O tique-taque do relógio do Eustáquio

Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tiquetaqueava o relógio do Eustáquio, marcando o tempo que não parava, não parava, não parava de passar.
E o Eustáquio a matutar:
- Desse jeito não vai dar, se o tique-taque do relógio não parar, o tempo vai passar, e logo, logo, velho vou estar!
Apertava os olhos, contorcia a boca, cruzava os braços, fechava a cara, e assim se deixava fixar, cabisbaixo, preocupado, sozinho e mal-humorado.
Passava o dia, passava a noite, passava outro dia e outra noite. E o Eustáquio sozinho a matutar:
- Tic-tac, desse jeito não vai dar, tic-tac, um velho vou estar!
Brilhava o sol de verão e os meninos jogavam bola, petecas, pião.
Surgia a lua no céu e as meninas brincavam de bugalha, esconde-esconde, passa-anel. Mas o Eustáquio, injuriado, insistia em matutar:
- Tic-tac, meu relógio, tic-tac, passa o tempo, logo, logo, tic-tac, muito velho, tic-tac, que tormento!
Não comia, não dormia, nada mais queria ou podia.
A mãe do Eustáquio, assustada com tamanha confusão, decidiu finalmente pôr fim à situação:
- Eustáquio, meu filhinho, não se preocupe, com o relógio. Deixe os tique-taques pra lá, que é isso, não faz mal, eu lhe compro um digital!