Brigadeiro a Flores - Cap. 40: Decisão

"Senhorita Assumpção, eu acho que é melhor eu ir embora". Erva disse com medo de encontrar Bernardo, após os seguranças a colocarem sentada em uma poltrona no hall da casa.

"Não enquanto não limparmos esse machucado! Vou chamar uma empregada. Fique aqui um momento." Ela disse e adentrou por um corredor.

Eu preciso sair daqui antes que o Bernardo me veja. Ele deve estar se divertindo com a Gabriela. Me dói muito, não quero ver eles juntos. Sem contar que ainda me lembro do olhar de dor, raiva e decepção dele. Não quero mais ver isso.

"Aí Be, você é muito incrível!" Erva ouviu a voz de Gabriela.

Droga! Eles estão se aproximando daqui! Ela olhou para o lados e mancando foi pelo mesmo corredor que Rebecca antes, entrou na primeira porta que viu para se esconder: era uma sala de jogos.

Bernardo havia se encontrado sem intenção com Gabriela no jockey. Ele foi assistir um jogo de um conhecido para poder se distrair e a menina não desgrudou dele. Ele tentou mandá-la embora educadamente, mas ela insistia em continuar. No fim, acabou aceitando terminar de ver o jogo com ela e ela se demonstrou ser uma garota que entendia do jogo, e aproveitou para se declarar para ele.

Como forma de se desculpar por ter sido rude na infância e com a tarja com ela, Bernardo a convidou para tomar um café na casa dele, o que ela aceitou rapidamente.

O café foi até prazeroso, eles falaram da infância, ela falou das experiências fora do país, ele comentou sobre Finanças e assim finalizaram, quando ele a acompanhou até o hall de sua casa.

"Aí Be, você é muito incrível!"

"Eu sei! Agora se precisar de ajuda, aparece na monitoria de Economias da América do Sul."

"Com certeza! Mas você já me deu uma aula hoje com a nossa conversa!" Ela se aproximou para beijá-lo e ele a afastou.

"O dia de hoje não mudou minha opinião afetiva, Gabriela!" Ele disse sério.

"Tudo bem". Ela disse sem graça. "Um dia..."

"Se for para entrar nesses assuntos nunca conversaremos de novo".

"Ok ok, me desculpe! Amigos apenas!" Ela disse sorrindo.

"Colegas de faculdade". Ele falou e ela sorriu.

Após Gabriela ir embora, Bernardo percebeu sangue no chão perto de uma poltrona no hall. Ele viu que o sangue seguia uma trilha e silenciosamente seguiu. Está na sala de jogos? Ele se preparou e abriu a porta rapidamente. Arregalando os olhos ao ver Erva sentada no chão encostada em uma cadeira. "Você?!"

Erva se assustou ao ver Bernardo na porta. Droga!

"O que você faz aqui?"

"Bernardo, eu..."

"Eu disse que não queria mais saber de você!"

"Mas eu não vim por você!" Erva falou nervosa e alto. Ela estava aflita por o ver mas também com uma dor no joelho que não parava de sangrar, e no peito, que não sabia explicar, mas sentia por saber dele com Gabriela.

"Aaah não? Você entrou aqui achando que era um abrigo?"

"Não seja estúpido! Sua irmã quem me trouxe!" Erva disse e Bernardo enrugou a testa. "Eu sai da casa do Benício e estava indo embora, mas um car..."

"Você tem coragem de vir até a minha casa após sair da casa do seu namorado?" Bernardo cortou Erva, esbravejando.

Droga! Erva pensou.

"Você se acha muito boa mesmo, não é? Quer tanto assim ficar com alguém rico que fica pulando de casa em casa no Alphaville? Você acha que pode brincar com os outros?" Bernardo começou a avançar para cima de Erva.

"Do que você está falando? Eu nunca..."

"Eu cansei dessa brincadeira, garota! Você vai sair desta casa AGORA..." Ploft! Bernardo levou uma rasteira e caiu no chão!

"Quem você pensa que é para tirar desta casa alguém que eu convidei, seu fedelho!" Rebecca havia passado a perna no irmão. Bernardo a olhou sem entender e irritado. "Não foi assim que te ensinei a tratar as pessoas, ainda mais alguém machucada!"

Erva ficou chocada com a atitude da irmã do garoto. Bernardo olhou mais para Erva e viu seu joelho. Ele estava com tanta raiva antes que nem reparou em seu machucado. Disfarçou a preocupação, se levantando e indo sair da sala. "Se é sua responsabilidade, espero que a mande embora logo, ela não é bem-vinda aqui!"

"Não é bem-vinda?" Rebecca questionou, mas Bernardo já havia saído. Ela então olhou para Erva.

"Desculpe, senhorita Assumpção, eu devia ter falado que conheço o seu irmão." Erva disse cabisbaixa.

"Huum isso explica porque você queria ir embora rápido." Erva sorriu sem mostrar os dentes. "Não se preocupe. Venha, vamos ao banheiro, minha empregada está lá te esperando para tomar um banho e fazer um curativo nisso. Espero que não tenha sido um corte profundo, senão vamos ter que chamar o médico para dar pontos."

"O quê? Não, por favor!"

"Está sangrando demais, não é só um esfolado!"

Rebecca levou Erva ao banheiro, onde, mesmo contra sua vontade mas sem conseguir dizer não, ela aceitou tomar um banho e fez curativo. Não era algo profundo, mas o esfolado levou um tempo para parar de sangrar. Após isso, a irmã de Bernardo a convidou para jantar. Erva (obrigada pela insistência) aceitou.

"Então, vamos beber?"

"Aaah não, obrigada!"

"Não adianta, esse peixe só fica bom com esse vinho. Bebe!" Ela encheu a taça de Erva.

As duas conversaram sobre várias coisas. Rebecca era muito comunicativa e tinha conhecimento de todo tipo de cultura. Elas beberam sozinhas uma garrafa e depois, Rebecca pediu mais uma ao empregado.

"Eu não quero mais, obrigada!"

"Só mais essa! Nossa conversa está tão boa!"

"Eu preciso ir para casa!"

"Não seja por isso, avise sua família. Durma aqui. Amanhã você vai!"

"Eu tenho aula amanhã".

"O motorista te deixa".

"Minhas coisas, uniforme, material".

"Uniforme a gente arruma, material complica. Mas o motorista passa na sua casa amanhã e depois te leva para faculdade, o que acha?" Rebecca era muito persuasiva e Erva percebeu de quem Bernardo puxou o gênio, a pergunta do que ela achava era só por educação. "Vou avisar minha mãe." Erva sorriu sem mostrar os dentes.

No fim da segunda garrafa, Erva já não pensava antes de falar e ria de tudo.

"Mas Diário de uma Paixão é incrível!"

"Sim, chorei muito, mas é incrível!" Erva disse sorrindo.

"Em filmes e livros os amores são perfeitos!"

"Sim, só em filmes e livros, na vida real, a gente só se machuca, não entende o que sente, pensa uma coisa, mas quando vive quer outra!! Aiai. Por que é tão difícil o coração, né?"

"Nós que complicamos! Ou nós ou outras pessoas!"

"No meu caso fui eu mesma. Eu sou tão idiota, Becca."

"Por que diz isso?"

"Eu machuquei o Bernardo, devia ter sido mais transparente como ele é. Para ele parece ser tão fácil, apesar de às vezes entender tudo errado. Mas eu preciso aprender ser mais sincera com o que sinto, sem medos, sem SE, sabe?" Erva bocejou. "Desculpa, estou falando demais!"

"Não se preocupe. Eu sei o quanto ele é difícil. Eu não sei o que vocês tiveram, mas meu irmão às vezes é tão estúpido, impulsivo, intenso, que pode acabar afastando quem ama. Mas no fundo, ele é um cara sensível, não gosta de ficar sozinho, protege quem gosta, aprecia os amigos e a família."

"Sim". Erva concordou balançando a cabeça positivamente, e deixou cair a cabeça para o lado. "Ele é legal às vezes". Ela sorriu e fechou os olhos, dormindo.

"Legal!? Aiai, você parece ser uma boa garota, pequena Erva!" Rebecca sorriu.

Na faculdade, Erva percebeu que as pessoas ainda a olhavam estranho, mas não se importou. No almoço, viu Benício sentado sozinho na praça de Finanças, a caminho para a praça de alimentação. Será que ele está sofrendo com a separação? Ele disse que não tinha amigos a não ser os meninos. Me sinto mal por ser a causadora disso tudo. Eu devia fazer algo.

"Oii!"

"Ah, oi! Você está bem?"

"Sim, sim! E você?"

"Também!"

"Huuum sabe..."

"Desculpa por ontem." Benício falou mais rápido. "Eu acabei dormindo e nem fui te deixar em casa."

"Ah, tudo bem. Eu também não quis te acordar."

"Não precisa ter problema com isso. Eu estava muito cansado".

"Tudo bem!"

"Huum você ficou bem com o encontro de ontem?" Benício perguntou meio sem jeito.

"Aah, bom..." Fui pega de surpresa. Como dizer tudo o que senti ontem?

"Você acha que a gente dá certo mesmo como casal?" Benício foi direto e olhou para Erva que ficou sem palavras. "Quer dizer, eu gosto de você Erva, somos amigos há um tempo, mas Carlos e Fagundes me disseram uma coisa que me fez pensar muito sobre a gente. Não quero te usar para esquecer a Sophie."

"Ah..." Erva desviou o olhar. "Eu entendo".

"Ontem, eu pensei muito sobre o nosso encontro quando acordei. Não sei se estava à vontade."

"Huuum acho que não estava tão à vontade assim. Quer dizer... eu gostei de você desde que te vi, sabe? Mas ultimamente me sinto confusa. E quando saímos de verdade, não como amigos, me senti nervosa, como se eu tivesse que pensar bem nas minhas ações e palavras para com você. Tinha receio de dizer algo tosco".

Benício riu. "Algo tosco? Por quê?"

"Não sei!" Erva sorriu sem graça. "Meio idiota, né? Mas... não sinto que fui natural contigo."

"Eu entendo."

"É diferente de..." Erva parou de falar. Quase falei dele.

"Do quê?"

"Não, nada, falei errado." Ela respeirou fundo.

"Eu não quero te deixar, tudo bem? Eu gosto de você e estarei sempre próximo. Mas, no momento, talvez seja melhor a gente ser apenas amigos. Concorda?"

Por que me sinto aliviada ao ouvir isso? "Sim, concordo!"

Benício pegou na mão de Erva e ela sorriu. Ele então a puxou e lhe deu um beijo na testa, depois sorriu para ela e ela retribuiu.

No parapeito do prédio se economia dava para ver a praça onde Benício e Erva estavam. Bernardo estava lá. Os dois não perceberam, mas o garoto de cabelos enrolados, que não ouviu a conversa, dado a distância, viu eles próximos, Benício pegando a mão de Erva, a beijando e os dois sorrindo. Ele ficou com raiva e foi embora para casa.

"Irmã!" Bernardo disse assim que chegou.

"Aaah oi! Você não iria..."

"Quando você volta para Nova Iorque?" O garoto perguntou sério.

"Oras, por que quer saber? Eu fico o tempo..."

"Não é isso! Eu irei com você!" Ele disse olhando pela janela, pensando na cena que viu de Erva e Benício juntos. "A mãe e o pai falaram para eu fazer o mestrado lá, pensei em ir antes. Estou terminando mesmo a faculdade, posso fazer umas disciplinas lá e contabilizar aqui. A Jhon não vai se importar e já consigo focar nos negócios da companhia."

Rebecca franziu a testa. "Isso é uma decisão impulsiva ou pensada?"

"Só assina os documentos, ok? Eles enviarão ao seu e-mail. Eu já providenciei tudo!" Ele disse decidido e saiu para o quarto. Eu não consigo assistir aquela cena sempre. Eu sei que estou sendo idiota, mas ela mexe muito comigo. Fiquei muito preocupado ao vê-la machucada. Fico sempre ansioso, achando que irei vê-la na faculdade. Não imaginaria que esse sentimento seria tão forte. Preciso me afastar para esquecê-la. Ele pensou com uma dor dentro de si, deixando derramar algumas lágrimas enquanto tomava banho.

Erva chegou em casa depois do trabalho e encontrou sua mãe chorando e o irmão a consolando.

"O que houve?" Disse preocupada.

"Nossa casa no interior foi pega por uma enchente!" Abner explicou.

"Minha nossa!"

"A família que alugava perdeu tudo. Eles irão se mudar para se reconstruir e nós não podemos alugar lá até ajeitar tudo pós-enchente."

"E a gente contava com esse dinheiro para alugar aqui. Agora não sei como iremos fazer."

Merda! "Eu vou dar um jeito mãe, vou ver se encontro mais um emprego!"

"Eu também vou trabalhar!" Abner disse.

"Você é menor ainda. Vai ser difícil conseguir algo."

"Vou tentar o shopping!"

"E a escola e o futebol?".

"Não me importo com o futebol se a gente está com dificuldades."

"Você estuda à tarde, Abner! É difícil conseguir escola de manhã."

"Eu largo a escola por um tempo." Erva olhou feio para o irmão. "Tá! Mas eu quero ajudar!"

"Eu sei, mas precisamos pensar direito antes de sair largando tudo. Me deixa pensar primeiro. Vai ficar tudo bem, mãe!"

Precisa ficar!