A Arca de Zândrus Vol 1 - Cap. 09

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Capítulo 9

O “ALGO”

Meliel e os demais retornaram ao Templo de Kira. O mago criou um extenso círculo de fogo para proteger o grupo de um eventual ataque noturno.

– Vamos tentar descansar. Amanhã retornaremos àquela vila. E retornaremos preparados para aquelas criaturas.

* * * * *

– Está um pouco longe de sua cabana...

– Sim... estou... – afirmou Volano, balançando positivamente a cabeça, olhando para Thapas.

– Devem estar cansados... A minha cabana não está muito longe.

O Mestre dos Magos olhava atento para aquele homem. Tinha a impressão de que pouco envelhecera desde a última vez que o vira.

As feras peludas aproximaram-se ainda mais, curvando-se. Thapas montou em uma delas e disse aos demais para fazerem o mesmo. Depois disso, as criaturas apoiaram seus longos braços no chão e tomaram impulso, adentrando rapidamente na Floresta.

– Síva... não podemos esquecê-la... – observou Valmiro.

– Síva?! Vocês conhecem aquela caçadora? – esbravejou Thapas.

– Ela foi atacada por um desses seres... – informou Tóro.

O pequeno homem, fortalecendo ainda mais a intensidade da luz da esfera, falou com as criaturas num linguajar desconhecido até mesmo para Volano. A fera que o carregava moveu-se para próximo de uma árvore. Thapas desmontou e apalpou o chão até sentir um volume. Fechou a mão, como que se segurasse algo, e puxou. Era a capa de camuflagem que Síva usava.

A caçadora estava ferida, desacordada. Tóro desceu da criatura que montava e colocou a jovem em seu ombro, voltando a montar na fera.

As criaturas retomaram a corrida, penetrando cada vez mais o interior da Floresta, a qual ia tornando-se mais densa. Após alguns instantes, chegaram a um vasto campo aberto, com uma cabana feita de palha no centro, além de uma outra há alguns metros de distância, com um cercado, um pasto e uma plantação.

– Estamos em casa. – garantiu o anfitrião.

Após todos desmontarem, Thapas conduziu as feras até o cercado. Fechou uma portinhola e uma fileira luminosa surgiu entre as madeiras.

Adentraram a moradia. Era um ambiente de um único cômodo, pequeno, com algumas janelas, uma mesa retangular de madeira com alguns bancos do mesmo material, prateleiras, também de madeira, presas nas paredes, repletas de frascos com líquidos de diversas cores.

No chão, que era feito de madeira, algumas caixas e caixotes; todos, também, de madeira.

– Ela está muito ferida. Precisamos fazer alguma coisa! – afirmou Tóro a respeito de Síva, ainda carregando-a no ombro.

– Vamos levá-la para baixo. – informou Thapas, aproximando-se de uma das paredes.

Pegou de sua cintura um pequeno saco e dele retirou um pó, jogando-o no chão. Um desenho retangular se configurou. O anfitrião abaixou-se e, pressionando a madeira, empurrou-a para baixo, revelando uma escada, pela qual desceu, sendo seguido pelos demais. Thapas colocou a “tampa” daquele buraco de volta no lugar.

Um novo ambiente, iluminado por candelabros, foi revelado. Um cômodo muito mais espaçoso que o anterior, com diversas prateleiras suspensas nas paredes e um comprido banco de madeira encostado em uma delas. Numa outra, uma passagem, pela qual Thapas conduziu seus convidados, adentrando em outro recinto, no qual havia uma cama larga, único móvel. Tóro deitou Síva.

O anfitrião foi para outro cômodo e de lá voltou com um frasco na mão, de onde retirou folhas secas e as colocou sobre as feridas da caçadora. Depois, voltou ao mesmo lugar e trouxe um outro frasco, despejando seu líquido numa caneca.

– Vá dando-lhe aos poucos. – disse para o bárbaro, entregando-lhe a caneca e apontando para a jovem. – Levará pouco tempo para se recuperar...

Thapas pegou no braço de Volano e de Valmiro e os levou para um outro recinto, com uma mesa comprida e bancos, de madeira. Pai e filho sentaram-se, enquanto o anfitrião pegava um refratário de barro que estava numa prateleira, colocando-o em cima da mesa.

Agora, com calma, o jovem bruxo pôde analisar melhor aquele homem. Era mais baixo que Síva. O que lhe faltava de altura, lhe sobrava de largura. Seus braços eram gordos e os dedos, muito pequenos. Quase não tinha pescoço e as bochechas pareciam apertar o seu arredondado nariz. Talvez por isso a sua voz soasse engraçada.

Suas sobrancelhas eram finas e seus olhos, pequenos, de cor caramelada. Os pouquíssimos fios de cabelo eram completamente brancos, mas o seu semblante não transparecia uma idade muito avançada. Para pegar coisas do alto das prateleiras, utilizava-se de um banquinho bastante baixo. O tamborete ia, através de magia, ganhando altura, elevando o anfitrião para próximo do teto.

– Creio que estejam com fome. Retire a tampa, garoto, e coma à vontade.

Valmiro, que já estava sentido-se zonzo tamanha era a sua fome, não se demorou. Retirou a tampa do refratário e colocou suas mãos dentro do recipiente, retirando alguns biscoitos recheados com mel.

– Que bom! Exatamente o que eu estava querendo comer!

Thapas voltou a tampar o refratário e fez menção para que Volano se servisse. O mago repetiu a ação do filho e retirou do pote um pedaço de bolo de madisca.

– Você conseguiu...! – afirmou o Mestre para Thapas, após olhar atentamente para o pedaço de bolo e prová-lo. – Você conseguiu o que todos achavam impossível!

Valmiro não entendia o que o pai estava falando, apenas devorava os biscoitos. Mais uma vez retirou a tampa do recipiente e de lá retirou um pedaço de carne assada. Foi quando começou a entender.

Volano olhava atentamente para o anfitrião. Decididamente, não envelhecera quase nada.

– Como você está fazendo isso? Como está se mantendo jovem?

Thapas deu um sorriso. Levantou-se e pegou de uma das prateleiras um frasco com um líquido.

– Com isto aqui, meu velho amigo. É seiva de uma árvore muito rara, só encontrada nas Montanhas Geladas. É claro que há outros ingredientes especiais que não revelo a ninguém!

O jovem bruxo olhava curioso ora para seu pai, ora para o anfitrião.

– Vocês se conhecem há muito tempo?

O Mestre olhou fixo para seu filho, com um leve sorriso.

– Muito tempo? Eu diria que há bastante tempo! Hoje, tenho sessenta e quatro anos de vida. Quando entrei na Academia de Candísio, tinha quatorze. Foi quando conheci Thapas, que já estava lá há mais de vinte anos!

Valmiro engasgou-se com a carne. Olhou espantado para o anfitrião. Fez os cálculos. Aquele homem deveria ter seus oitenta e cinco anos de idade, mas a sua aparência era de cinqüenta!

– Eu e seu pai fomos grandes amigos na Academia. Mas aí ele completou seus estudos e seguiu a vida. Poucas vezes depois voltamos a nos ver.

– Se tivesse concluído pelo menos seis das especializações que começou a fazer, Thapas seria mais poderoso que Zândrus o foi.

– Quantas especializações o senhor tem?

– Nenhuma. E todas. – respondeu. – Oficialmente ainda sou considerado um bruxo. Um bruxo da Transmutação e aprendiz de diversas outras especializações. Quando entrei para Candísio, já estava próximo de completar os estudos de Transmutação. Deveria continuar com essa especialização, mas havia tantas outras, cada uma mais formidável, apaixonante e interessante que a outra... Iniciava os estudos de uma e depois de algum tempo, abandonava, começando os estudos de uma outra.

– Thapas conhece um pouco de diversas áreas da magia, mas não é especialista em nenhuma delas.

– E essa Transmutação... o que é? – perguntava Valmiro, curioso.

O anfitrião deu um sorriso maroto. Levantou-se e seus olhos ficaram alaranjados. Seu corpo começou a mudar de forma. Foi ganhando pêlo e diminuindo mais ainda de tamanho. Transformara-se num pequeno e gracioso macaco, e pulou nos braços do jovem bruxo.

O rapaz sorria, admirado com aquela magia que nunca vira igual. De repente, o macaco deu um soluço e uma pequena asa surgiu em suas costas. Outro soluço e dentes de coelho apareceram em sua boca. Mais um soluço e uma das patas se transformou numa bota de couro.

Antes de outro soluço, o macaco pulou para o chão, fechou os olhos e pareceu esforçar-se, voltando à forma humana.

– Como eu dizia, Thapas conhece um pouco de diversas especializações, não dominando por completo o conhecimento de qualquer magia. – explicou Volano. – Foi exatamente isso o que eu quis dizer quando lhe falei para procurar conhecer todo o processo de um feitiço. Saber apenas um pouco não é o suficiente e pode até mesmo ser perigoso.

Thapas sentou-se em um banco.

– Enquanto muitos acabaram me esnobando e me deixando de lado, fazendo chacotas de mim, seu pai foi o único que continuou a ser meu amigo. Até mesmo aquele outro que vivia com você, o tal de Meliel, afastou-se de mim. Não completar uma especialização, ficar migrando de uma para outra, não é o que podemos chamar de honroso ou glorioso para um aspirante a mago. Mesmo assim, seu pai não se importava com o que os outros pensavam a meu respeito e continuou ao meu lado.

Valmiro olhava para o pai, orgulhoso em ouvir aquela história.

– Mas, o que o trás a essa região, meu velho amigo?

O Mestre observava o anfitrião. Deveria contar-lhe a verdade? Por quê não? Meliel seria totalmente contra, especialmente se tratando de Thapas, que sempre foi tido na Academia como um língua-solta, incapaz de guardar qualquer segredo. Volano via a situação de outro jeito. Sempre enxergou o amigo como uma pessoa de bom coração, disposto a ajudar qualquer um, ensinando todo tipo de encantamentos, além de truques que os tornasse mais simples, fáceis, consumindo menos energia. Era dessa forma que ele era um língua-solta; jamais negou informações desse tipo para quem quer que fosse.

Sim, confiava em Thapas, pois há muito tempo contara-lhe um segredo e sabia que nunca o revelara a ninguém.

– Estamos indo às Montanhas Geladas, atrás de Dragonesa.

O anfitrião, que estava comendo um pedaço de pão que acabara de retirar de dentro do refratário, ficou boquiaberto. Seus olhos começaram a lacrimejar.

– O que você quer com Dragonesa?

– Preciso... precisamos de seu coração... – respondeu-lhe Volano.

Thapas levantou-se bruscamente. Parecia indignado, chateado.

– Nunca pensei que logo você pudesse estar envolvido nisso! Eu aceitaria isso de qualquer outro, até daquele seu amigo, o Meliel, mas de você...!

– Do quê esta falando?

– Você vai atrás de Dragonesa para matá-la, não é isso?

O Mestre tremia os lábios, tentava balbuciar algo positivamente, mas Thapas o interrompeu de imediato.

– Não vou ajudá-lo nisso! Reconheço o que fez por mim no passado, mas jamais compactuarei com essa atrocidade! Retire-se imediatamente de minha casa! Você e seus amigos!

Volano olhava assustado para o amigo. Não compreendia o motivo daquela sua atitude. O anfitrião estava nervoso, andando de um lado para o outro, gritando para que o mago e os demais saíssem de sua cabana. O Mestre aproximou-se, mas Thapas o empurrou.

– Por que você está fazendo isso? Aonde quer chegar? Que mal elas te fizeram? – esbravejava.

Volano continuava sem entender as palavras do amigo. Criou duas esferas violetas em suas mãos e as arremessou na direção de Thapas, prendendo-o na parede. Aproximou-se.

– Agora, com calma, me explique o que você está dizendo...

Thapas fixava seus olhos nos do mago. O conhecia há muito tempo. Sabia da sua integridade, da sua moral.

– Você... você tem ordenado a matança das Criaturas Místicas? – perguntou, incerto quanto à positividade da resposta.

– Não...! Você sabe que não! Jamais faria isso! – retrucou. – O que você sabe a respeito? – desfez as esferas.

– Há algum tempo, “algo” começou a matar as Criaturas Místicas. – pai e filho escutavam atentos. – Viajei por algumas áreas de Fesgra, atrás dos corpos dessas Criaturas. Verifiquei que em todos faltava o coração.

Volano arregalou os olhos. Sua respiração acelerara. Thapas continuou.

– Há algumas semanas, encontrei uma pista do que poderia estar matando as Criaturas. Continuei com a minha investigação até que um dia pude presenciar esse “algo” agindo. Não era um predador ou uma fera. Esse “algo” parecia que continuaria caçando outras Criaturas. Voltei à minha cabana e peguei meus peludinhos...

– Peludinhos?

– Sim, meu amigo, peludinhos. São aquelas criaturas lá fora que atacaram vocês na Floresta. Eu os achei há muito tempo, abandonados, e os criei. Você sabe que gosto muito disso... Descobri que são dóceis durante o dia, mas verdadeiras feras à noite, quando precisam sair para caçar e se alimentar. Desenvolvi aquela esfera esverdeada, a qual os controla, como você mesmo viu.

– Tudo bem... mas o que você fez com esses peludinhos? – o mago parecia impaciente.

– Os levei e segui esse “algo” até a Floresta Petrificada, já bem próximo de sua cabana. Chegamos tarde. A Mantícora fora morta e seu coração, arrancado. Ordenei aos meus peludinhos que atacassem...

– O quê? O quê os peludinhos atacaram? O quê estava matando as Criaturas Místicas?

– Homens... homens que portavam Armas de Zilon... Um deles conseguiu escapar, bastante ferido, mas os outros...

Volano parecia ter murchado. Entendera bem o que Thapas lhe falara? O amigo estava correto? Se sim, os fatos se complicavam. O Mestre sabia o que toda Fesgra sabe: apenas guerreiros a serviço do rei de Dilames portam as Armas de Zilon. Assim sendo, aqueles homens talvez fossem soldados dilamésios, cumprindo alguma missão ordenada pelo próprio Endoro.

Qual o interesse que o monarca tinha em matar as Criaturas Místicas? Thapas informara que arrancavam seus corações. Volano sabia que o coração de uma Criatura Mística podia proteger alguém de um ataque de demônios. Mas, além dele, quem mais sabia disso? Síva e Tóro ficaram sabendo há pouco tempo, quando ele mesmo lhes contou. Até onde saiba, nem Meliel sabe! Portanto, o rei dilamésio não teria como saber.

Então, para que Endoro iria querer tantos corações? Uma lembrança rapidamente povoou a mente do mago.

– O que está acontecendo, meu amigo?

Volano decidiu contar toda a história para Thapas, inclusive revelando a característica mágica dos corações.

– A única Criatura Mística que ainda vive, esperamos, é Dragonesa. Precisamos de seu coração para nos proteger. Com o amuleto, posso conservá-lo por um longo tempo. – continuava com a explicação.

O anfitrião olhava admirado e espantado para o artefato que o amigo tirara de sua pequena bolsa e lhe mostrara.

– Eu já vi esse objeto... Mas onde? – Thapas esforçava-se para recordar. – Lembrei! Encontrei com um contrabandista há alguns anos. Havia sofrido um ataque de garranosos. Dei-lhe abrigo, comida e curei suas feridas. Portava uma sacola repleta desses amuletos. Dei-lhe uma erva para ficar um tanto sonolento e perguntei-lhe sobre os objetos. Disse-me que contratou alguém para roubá-los da...

– ... da Academia de Candísio. É o único local em toda Fesgra onde se pode encontrar esses objetos. Quando Zândrus os fabricou, o fez numa quantidade limitada e deixou nessa academia de magia. Nunca mais foram usados e, portanto, nunca se precisou fazer mais. No entanto, apenas feiticeiros de Mundo das Trevas têm o direito de adquirir um único artefato desses. – explicou Volano. – O contrabandista contratou alguém para roubá-los... E quem contratou esse contrabandista?

– Não sei. Mas sei que ele seguiu rumo ao Muntal.

– Quando isso ocorreu?

– Alguns meses antes da primeira notícia que tive de que “algo” havia matado uma Criatura Mística.

Uma grande quantidade de corações de Criaturas Místicas e de amuletos para conservá-los. Essa nova informação de Thapas confirmava as suspeitas que o Mestre estava tendo. Não lhe restavam dúvidas: Endoro era o responsável pela soltura do Guardião, assim como da morte de várias Criaturas Místicas. O mago tremia só em pensar aonde o dilamésio queria chegar com aquelas ações.

– Meu filho, veja se Síva já está melhor. Precisamos partir o mais rápido possível! Agora, mais do que nunca, o tempo está contra nós!

– Há quanto tempo conhece essa caçadora? – perguntou Thapas.

– Há apenas dois dias. Por quê?

– Ela é uma ladra! – sussurrou.

– É mesmo? – ironizou o mago. – O que o levou a essa conclusão?

– Porque, uma vez, a salvei do ataque de alguns garranosos aqui próximo. Trouxe-a para casa para cuidar de seus ferimentos. Comeu da minha comida, bebeu da minha água, dormiu na minha cama, teve a minha proteção, e teve a coragem de roubar-me! Umas armas que eu consegui, com muito custo, desenvolver.

– Seria um bracelete que atira flechas, um outro que cria um escudo, umas estrelas cortantes...

– Isso mesmo! Além daquela capa de camuflagem e um saco mágico para guardar umas coisinhas...! Ela perdera as próprias armas quando enfrentou os garranosos...

– Um momento. Os garranosos vivem nas montanhas. O que eles estavam fazendo aqui na Floresta?

– Ela tinha roubado alguma coisa deles, aí seguiram-na até aqui perto. Foi quando a salvei... Maldito dia... devia tê-la deixado virar comida deles!

Volano curvou-se, aproximando-se dos ouvidos do amigo.

– Duvido que você fosse capaz de fazer isso, até mesmo com um inimigo seu... A propósito... o que aconteceu com as Armas de Zilon? Quando seus... peludinhos... atacaram aqueles homens na Floresta Petrificada... o que você fez com as Armas?

– Peguei-as e trouxe para cá. Estão seguras. Só uma que eu não consegui... uma espada. O homem que escapou a portava. Não sei se ele foi muito longe, porque meus peludinhos o feriram bastante...

– E o coração da Mantícora?

– Não vi. Só sei que foi arrancado do interior de seu corpo...

Valmiro retornou.

– Ela está um pouco melhor, mas ainda precisa descansar.

– Não podemos esperar. Teremos de ir sem ela. Chame Tóro... – ordenou seu pai.

– O quê?! Você não está pensando em sair e deixar aquela ladrazinha aqui comigo, está?

– Desculpe, meu amigo, mas não tenho outra alternativa. Sei que cuidará bem dela. Voltaremos para buscá-la. E as Armas também.

– Mas..., mas..., m... Está bem... Mas até as Montanhas Geladas é um longo caminho...

– Por isso mesmo que precisamos sair imediatamente, meu amigo.

– Acompanhem-me. – ordenou Thapas, dirigindo-se a outro recinto.

No chão, voltou a utilizar aquele pó mágico. Pressionou a parte que ficara marcada com o pó e um buraco surgiu. Dentro, uma outra escada, bem mais comprida que a primeira, pela qual o grupo desceu.

Levaram quase um minuto para chegar ao solo. Estava tudo escuro. Thapas começou a assobiar. Tóro sentiu alguma coisa se aproximando. O anfitrião continuava com seu assobio. Um ronco foi ouvido. Alguma coisa parecia se rastejar em direção ao grupo. Valmiro tentava usar a sua visão de águia, mas o ambiente não tinha qualquer luminosidade.

– Seja lá o que for, está há apenas alguns passos à nossa frente. – garantiu o xetriquênio.

Thapas retirou de seu bolso algumas pedras minúsculas. Esfregou-as nas mãos e começaram a brilhar. Quanto mais as esfregava, maior era a intensidade do brilho. À medida que a luz ia aumentando o grupo podia olhar em volta. Estavam em uma espécie de um gigantesco e largo túnel, bastante úmido. À sua frente, um ser escamoso, com formato cilíndrico, que parecia se estender por mais de vinte metros de comprimento. Não possuía olhos, nem boca, muito menos membros.

– É minha Dinfa, uma espécie rara de minhoca que cresceu um pouco mais que o normal... Claro que eu ajudei nisso... – sorria com o próprio comentário. – Ela os levará às Montanhas Geladas pelos corredores que fez debaixo da terra. Basta esfregar alguma coisa em sua pele para que possa sentir o ambiente ao qual deverá ir. Ela não precisa de luz, mas vocês, sim. Levem essas pedrinhas luminosas. Ah! Já ia me esquecendo: assobiem calmamente para controlá-la.

Tóro segurou-se na escama da criatura e escalou, até alcançar o seu dorso. Valmiro e Volano usaram telecinese para montar em Dinfa. O mago estendeu a mão e seus olhos ficaram azuis. Pequenos ventos se formaram na palma da mão e, mesclando-se com a umidade do ar, foram configurando-se em neve. O Mestre jogou-a na pele da minhoca, a qual começou a se mexer e, rastejando-se, fez uma volta, seguindo em frente e sumindo na escuridão do túnel.

Thapas, em meio à completa escuridão, depois de algum tempo e de alguns tropeços e topadas, encontrou a escada, retornando à sua cabana.

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