Brigadeiro a Flores - Cap. 4: Primeiro dia

Aulas ricas em discussões, turmas unidas e empáticas, reflexões filosóficas no café, risos e torcidas nas quadras, aprendizado nota mil das disciplinas, festas... Essa era a vida que Erva, sua família e amigos próximos do interior imaginavam de um universitário da John Safra, mas a realidade foi totalmente diferente, e Erva aprendeu logo na primeira semana.

"[...] Queremos que vocês sejam os melhores, assim como somos a melhor universidade! Conte conosco!!" Todos os alunos bateram fortes palmas para o reitor no anfiteatro principal - enooorme, cabia mais de 1000 pessoas -, principalmente os calouros, Erva se incluía. O rosto chegou a doer de tanto que sorria desde que entrou no hall do prédio - uma administração com um lustre enooorme, e atendentes super educadas, com joias delicadas, roupas hiper passadas, e que direcionavam os pais e calouros para uma mesa farta de bebidas e comidas. Erva colocou um pouco na bolsa para a família experimentar.

O entusiasmo de caloura era tanto, toda encantada e surpresa com esse novo mundo, que quase não ouviu quando chamaram seu nome para assinar a matrícula.

"Erva Dana Vieira Silva!". Chamou a secretária, alguns alunos se entreolharam e outros olharam ao redor. "Erva Dana Vieira Silva". Chamou mais uma vez. Erva estava entretida com a pirâmide de donuts, mas, como se a Terra estivesse a chamando do paraíso, ela ouviu seu nome lá de fundo, tentou ignorar, mas despertou. "Última chance. Vieira Silva! Erva Dana Vieira Silva".

"Eu!" Gritou e levantou a mão. Todos a olharam.

"Com esse nome, até eu fingiria que não era comigo". Uma das meninas comentou com outra e as duas riram. Erva as olhou de cima para baixo e de baixo para cima, então as ignorou.

"Desculpe, eu..."

"Se não tivesse vindo, iria logo te excluir da lista". Disse a secretária rispidamente. "Confira seus dados e assine aqui".

Erva engoliu em seco. Essa secretária não era tão amigável como o reitor disse no "conte conosco". Conferiu o nome e assinou.

"Mariana!", a secretária chamou uma menina loira, olhos azuis, vestida impecavelmente com o uniforme da universidade. "Mariana, esta é Erva", a menina fraziu a testa, Erva já esperava por isso, então ignorou., "Erva, esta é Mariana, sua monitora. Ela irá te apresentar tudo nesta primeira semana. Mariana é sua veterana no curso de direito, está no terceiro ano."

"Prazer!" Disse Erva estendendo a mão. Mariana deu um sorrisinho.

"Vamos! Me siga". Disse a menina com um voz fina.

"Pedro Henrique Albuquerque? Prazer, seja bem-vindo a nossa escola", antes de sair, Erva viu a mesma secretária que lhe atendera ser super amigável com o tal de Pedro e os pais dele.

Estranho? Não, tira isso da sua cabeça Erva, essa escola é incrível. Pensou enquanto caminhava atrás de Mariana.

"Uau, quanta coisa!" Exclamou para a monitora quando esta lhe entregou a grade curricular.

"Acredito que não seja nada de mais para quem deve ter estudado horrores para conseguir a bolsa de estudos". Mariana falou em tom de deboche no fim.

"Desculpa, o quê?" Erva perguntou sem entender.

"Ah, fala sério! Está explícito que você não é dessa área, né?" Mariana continuou e Erva entendeu a garota. "Primeiro, sem uniforme. Você deve ter ficado tão deslumbrada com a estrutura da escola, que nunca deve ter visto na sua vida, que nem percebeu que todos estão uniformizados." Erva franziu a testa e começou a olhar ao redor. Realmente ela não percebera, mas todos os alunos estavam uniformizados, não tinha uma pessoa com roupa casual. "Segundo, a contar pelo tanto de comida que colocou na sua bolsa, sua família nunca deve ter chego perto de um profiteroles". Erva arregalou os olhos. Eles viram eu pegando. Apertou a bolsa contra o corpo. "Terceiro, Vieira Silva? Quem do nosso mundo possui esse sobrenome? Para variar ainda se chama Erva Dana. Aff!" Mariana revirou os olhos e começou a andar, sem que Erva tivesse tempo de responder, se ela fosse responder, pois ficou tão chocada com as falas da garota, que travou um pouco para raciocinar. "Vem logo, quero terminar de te explicar tudo. Não que você precise saber, já que não vai durar muito nesta universidade. Mas vamos lá, né?".

Erva voltou para casa chorando. Tirando o discurso do reitor, a garota do interior percebeu que todos, sem exceção, eram super ricos. Quando pesquisou sobre a universidade, ela já sabia que teria de lidar com pessoas ricas, mas não imaginava, em sua pouca percepção de vida, que seriam ricos cuja conta bancária ela cansaria a mão de tanto escrever zeros.

Após Mariana te dizer várias coisas, ela passou a reparar em todos ao redor: relógio de marca, uniformes impecáveis, alguns feitos sob medida no mais renomado ateliê da cidade, notebook, iPad, iPhone, joias... E quando os alunos de sua turma se reuniram em uma sala para apresentação, todos falaram sobre viagens internacionais que fizeram em Dezembro e Janeiro, enquanto Erva só disse que ficou procurando casa para morar com a família, já que estava vindo do interior. Ela nunca tinha se sentido tão fora de seu mundo como se sentiu naquele primeiro dia.

Em casa, enxugou as lágrimas ao ver a mãe costurando. "Oi, meu amor. Estava aqui terminando esta peça. O dono me pagou adiantado, então comprei uns pãezinhos para a gente comer quando você chegasse. Vamos comemorar seu primeiro dia". Erva sorriu. Por você mãe, eu irei aguentar esse mundo que não gostei de cara. Se disserem algo, eu irei agir como sempre ajo!! Vou me impor.

No dia seguinte, Erva foi decidida a brigar se alguém lhe falasse alguma coisa rude. Mas, nos primeiros minutos da primeira aula, quando uma menina lhe olhou dos pés a cabeça por ela não estar de uniforme novamente e Erva foi em sua direção, todos pararam após uma sirene. Eles se entreolharam e então apareceu um veterano.

"Todos para o pátio central, agoooora!!"

"Mas o professor..." Disse um calouro.

"Todos para o pátio, novato!! O professor sabe o que é quando a sirene toca, A GO RA... TODOS PARA O PÁTIO CENTRAAAAAL!!"

Ele saiu correndo pelo corredor e todos os alunos o seguiram.