senti falta do carinho de Michel, e do abraço de Bernard. Senti falta de todos eles me dizendo que tudo ficaria bem e que Thomas me perdoaria. Mesmo sabendo que aquilo tudo era uma imensa mentira que meu subconsciente tentava me fazer acreditar.

Fechei os olhos por alguns minutos e respirei fundo. Minha garganta começava a secar, e meus olhos ardiam.

“Ele está andando por aí, esfriando a cabeça. Ele vai voltar e iremos conversar.” – Limpei as lágrimas do rosto, enquanto observava o teto da cozinha, completamente desolada. A nossa história que chegava ao fim, havia me feito, enfim, lembrar do começo. Thomas parecia o herói da minha história. E poderia ter sido. Costumávamos planejar a nossa vida na Alemanha. Teríamos 2 filhos, uma menina e um menino e depois adotaríamos um cachorro, mesmo que Thomas gostasse mais de gato. Ele criaria o menino para se tornar um grande jogador da seleção da Alemanha. Eu colocaria nossa menina no Ballet. Viajaríamos para a Espanha no nosso aniversário de 5 anos de casamento. Seriamos felizes. Imensamente felizes. Por que a nossa história individual já tinha muita dor, muita mágoa, e sem pensar muito joguei tudo aquilo para o alto. Casamento, filhos, um cachorro, uma história feliz. Tudo foi para o lixo.

Não sei por quanto tempo fiquei ali chorando e lembrando de tudo que vivi com Thomas, mas quando acordei, Bernard estava sentado ao meu lado, passando a mão pelo meu cabelo, suavemente.

- Bernard...

- Oi.

- Eu falei tudo para ele. – Eu me sentei, sentindo todas as dores por ter dormido no chão.

- E aí?

- Ele foi embora. Provavelmente para a casa de algum amigo.

- Não levou nada?

- Não.

Sentamos um ao lado do outro. Bernard passou o braço pelo meu pescoço e eu aceitei o abraço. Não sei como ele sabia, nem se sabia que eu precisava de alguém, mas me sentia grata por sua presença.

- Hoje ele aparece e vocês poderão conversar melhor.

- E se ele não aparecer?

- Alguma hora ele terá que aparecer, Malu. – Bernard me olhou, de canto. – Você sabe que está horrível, não sabe?

- Sei. – Revirei os olhos, mas acabei sorrindo. – Eu não consegui sair daqui.

- Imagino... Você fez o que tinha que fazer.

- Eu só não queria que ele sofresse.

- O sofrimento é inevitável. – Ele então deu de ombros, e depois ficou de pé. – Vem. – Bernard me ajudou a levantar. – Toma um banho, melhora essa cara!

- Eu estou tão feia assim? – Perguntei, com graça.

- Feia é pouco.

Dei um tapa no braço dele, que riu. Seguimos para a sala, que por sinal, estava uma bagunça. “Preciso contratar uma faxineira com urgência.” Ouvi o celular de Bernard tocar, me virei para olha-lo.

- Você sabe quem é. – Ele disse, com ironia. Eu assenti, sorrindo. – Fala, meu querido. Eu estou aqui na...

Ajeitei as almofadas no sofá e retirei as camisetas de Thomas do chão.

Notei que Bernard não completou a frase, o que me fez olha-lo mais uma vez. Ele estava mais branco que o normal. A boca meio aberta e o olhar inexpressivo. Senti um aperto no peito repentino.

- O que foi, Bernard? – Perguntei, na mesma hora.

- Eu vou falar para ela. – Ele finalizou a ligação, lentamente. Fazia algum tempo que eu não o via tão desnorteado. – Malu...

- O que foi? Aconteceu algo com o Miguel?

- Não.

- Com a Sam??

- Não.

- FALA! – Gritei, desesperada. Ele demorou alguns minutos para falar, e conforme isso prosseguia, meu desespero aumentava. Bernard passou o dedo polegar pela maça do rosto, limpando uma lágrima. – Bernard, fala. – Eu o segurei pelos ombros, fincando minha unha em sua pele.

- A Tainara morreu.

 

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 04/07/2016
Reeditado em 31/07/2022
Código do texto: T5687497
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