Amor De Verão

Uma história de um amor não correspondido é sempre um perigo, haverá sempre um vazio e um pensamento sobre Fabrício, um nome excitante, que me causou arrepio e calor. Fabrício o menino que me defendeu dos garotos que zombaram minha feminilidade no verão de 2012 na cidade de Salvador.

Fabrício era diferente de todos os garotos e garotas dali, ele era instigante e elegante, do tipo que não aceitava o silencio e as dúvidas.

Mas você deve se perguntar como esse amor não correspondido começa? É isso que eu vou fazer agora, contar os detalhes, pois o final você já sabe.

Do terceiro andar do prédio da igreja me inclino e olho para baixo e avisto um garoto alto, vestido todo de preto e óculos escuro. Eu logo admirei aquela figura enigmática. E me perguntei quem era ele, onde vivia, o que comia, o que fazia, e onde esteve esse tempo todo? o único de poucos que despertara minha curiosidade, minha admiração era óbvia, quando nossos olhares se encontraram apesar da distância de três andares. Me recordo da minha amiga falar que ele era "viadinho" e começarmos a rir alto para chamar a atenção dele, e funcionou, ele olhou e entendeu que estávamos falando dele, mas não era bem. Descemos as escadas e nos encontramos. Minha amiga o abraçou, e me apresentou a ele, ele então estendeu a mão. A mão dele era lisa, seus dedos eram largos e eu não queria soltá-lo, e àquele aperto de mão durou uma eternidade. Quando ele soltou senti que meu coração batia feito bateria de escola de samba. Ele tinha opinião e logo ele e Formiguinha começaram a discutir sobre ele ter se afastado da igreja. Lembro dele dizer que só estava indo para igreja por que seu pai estava o obrigando, ele também falou que fumaço que adorava whisky, tudo isso eu ouvi no pátio da igreja, enquanto meus ouvidos e olhos não piscavam, ele soltou a última novidade que fez meu coração começar a sambar, "EU TAMBÉM VOU NO RETIRO DE AREMBEPE".

Arembepe era um lugar afastado da cidade de Salvador, onde nós iríamos passar o retiro durante o carnaval, o lugar onde até então, eu não estava nem um pingo entusiasmado a ir.

O que acontece depois eu vim entender alguns anos depois. Nós nos aproximamos no ónibus, e de Salvador até Arembepe conversamos bastante e eu adorava ouvir ele falar, e eu me sentia um aventureiro.

A minha alegria estava por um fio, quando no segundo dia de acampamento um menino começou a questionar minha sexualidade, na frente de todos, eu fingia não ouvir, pois ele não era o primeiro, foi quando então minha amiga Milka pediu para que eu me defendesse, eu comecei chorar, e ela começou gritar com o garoto. Então com a voz trémula eu gritei -viadinho é você-, o garoto não gostou do que ouviu, ele avançou e quis me agredir fisicamente, foi quando então o Fabrício o segurou. Memórias horríveis, até o momento em que eu saí correndo e me escondi, e o único que me achou foi o Fabrício. Ele começa a acariciar meu ombro de forma carinhosa e suave e fala "Adonai não ligue! Todos esses caras se masturbam com o dedo no cú". E os minutos seguidos da nossa conversa é sobre tudo que passei. E eu ouvia cada conselho de libertinagem e ousadia daquele garoto, e o momento chato começou  parecer muito bom por ele ter tocado no meu ombro. Logo depois que ele se vai, todo mundo começa entrar em uma van para ir para uma tal lagoa, e eu estou lá dentro da van sozinho começando a chorar novamente, e outro garoto moreno baixo e bonito me consola, e eu começo a gostar daquilo também, mas preferia que fosse o Fabrício.

Chegamos na lagoa,  juro, eu sai da van correndo em direção a lagoa, e saltei tipo dei um "timbum". Quando levantei sacudindo minha cabeça para tirar a água o Fabrício estava na minha frente, e eu todo feliz comecei tagalerar, perguntei sobre a Formiguinha. Ele indicou onde ela estava com o dedo, fui ao encontro dela e dei um abraço forte, então ele veio e se juntou ao abraço também, só que do lado da Formiguinha (Que raiva).

Depois de brincarmos e conversarmos ele nos fez uma proposta Vamos nos beijar em baixo d'água?

Formiguinha indignada responde Deus me livre, isso é coisa do diabo.

Fabrício me questionado O que você acha Adonai?

Eu respondo Não sei, para mim não tem nada demais.

Formiguinha retruca Isso é coisa de viadinho gente, eu não quero!

Minha sensação foi de raiva da Formiguinha, e tesão pela ousadia do Fabrício.

Ele some por alguns minutos, e eu começo a sentir frio, pois já é tarde e o sol começa a esfriar a tarde maravilhosa. Pouco tempo depois de eu fazer mais uma análise sobre o ocorrido de logo cedo, ele aparece com uma cara de suspenso, e ele apresenta um certo acanhamento quando diz que precisa me contar um segredo, e que eu não deveria contar para ninguém, ele também propõe que deveria ser afastado dali. Então eu indico com a cabeça que sim e ele começa a caminhar cortando o peso da água, e eu percebo que a água começa a ficar escura e nojenta, as algas começam a fazer cócegas, e eu começo imaginar ter cobras e bichos e que a qualquer momento vou ser atacado, então eu paro, e falo para ele que não consigo ir até lá pois tenho medo. Ele vem até mim, e manda eu subir em seus ombros, e em seguida faço isso com muito prazer. Enfim chegamos até o local afastado, ele se abaixa até meus pés tocarem o chão da lagoa, um pouco mais clara que antes e com terra ao invés de algas nojentas, nós estamos afastados mas sobre a visão de todos, então ele olha nos meus olhos e parece estar nervoso. Eu falo para ele me contar logo pois estava ficando nervoso, então ele diz estar muito nervoso também, e eu insisto que ele fale e que não fique nervoso,  então ele fala.

-Eu quero ficar com a Liu, mas não sei como falar para ela.

Naquele momento eu fiquei triste e aliviado pois sabia que mesmo que ele dissesse que queria ficar comigo e me arrancasse um beijo forte e profundo, naquele momento eu me arrempederia. 

Hoje não teria essa sensação de que eu fui um amor não correspondido para alguém.

Depois de um tempo minha decepção foi óbvia,  e nossos olhares eram vazios, e cheios de desejos, eu o amei e ele também me amou naquele verão. Mas eu não me entreguei por amar a religião, e por medo de talvez ser coisa da minha cabeça e até hoje a dúvida me arrasta.

Qual seria a verdade que não foi dita? Pois a mentira eu ouvi e não gostei.

Nos encontramos uma vez depois, nossos olhares namoraram por nossas bocas e por nossos corpos, isso era evidente, mas naquele dia, nunca irei entender o olhar triste dele, e a angústia em sua fala. Depois daquele dia nunca mais falei com ele ou tive contato visual, apenas o via passar, e ele nunca me via, ele era ele de um jeito cruel e frio, mas era o menino da cidade de Salvador, o garanhão que todos comentavam, e admirava.

Fabrício foi em meus sonhos meu namorado, foi o primeiro sinal da minha perdição, foi o meu primeiro tesão por pessoas do mesmo sexo.

E além de tudo hoje eu vejo, que quando ele me amedrontava eu o amedrontava também.

Simplício
Enviado por Simplício em 07/05/2018
Código do texto: T6329863
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