Brigadeiro a flores - Cap. 5: Sirene

Oooouuuiiiiii!!!! Ooouuuuuiiiii!!!!

A sirene tocava loucamente, e os alunos chegavam rápido ao pátio central.

"Será que é trote?"

"Eu acho que não!"

"Então o que é?"

Erva ouvia os murmúrios entre os calouros que, assim como ela, não imaginavam o que estava acontecendo.

"Eu não sei, mas..."

"Me solte! Me solte!! Por favor..."

De repente apareceu um menino no andar debaixo sendo empurrado por outros garotos. Ele parecia machucado, escorrendo sangue pelo rosto. Erva levou um susto e ficou sem entender. O que está acontecendo?

"Pare com isso!" O garoto machucado gritava porque os meninos que o empurrara, começaram a rasgar, quebrar, cortar tudo o que estava em uma mochila e a própria mochila, que provavelmente era do garoto machucado.

Erva percebeu que as pessoas lá embaixo, ao redor daquela violência que acontecia, davam risadas, vaiavam, usavam apitos, faziam uma algazarra, como se tudo aquilo fosse uma brincadeira.

No andar de cima, ao seu redor, só tinham novatos, alguns sorriam, pois pareciam entender o que estava acontecendo, outros estavam boquiabertos com a situação.

"Você ganhou a tarja vermelha, você acha que vai sair impune?" Um dos meninos que acabara de picotar um caderno gritou.

"Esse material furreca, você não vai precisar mais dessas coisas, já que vai sair daqui". Um outro do mesmo time dos agressores comentou.

"Eu não vou embora!" Gritou o menino machucado. Erva sentiu em sua voz uma mistura de raiva e choro, o que fez com que ela fechasse a mão de raiva. Se for brincadeira ou não, isso não está legal!

Os outros garotos gargalharam. "Até parece que não irá! Nunca alguém ficou!! Você tem certeza que irá nos desafiar?"

"Desafiar o F4?" Um outro garoto completou.

"Toca fogo nessas coisas" Alguém gritou na multidão! Mas antes que um dos meninos incendiasse o resto da mochila com o isqueiro que acendeu, mais murmúrios, gritinhos de alegria, suspiros, tomaram o pátio e todos viraram a cabeça para olhar na mesma direção: 4 garotos, bem arrumados, não uniformizados, se aproximavam do centro do pátio.

Erva reparou em casa um deles. Um era loiro de cabelos na altura do pescoço, ele estava com uma bermuda colorida que chamava atenção, mais que o colar dourado e o brinco brilhante em apenas uma orelha. Um outro era ruivo e usava um óculos estiloso, que qualquer um poderia jurar que nem de grau era. O terceiro era muito branco, parecia meio pálido, com os cabelos castanhos caídos pelo rosto, ele era o mais comportado nas vestimentas. Já o último, parecia ser o que mais queria aparecer, com jaqueta de couro, corrente prateada, brinco e um cabelo enrolado que parecia ter saído do cabelereiro agora, sem contar 1/4 do cabelo dele pintado de cinza.

"F4! Aaaaah"

"Lindoooo!!!"

"F4!!!"

Após a gritaria, o garoto de cabelo enrolado levantou a mão e todos ficaram em silêncio.

"Você disse que não vai embora?" Disse ele calmamente, e Erva percebeu a frieza em sua voz. "Me parece corajoso!"

Quem esse cara pensa que é para falar assim?

"Talvez você precise de mais demonstrações do que te aguarda nos próximos dias se você continuar aqui!" O silêncio perdurava.

Erva percebeu que o loiro e o ruivo sorriam maliciosamente enquanto o enrolado falava, o que sobrou, o pálido, estava sério, ele olhava para cima, como se estivesse conhecendo os novatos.

"Eu não fiz nada, Bernar - ugh" Um do garotos anteriores chutou o menino no chão. Erva fechou ainda mais a mão.

"Como se atreve a chamá-lo pelo nome!!"

"Chegou até mim que você estava conspirando contra nós 4". O enrolado voltou a falar. "Que iria divulgar coisas que fazemos aqui dentro, que você acha ilegal, para as mídias lá fora".

"Eu..." O menino machucado tentou argumentar, mas foi interrompido por um soco na boca que o garoto de cabelo enrolado lhe deu.

Erva não aguentou e deu um passo para frente.

"Para!"

Mas uma pessoa no meio da multidão gritou e avançou antes dela.

"Uhuuulll! Temos alguém corajoso aqui dentro!"

"Bernardo, ele é novato! Melho..." O loiro começou.

"Novato ou não, ganhou minha atenção por alguns minutos." Bernardo interrompeu.

Um garoto todo trêmulo se pôs à frente da multidão para impedir que o garoto de cabelo enrolado - que agora Erva sabia que se chamava Bernardo - fizesse mais violência.

"Para o quê, novato? O que você vai fazer se eu continu..." Bernardo socou novamente o garoto no chão e continuou enquanto falava. "...ar... fazen...do isso!" O último golpe foi um chute. E então Bernardo virou um soco na cara do novato, que caiu no chão.

Erva sentiu uma tensão, ela travou. Todos ao seu redor pareceram ter a mesma reação. Alguns davam risada, principalmente o pessoal do andar debaixo, onde tudo estava acontecendo. Eles pareciam gostar e estarem acostumados com aquilo.

"Um aviso" O ruivo falou, chamando a atenção de todos. "Sei que hoje é o segundo dia de aula de alguns aqui, por isso, nos ajude a te ajudar e procure saber sobre sua posição aqui. Não queremos que você já saia sem antes conhecer a faculdade como um todo". Ele riu e os outros o acompanharam, menos o pálido.

"Vamos! Tenho que lavar minha mão por tocar em lixo". Bernardo disse em tom de nojo.

Os veteranos foram dispersando o pessoal. Alguns pegaram os dois que sofreram violência e saíram do pátio os carregando. Erva ouviu uma pessoa dizendo para levá-los à enfermaria.

As aulas ocorreram normalmente após o episódio. Todos queriam perguntar algo para os professores, comentar com alguém sobre, mas permaneceram em silêncio. Na hora no almoço, Erva sentou em um cantinho para comer a marmita que a mãe preparara. Ela ainda estava sem entender o que rolou de manhã. Foi então que deixaram um papel ao seu lado. Uma garota que parecia mais velha estava espalhando panfletos entre os novatos.

"Há coisas que você, novato, precisa saber. Extra regras padrões universitárias. Encontro hoje, às 16h, no ginásio menor - só novatos".

Erva achou estranho e ouviu alguns comentários se aquilo seria uma trote - alguns só pensavam nisso e em festas. Pensou primeiramente em não ir, mas depois mudou de ideia, trote ou não, ela precisava saber o que estava acontecendo ali, e talvez esse encontro trouxesse respostas para o episódio que ocorreu de manhã.