Os olhos de Luiza Cap 8

O fantasma que não era fantasma

No dia seguinte o menino ficou incafifado com aquela situação, afinal será que ele estava tendo visões, ou a nova vizinha estaria escondendo alguém na casa? Matutava o garoto.

Otávio decidiu enfrentar seu medo, pensou num plano para tentar desvendar esse mistério.

Chegou da escola apressado, fez seus afazeres bem como a tarefa escolar.

Atrás da casa da vizinha, tinha um muro bem alto e uma enorme árvore do lado de fora, ele falou para Lúcia que iria comprar balas na venda do Sr. Antônio. Saiu de casa pé com pé e foi rumo a árvore, já sabia que a mulher saia de casa todos os dias muito cedo para trabalhar e só voltava a tardezinha.

Otávio deixou os chinelos gastos no pé da frondosa árvore e começou a subir, foi indo e indo até alcançar o topo, chegando acima do muro ele observou o quintal da vizinha e uma coisa lhe chamou muita atenção, havia roupa de criança no varal, precisamente de menina, pois ele viu vestidinhos, roupas rosas de criança.

Foi quando de súbito, ouviu um barulho. Logo, uma menininha saira no quintal, sentou no beral da varanda cabisbaixa, estava com roupas muito simples e de repente. Cabrum...

- Ai, ai, ai.

Otávio caiu da árvore, e foi parar direto no quintal da vizinha, a queda foi forte e ele ficou tonto deitado no chão.

Quando abriu seus olhos, uma surpresa! Parecia um anjo. Cabelos encaracolados com cachos dourados, mas o que mais chamou a atenção do menino, foram os pares de olhos que a menina possuía, olhos grandes, arredondadas, fortes e brilhantes, num tom de preto azulado.

O olhar da menina penetrou no interior de Otávio, e ele ficou extasiado, pois em toda a sua infância, nunca havia visto olhos tão lindos e expressivos.

- Olá, você está bem?

- Você fala? Quer dizer, você não é um fantasma?

- De jeito nenhum, sou uma criança de carne e osso, pega na minha mão.

A princípio o menino relutou, mas devagar encostou sua mão na mão da menina e concluiu que ela era real.

Otávio teve muita dificuldade para se levantar, mas com ajuda da menina, conseguiu ficar de pé.

- Porque você se esconde?

A menina novamente olhou com seus grandes olhos para Otávio, mas dessa vez com eles cheio de lágrimas e disse:

- Papai bebia muito e batia na mamãe e em mim, no fim não havia um só dia que nós não apanhassemos dele, então mamãe decidiu fugir, mas com muito medo porque ele disse que se ela quisesse ir embora poderia até ir mas tinha que me deixar com ele. Por isso mamãe me esconde, porque na cabeça dela, se as pessoas souberem que ela é mãe solteira, fica mais fácil do meu pai nos encontrar. Por isso ela fala pra todo mundo que é viúva.

Ouvindo isto Otávio entendeu o real motivo da nova vizinha se fazer tão seria, e se encheu de compaixão pela menina que vivia trancada e escondida.

Logo as duas crianças conversavam e se interagiam, pareciam que já se conheciam à tempos.

Otávio perguntou curioso:

- Qual é seu nome?

- Meu nome é Luíza.

Seu nome adentrou no mais profundo do coração do menino, que sorriu alegremente para Luíza acreditando que naquele momento nascia uma grande amizade.