NOS TEMPOS DA ROÇA

A infância é um período pelo qual passamos, que deixam muitas marcas, para não dizermos pura nostalgia. Ao pensar nesta fase em nossa vida, nos remetemos a vários acontecimentos que poderiam ser relatados aqui, mas que no momento não teria espaço suficiente para tanta saudade.

Em se tratando da minha infância e juventude, eu nasci e cresci no interior do Espírito Santo, mas precisamente na comunidade de Alto Caldeirão, localidade de Santa Teresa. Naquela época, era conhecido como um local bucólico e pacato, pois sabe como é cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo e, algumas pessoas conhecem “mais” as outras. Assim, naquele tempo lembro-me como se fosse hoje, a parte que mais adorava eram as férias escolares.

Lembro que ao longo do ano estudávamos bastante, para poder passar logo e chegar o mês de dezembro, para quem passava direto e tirava boas notas, já entrava de férias. Oh...que época boa! Principalmente, porque nas férias escolares podíamos dormir até mais tarde, não precisava levantar tão cedo da cama, mas mesmo assim, minha mãe não perdoava, pois como morávamos na roça, meus pais sendo agricultores, e eu sendo pequena, tinha de acompanhá-los, quando ambos saíam para trabalhar. Só tinha um pouquinho de sorte, quando minha mãe ficava em casa, aí nesses dias, achava eu, que poderia tirar uma breve folga, porém, sempre vinha uma surpresa acompanhada deste momento, aí mamãe mandava eu levar almoço para o meu pai na roça. Ai, que treva!

Para chegar até onde meu pai estava sempre trabalhando, tinha que subir um “morrão” enorme, que quando se chegava ao fim dele, já se estava “de língua de fora”. Entretanto, mesmo com o sofrimento momentâneo deste esforço físico quando pequena, vinha a bonança, que era brincar de “escorrega” nas carreiras do cafezal abaixo, utilizando um saco de fibra velho, que sempre ficava escondido entre as quaresmeiras do lado da plantação de café.

Hoje, me recordando dessa fase, também lembro dos puxões de orelha, que vinham somados a essa brincadeira, dentre outras, e vejo os valores, como o respeito, a educação e o compromisso com as pessoas e o mundo que as cerca, que era valorizado e apreciado, o que hoje já não é seguido tão à risca e nos põe a refletir, como serão as recordações da sociedade infanto-juvenil no futuro.

Ângela Sipolatti
Enviado por Ângela Sipolatti em 16/12/2021
Código do texto: T7408914
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.