Capítulo 15 – Hoje tem gol do Gabigol
 


- Bom dia, Ander! – Entrei na cozinha e encontrei Lana fazendo café. Era uma agradável manhã de domingo. – Dormiu bem?

- Bom dia! Sim, mas estou ansioso. Hoje o Flamengo joga contra o Fluminense.

- 2x0 para o time do bairro das Laranjeiras. – Eu a olhei com deboche. – Quer apostar, mulambo?

- Seu time também joga, não?

- Sim, mas é a noite!

- É verdade. Sobre a aposta, eu aceito.

- Estou brincando. – Olhei ela com mais deboche ainda. – O que foi?

- Você, Lana Hassenback, com medo de uma simples aposta? - Ela segurou a caneca com café e me passou outra, enquanto me observava com um sorriso de provocação. – Logo você, sempre tão valente.

- Vamos fazer assim... Quem chegar mais próximo do resultado do próprio time, o outro terá que fazer o que a pessoa quiser.

- 2x0 pro Mengão. 1 gol do Gabriel e 1 do Bruno Henrique.

- 3x0 Corinthians.

Na hora não pensei em nenhuma maldade, apenas aceitei a brincadeira. Acho extremamente divertido quando Lana Hassenback se permite. O jogo começou a tarde e o resultado, como já previa, deu Flamengo.
No quarto e último gol do meu rubro negro, levantei para fazer uma dancinha da vitória.

- HOJE TEVE GOL DO GABIGOL ATÉ DEMAIS!

Me aproximei dela e contei até três com os dedos, referente aos três gols de Gabriel, o famoso Gabigol. Lana bebeu sua cerveja com ódio.

- Canta comigo, Hassenback! – Comecei uma dancinha ridícula na frente dela - Tô sem freio, tô sem freio, bonde do Mengão sem freio!

- MORRA!

No jogo do Corinthians, confesso, me segurei muito para na gargalhar com a terrível apresentação do time paulista.

- OLHA ISSO, OLHA O QUE ESSE ZAGUEIRO FILHO DA PUTA FEZ! – Ela pulava no sofá, segurando uma almofada com toda a força do mundo. A TV exibia o lance que originou o gol em cima do Corinthians. – EU NÃO AGUENTO MAIS!

- Calma... Lana... – Coloquei a mão na barriga, que doía por tanto rir. – Vai dar tudo certo.

- Eu ODEIO futebol! Vou começar a acompanhar nado sincronizado.

No segundo gol levado, Lana desabou no sofá, derrotada, assim como o seu time.

- É... – Peguei o controle da TV e troquei de canal, enquanto Lana desolada, olhava para a tela. – Bom, acabou!

- Eu não acredito que você ganhou a aposta.

- Eu também não. – Me ajeitei no sofá, sem conseguir conter meu sorrisinho vitorioso. – Mas acontece, cara! – Dei de ombros, tranquilo.

- E então? – Perguntou, seca. – O que você quer? Comida? Roupa lavada? – Me sentei ao lado de Lana. – Sua cara está muito estranha, Ander!

- Eu quero que você faça um strip-tease pra mim. – E como já esperado, seu olhar era de espanto. – Só um strip-tease, mas não precisa ser total.

- Você está trapaceando!

- Não estou não. – Me defendi, com um sorrisinho. – Não estipulamos limites. – Ela me olhava, furiosa.

- Não! – Exclamou, saltando do sofá. – Você é um trapaceiro e eu não quero mais brincar!

Eu a observei seguir para o quarto e dei de ombros, tranquilamente.

- Bom, sabia que ela não ia aceitar, mas quem não arrisca, não petisca.


Acabei cochilando no sofá, em alguns momentos ouvia um barulho vindo da cozinha, mas não me movi e nem levantei para ver o que era. Provavelmente era a Dinorá aprontando.

- Ander... - Pensei estar sonhando com Lana, até sentir um cutucão no braço. Abri os olhos, sonolento.

A imagem dela demorou a se formar na minha cabeça. Não podia ser real.

- Lana?

Parada na minha frente, Lana usava um conjunto de calcinha e sutiã vermelho. O olhar demonstrava insegurança, mas a postura era firme. Vi apertar um botão do celular, liberando uma música pop com batida lenta e sensual. Me sentei rapidamente e o sono foi embora na mesma hora.

- É só uma dança, ok! – Murmurou, se aproximando. Ela rebolou, deu uma girada e mandou um beijo no ar. Foi difícil me controlar, resistir ao desejo, mas me mantive congelado, (não movi um músculo, juro!) assistindo a dança meio desengonçada e provocante da corinthiana mais linda que já conheci.

Devia estar com cara de bobo, pois Lana tocou meu nariz com seu dedo indicador, me enfeitiçando ainda mais. Depois sorriu totalmente indecente, e aquilo foi mais do que suficiente para que eu fraquejasse abraçando suas coxas.

- Caralho, como você é linda! – Ela puxou meu cabelo sem muita força, me forçando a olhá-lo. – Desculpa, sei que...

- Nós prometemos um ao outro... Você sabe. – Embora suas palavras fossem alarmantes, não me afastou.

- Sim. – E fui empurrado contra o sofá. Lana sentou no meu colo. – Prometemos. Eu vou me afastar devagarinho. – E recebi um “sim” com a cabeça. O problema é que além de não me deixar sair, roçou os lábios nos meus.

Senti todo o meu corpo tremer, como se tivesse um espasmo. Se ela continuasse ali, seria impossível lembrar do nosso acordo.

- Ander... E se nos esquecêssemos aquele acordo por alguns dias? – A pergunta foi feita no pé do ouvido, o que me arrepiou por completo. – Enquanto estivermos aqui a gente esquece de tudo e vive o que tem de viver, sem pensar no depois.

Aceitei, lógico. Se ela me pedisse para roubar um banco e fugir com ela para a França eu aceitaria.

Eu aceitaria qualquer coisa que ela me pedisse.

- Você acha que é fraco, mas não é verdade. Sou muito mais fraca que você. – Segurei a sua cintura, com força, fazendo-a se mexer bem lentamente em mim. – E a prova disso é o que acontece aqui.

Acabei sorrindo feito um idiota passional. Lana me deu um beijo no pescoço.

- Eu amo você, Lana. 

Amei e tive aquela mulher sem delongas, sem amarras e sem pensar no que seria do nosso futuro. Talvez aquela noite fosse uma, entre tantas coisas que envolvem Lana e eu jamais me esqueceria.

Era impossível esquecê-la.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 14/01/2021
Reeditado em 18/01/2024
Código do texto: T7159769
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